Capítulo 9

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"Vernon! Faz tempo que não te vejo," diz Seokmin alegremente. Ele ainda é o mesmo sorriso gengival amigável cheio de dentes, olhos sorridentes enrugados cheios de nuvens de poeira interestelar, novas manchas engolindo suas unhas perfeitamente ovais, manchando suas cutículas perfeitas com um imperfeito preto e verde e azul. Ele está vestindo exatamente a mesma camisa de quando Vernon o viu pela última vez; ele espera sinceramente que ela tenha sido lavada entre esse período de sete semanas. "Hey, quem é esse?"

Seungkwan está ao lado de Vernon, a mão na dobra do braço dele, teimoso, tenaz e maravilhoso, com um colete vermelho e um boné de beisebol combinando com seu cabelo. Hoje é um daqueles amanheceres crepusculares, o céu um enfadonho azul pervinca com pequenas estrelas e nuvens rosa-Tylenol sob um sol branco-luz-de-vela, apesar de ser apenas por volta de quatro e meia da tarde. "Sou o acompanhante dele," diz ele.

"Parceiro de crime," corrige Vernon.

"Okay, bem, o que quer que você seja, apenas certifique-se de não quebrar nada quando entrarmos. Nós temos um cara aqui que já causa acidentes o suficiente com os dois olhos funcionando."

Seungkwan dirige à ele um sorriso condescendente verdadeiramente magnífico. "Tentarei o meu melhor."

"Sim, percebi agora o quão ridículo da minha parte foi dizer isso. Desculpe, criança. Olha, apenas entrem. Seungcheol está esperando nos fundos."

Eles o seguem pela loja, o ambiente tão escuro e misterioso e assustador quanto Vernon lembrava ser. Esperando por trás de outra camada de cortinas de veludo está Soonyoung, curvado atrás de uma mesa de carpintar runas, e um homem mais velho que Vernon nunca viu na vida olhando-o trabalhar com bastante interesse. Ele não é mais alto que Vernon, mas seus ombros são mais largos e ele possui o ar firme e confiante de um homem que já viu e sabe mais do que você, então parece que ele é grande e imponente, ocupando muito espaço no pequeno cômodo. Ele possui uma mistura de características confusas que torna difícil dizer se ele é bonito ou desarranjado: cabelos escuros cuidadosamente penteados para trás e terra entupida quase permanentemente por baixo de suas unhas aparadas; olhos gentis com longos cílios sobrepostos por sombras azuis tipo hematomas em suas olheiras; braços fortes e maxilar marcado desfigurados por antigas cicatrizes e arranhões cruzando todo canto possível de sua pele. Quando ele se vira para cumprimentá-los com um sorriso com covinhas, Vernon vê que ele está usando uma jaqueta de motoqueiro de couro que têm mais bolsos e zíperes do que o necessário, bem como um trench coat folgado por cima da jaqueta. Vernon imagina se ele está morrendo de febre.

"Vernon, não é? Eu sou Seungcheol." Eles apertam as mãos — mais uma vez, ele também não parece se importar com as irregularidades de Vernon. "Seokmin disse que você queria saber sobre feitiços. Você tá com sorte; eu sou provavelmente a única pessoa deste lado do planeta que ainda tem informações sobre esse tipo de coisa, e às vezes leva anos até que eu venha a passar por esta cidade."

Anos? Esse cara não pode ter mais que vinte e cinco, com certeza. "Sim, isso mesmo," Vernon diz, rapidamente analisando a situação. Quando ele chega à conclusão que Seungcheol também não fará grande caso sobre suas feições demoníacas, ele puxa a máscara para baixo para que possa falar com mais facilidade, ansioso para respirar ar que não seja por entre um tecido. Seungkwan imediatamente nota a diferença no tom de sua voz e olha para ele, curioso, com os dedos se contraindo cautelosamente em torno de sua bengala. "Estou à procura de um feitiço. Há algum solto por aí que você saiba onde eu posso encontrar, ou ao menos algum feiticeiro que possa me conceder um?"

Seungcheol olha-o cuidadosamente, quase que avaliando-o. No canto do cômodo, Seokmin está com as mãos nos ombros de Soonyoung, inclinando-se sobre ele para observá-lo escavar encantos nas runas lisas e circulares. Eles dois talvez possam parecer incomuns, mas são perfeitamente em paz sendo incomuns juntos no próprio mundinho. Vernon pode ver claramente o futuro onde eles estão juntos entre as costuras nostálgicas de suéteres antigos e cachecóis compartilhados, pode ver anos irem e virem onde eles continuam discutindo sobre o mesmo café de merda, segurando as mãos um do outro sem se importar se estão deterioradas, cicatrizadas ou manchadas, apenas sentindo o bater do coração preguiçoso em seus pulsos delicados e o calor um do outro. Algo dentro de Vernon aperta entre seus órgãos artificiais e tendões de açúcar, um tipo de anseio corroente, esmagador e desesperado. A mão ao redor de seu braço de repente é muito mais proeminente que antes, seus nervos se concentrando no único ponto onde Seungkwan toca seu corpo.

"Então, escuta aqui," Seungcheol finalmente diz. Ele não está se abaixando para falar — o que seria ridículo, já que Vernon é mais alto — mas de alguma forma ele passa a sensação de que é um pai se ajoelhando para conversar cara-a-cara com uma criança problemática. "Não posso, em sã consciência, sugerir que você recorra à invasão, roubo ou danos gerais de qualquer tipo. No entanto, se eu listar maneiras possíveis para se obter um feitiço e provavelmente você ter que recorrer a métodos criminosos, eu quero que seja registrado aqui que eu não o induzi de forma alguma e lhe desencorajei muito a fazer isso." Seus olhos brilham como se fossem o ponto central para galáxias interestelares. "O que estou prestes a te dizer é puramente uma situação hipotética, apenas."

Seungkwan reprime uma leve risadinha, enquanto Vernon sorri e diz: "Você quem manda."

"Exatamente. Okay, primeiramente: há apenas um feiticeiro em torno desta cidade, e ela é a Velha Mãe Hayes, da era de ouro. Ela não costuma mais dar seus feitiços por aí, mas tenho certeza que ela deve ter um ou dois perdidos em algum lugar de sua loja. Vou pedir para Seokmin te enviar o endereço, então essa é a nossa primeira opção. Se isso não funcionar, eu sugiro que você vá à outro reino para conseguir um. Há muitos feiticeiros no reino dos demônios e das fadas, por exemplo. Claro, para fazer isso você vai precisar do seu passaporte e um passe de portal transreino, e conseguir um desses leva tempo e dinheiro. Se você não tiver um passaporte pronto ou dinheiro suficiente ou estiver precisando de um portal, procure por um homem chamado Jihoon no setor de check-in do aeroporto e diga-o que eu te enviei. Ele vai os deixar passar gratuitamente pelo portal contanto que tenham um passe. Eu garanto."

"Puta merda," diz Seungkwan em espanto, "como você sabe de tudo isso?"

Seungcheol ri. "Você passa a saber das coisas quando vive tanto quanto eu vivi."

"Mas você parece ter vinte e cinco anos!" Protesta Vernon, mas ninguém parece tê-lo ouvido.

"Enfim, é muito estranho vocês dois estarem procurando por um feitiço." Seungcheol fixa seu olhar curiosamente sobre as feições de Vernon. "Este é um bom momento para fazer um discurso de 'beleza vem de dentro' ou algo assim?"

Imediatamente, Vernon sente o gelo subindo pela nuca e atrás das orelhas. "Não é para mim," ele murmura, o constrangimento passando por ele como uma onda nauseante, parecendo poça de chuva suja. Ele dá uma olhada rápida em Seungkwan, de repente humilhado.

"Ei, ei, aqui, garoto." Uma mão pesada e forte dá tapinhas em seu ombro. "Desculpe, eu não quis dizer nada com isso. Eu vejo como as pessoas tratam meio-demônios como você, a maneira como te olham quando você está andando na rua. Apenas pareceu uma das razões mais óbvias pela qual você estaria procurando por um feitiço. Você não acredita quantas pessoas querem um para apenas mudar a aparência."

A cabeça de Seungkwan se mexe inquieta para lá e para cá, tentando acompanhar a conversa enquanto seus dedos inquietam-se através da alça de sua bengala. "É realmente tão ruim assim?" ele deixa escapar, em seguida cora quando sente a atenção de todos voltarem à ele. "Vernon, quero dizer. A aparência dele... realmente é tão ruim assim? Para as pessoas agirem assim com ele?"

"Eu não sei dizer, garoto," diz Seungcheol, então dando a Vernon um sorriso caloroso e bagunçando o cabelo dele, até apertando-o os chifres como sua mãe costuma fazer quando tenta confortá-lo. "Ele parece ótimo pra mim."

Vernon achou que fosse chorar.

IN THE EYE OF THE BEHOLDEROnde histórias criam vida. Descubra agora