Você está na igreja, e encara o pastor em seu terno e gravata enquanto nos explica sobre os espíritos zombeteiros e as cartas de tarô.
Toda aquela história de sempre. Não confiar nas cartas dos mentirosos ciganos, nem em promessas vazias feitas pelos desencarnados.
Todos estão com sua melhor roupa do armário, até porque hoje é domingo, dia de visitar a casa do Senhor.
A banda espera o momento certo para começar a adoração, e ao fundo as crianças ficam em silêncio com medo de levar outro beliscão da mãe, devido ao mau comportamento.
- Somente Jesus é o caminho da glória, e da paz - ele entoa com veemência. - Todos aqui devemos abrir nossos corações, e confiar no pai. Ele é a honra, e a vida.
- Amém - dizemos em uníssono.
As luzes de trás se apagam, permitindo claridade somente na banda a frente. O som da bateria nos faz querer levantar os braços para cima em adoração.
Sinto meu vestido florido se mexer em meu tamanho. Ao meu lado ouço choro em sua pura emoção.
- Que na noite de hoje possamos nos conectar com o nosso Pai celestial, dono de toda a verdade e detentor de todas as promessas - o Pastor entoa. - Sinta sua presença neste lugar, sinta sua luz invadindo seu coração, irmão!
Lágrimas escorrem pelo meu rosto.
" Eu jamais serei o mesmo... "
Cantamos juntos.
Uma mão aperta meu ombro tentando se firmar em mim, mas também estou frágil.
Fechamos os olhos, e recebemos as orações a nosso favor.
As luzes se acendem.
Nos cumprimentamos, e damos nosso melhor sorriso.
- Que a paz esteja convosco - o Pastor se despede.
- Vamos, querida? - meu pai estende a mão para mim.
O acompanho até a saída, enquanto minha mãe fica conversando com as pastoras.
Meus pais são altamente devotos a igreja. Sempre frequentei junto com eles, mas somente no início da adolescência que eu decidi mergulhar de cabeça igual a eles.
Estou na calçada observando o movimento da rua. Meu pai adentrou novamente o salão, a procura da minha mãe.
- Jody? - uma voz me chama.
Olho para o lado e vejo João Pedro se aproximando.
Ele é um dos frequentadores assíduos do culto. Somos amigos desde que ele descobriu minha existência, e isso me deixa um pouco lisonjeada.
- Oi João, tudo bem? - o cumprimento com a mão. Ele a aperta, e sorri para mim.
- Melhor agora - eu coro com a sua resposta, e tento não demonstrar minha vergonha.
- Como estão indo as coisas? Está trabalhando na Lanchonete do Ramon ainda?
- Ah sim, estou lá ainda, graças a Deus.
Consegui um emprego temporário nessa lanchonete assim que terminei o ensino médio, e por sorte o dono gostou tanto de mim que decidiu me contratar permanentemente.
- Que bom... - ele responde. Nos encaramos por alguns segundos, e abaixo o olhar. Seus olhos são agitados, como se estivesse tentando captar tudo ao mesmo tempo.
- Eu estava pensando... É... - João vacila. - Você quer sair comigo? A gente podia, sei lá, ir comer um lanche, ou algo do tipo.
- Ah sim, por mim tudo bem - respondo com gentileza. - Vamos marcar um dia.
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|| • RITMO QUENTE • ||
ChickLitJody Mills testemunha um homicídio e agora se vê sendo perseguida por Evans, um assassino impiedoso. O que ela não poderia imaginar é que se veria tão envolvida com ele e sua gangue, um grupo de homens que não tem nada a perder e não tem medo de ag...