Capítulo 17 - Pendências e Resoluções.

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EVANS 

                                                                                                                  "I torture you...   ...Take my hand through the flames". 

Quanta dor o corpo humano consegue suportar, antes de enfim sucumbir? 

Meus pensamentos vão a mil enquanto tento decidir como finalizar o serviço que iniciei no período da manhã. A única janela que há no celeiro que estamos nos permite ver o sol se pondo, o que seria lindo de se ver, se não fosse a cena de completa destruição às minhas costas. 

Sinto minhas mãos tremendo enquanto tento limpar o sangue que há nelas. 

Sangue que, por sinal, não é meu. 

- Por favor - o homem murmura implorando entre um soluço e outro. - E-eu não tive intenção de fazer aquilo. 

Ando pelo pequeno espaço enquanto assisto o verme se arrastar pelo chão. Ele está ofegante, e o que restou de suas roupas cobre o corpo magro e desnutrido repleto de cicatrizes e variados ferimentos. Queimaduras, cortes e inúmeros hematomas. 

- Vocês nunca têm intenção - respondo simplesmente. Aos meus pés eu encaro a enorme poça de sangue resultante do traidor. 

- E- eu não sabia - ele continua a dizer, e então cospe no chão. Sua saliva é vermelha. - Não disseram quem era o dono da carga. Só ofereceram o dinheiro, nada mais. 

- O dinheiro que pago a vocês não é suficiente? - grito. O homem fecha os olhos assustado, e então abaixa a cabeça. 

Encosto meu corpo na mesa de madeira atrás de mim, e tento controlar minha respiração. 

Essas situações sempre me tiram do sério. 

Fico feliz em saber que os amigos dele já tiveram os devidos cuidados especiais. 

- Vocês drogados nunca se contentam com o que tem, sempre querem cheirar mais do que o nariz consegue aguentar - prossigo. - Vocês só tinham duas tarefas: vigiar e relatar. 

- A gente não sabia - o homem cai em prantos. O corpo dele treme ritmado ao choro, e eu não me permito sentir pena dele. Somente raiva. 

Raiva por ter sido enganado e pensado que a carga havia sido apreendida pela polícia, motivo dos investigadores terem um mandado para adentrarem o Bar. 

Raiva por tomar conhecimento de que meus próprios olheiros haviam me traído, me passado para trás e aceitado dinheiro de um grupo rival, a fim de saquear um dos nossos caminhões que já haviam sido pagos por um importante cliente. 

Irado, chuto o canalha e desfiro socos em seu rosto. 

Ele grita esganiçado, mas sei que isso não será problema. 

Não há ninguém que possa ouví-lo, além de mim.

Percebo que o deixei desacordado. Agora seu rosto está definitivamente irreconhecível. 

Espalhados pelo chão estão minhas facas, meu machado, minha corda e outras "brinquedos" que utilizei para conversar com o sujeito. 

Ando pelo pequeno espaço e pego minha mochila, de onde tiro minha arma já municiada. 

Mais uma vez tenho aquela sensação que já me é tão conhecida: a da vida e da morte em minhas mãos. 

Hoje sou eu quem decido se ele viverá ou não. 

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