No meu último dia no hospital o médico nos disse que eu deveria ficar de repouso, uma vez que meu corpo ainda sente as dores da agressão.
Minha mãe abre a porta de casa, e me apoia em cima de seu corpo, fazendo com que eu ande devagar pela sala.
- Aqui, querida - ela aponta para o sofá. - Sente-se aqui.
A obedeço, e jogo com cautela o meu corpo para o móvel. Com dificuldade levanto minhas pernas, colocando-as em cima da mesa de centro.
Antes de voltar para casa, havíamos combinado com o meu pai de que ele ficaria por um tempo morando na casa da mãe dele. Pelo menos até que as coisas "melhorassem". A verdade é que eu ainda estou com medo dele.
Cenas daquela noite sem repetem em minha mente, sempre me fazendo acordar durante a noite aos berros.
O policial que conversou comigo no hospital havia sugerido que eu ficasse na casa de uma amiga por algum tempo, o que não é má ideia.
Automaticamente eu havia pensando em Ângela, mas não posso simplesmente bater na porta dela e trazer todos esses problemas junto comigo.
Ao invés disso, optei por voltar para casa, e tentar seguir a diante.
- Hoje eu terei que ir trabalhar - minha mãe volta para a sala, e em suas mãos há um prato com frutas picadas e um copo de chá. - Mas qualquer coisa é só você ligar para mim, e eu virei correndo - ela aponta com o queixo para o telefone.
- Sem problemas, eu vou ficar bem.
- Ótimo - ela sorri, e deposita um beijo em minha testa. - Se sentir fome tem comida na geladeira, é só esquentar no microondas. Até mais tarde!
- Até!
Assisto enquanto ela sai pela porta, trancando-a por fora.
Ótimo.
Finalmente sozinha.
Ligo a televisão, mas não há nada de interessante passando.
Suspiro irritada, e apoio a cabeça para trás.
Os dias no hospital não foram fáceis.
Várias foram as enfermeiras que entravam em meu quarto fingindo me inspecionar para apenas poder bisbilhotar sobre a fofoca.
Pelo que eu soube, todos estavam chamando o ocorrido de "revolta do homem de fé".
Meu pai sempre foi firme na igreja, com a mente e o coração sempre voltados a Deus. Entretanto, agora vejo que é o contrário.
Tenho dezenove anos, e dependo deles para tudo. Dependo deles para morar, para comer, para vestir... Isso me deprime, e apenas me mostra como sou vulnerável a problemas como esse.
Minha fé em Deus faz com que todos os dias eu me sinta culpada por guardar rancor de meu pai. Ele é o homem de nossa casa, é ele quem nos provê o sustento e a segurança.
Resumindo, ele é a nossa base.
Por mais que eu não queira admitir, eu vejo a tristeza nos olhos de minha mãe, pois sei que ela queria que ele estivesse por perto. Entretanto, seu dever como mãe não permite que ela escolha o marido ao invés da filha.
Eu não a culparia se fizesse o contrário.
Meu braço coça, e tento enfiar minha unha por debaixo das ataduras que estão nele. O corte foi pior do que eu pensei, e foi necessário levar uns quatro ou cinco pontos.
Como um pouco das frutas que estão em meu prato, sendo elas apenas banana e maçã.
Meu estômago pesa, e tenho medo de vomitar.
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|| • RITMO QUENTE • ||
ChickLitJody Mills testemunha um homicídio e agora se vê sendo perseguida por Evans, um assassino impiedoso. O que ela não poderia imaginar é que se veria tão envolvida com ele e sua gangue, um grupo de homens que não tem nada a perder e não tem medo de ag...