A coisa com comprar feitiços é que eles nem sempre podem ser comprados com dinheiro. É um daqueles delicados artesanatos que lentamente se desintegram em extinção conforme os anos, a arte de fazer feitiços morrendo junto. Hoje em dia, os únicos feitiços deixados por aí são aqueles que vêm acumulando poeira há anos, seus donos ou não dispostos a dá-los ou muito astutos para vendê-los barato.
Quando Vernon sobe no carro de seu pai depois de uma boa noite de sono em um sofá confortável (ele se recusou a expulsar o Sr. Chwe para fora de sua cama e, em vez disso, foi para a sala, observando as faíscas e mechas brilhantes dançando preguiçosamente ao redor do o teto até dormir), ele se vê ficando cada vez mais nervoso enquanto seu pai o leva por estradas pavimentadas com depósitos minerais de prata e ouro que parecem com veias humanas. No momento em que ele estaciona no canto da rua, as mãos de Vernon estão se fechando em punhos nervosos, garras perfurando os joelhos entre os jeans, e ele até acha que está começando a hiperventilar.
"Merda, pai," ele murmura, "eu não acho que consigo fazer isso."
Seu pai solta uma risada suave, estendendo a mão para fazê-lo um cafuné de maneira leve. Ele obviamente não é quente, mas a pressão em seu cabelo ainda dá a Vernon a mesma sensação, a sensação de algo reconfortante e afetuoso no peso. "Respire fundo. Não é nada de tão grandioso, você vai ficar bem."
"E se eles me pedirem alguma maluquice em troca?" Ele diz, entrando em pânico. "E se eles pedirem, tipo, a minha voz?"
"O quê? como Ariel?"
"E se eles disserem algo tipo 'eu vou te dar esse feitiço, mas em troca Seungkwan perderá todas as memórias de você'? Ou eles vão fazê-lo me odiar ou algo assim?" Ele solta um pequeno e aterrorizado barulhinho, arranhando o cinto de segurança quando o sente apertar como uma lâmina próxima a sua garganta. "Meu Deus, pai, Seungkwan vai me odiar. Ele vai recuperar a visão e vai ver meu rosto e vai me odiar, ele- ele-"
"Hey, hey, hey, filho, tudo bem agora, sssh, acalme-se." E depois de um momento de clara, pensativa hesitação, ele gentilmente puxa Vernon para um abraço. É desajeitado em um carro, a marcha pressionando o abdome de Vernon, mas ele se deixa enterrar no abraço, deixa tornar-se uma criança novamente e dar pequenos e fracos choramingos contra o peito largo do pai, deixa seu pai abraçá-lo apertado com seus braços fortes e se sentir seguro e protegido pela primeira vez em anos. "Está tudo bem, está tudo bem. Eu estou aqui com você."
Vernon precisava disso, ele pensa enquanto acalma sua respiração. Ele não quer dizer que era o "homem da casa", porque isso é francamente insultante para a mulher que o criou e protegeu todos esses anos, mas mesmo assim: foi ele quem encontrou sua mãe chorando no quarto uma noite porque ela estava sobrecarregada com o trabalho e se sentindo sozinha, abraçando-a até que ela parasse de chorar e prometendo manter isso em segredo. Foi ele quem teve que confortar sua irmãzinha e beijar seus band-aids quando ela caiu, teve que aprender o que diabos acontecia no ciclo menstrual para ajudar uma Sofia em pânico em seu primeiro período aos onze anos porque sua mãe estava trabalhando em outro turno de 24h. Ele não tinha um pai para compartilhar os encargos de sua mãe na família, não tinha um pai para ensinar-lhe como dar nó na gravata enquanto olhava no espelho, ou para dar-lhe conselhos sobre como falar com alguém que ele gostava, ou como dirigir. E quando ele é apertado para mais perto, sente que o Sr. Chwe pode estar pensando a mesma coisa.
"Está se sentindo melhor?" Seu pai pergunta quando Vernon se afasta, fungando. "Está tendo dúvidas? Quer voltar atrás?"
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IN THE EYE OF THE BEHOLDER
Fanfiction[𝐕𝐄𝐑𝐊𝐖𝐀𝐍] Vernon é um meio-demônio, e crescer sofrendo preconceito e vendo as pessoas o evitarem por sua aparência assustadora o fez sozinho e sem amigos pela maior parte de sua vida. Seungkwan é um sopro de ar fresco, recém-chegado na facul...