Capítulo 9 - Encrenca

504 38 0
                                    

Será que realmente teria um jeito de ir embora? E se não houvesse, eu teria que ficar escondida?

Eu queria apenas ver as ruas, as pessoas, meus amigos, minha família, Josh. Queria vê-los de novo. Dizer que Nick e eu estamos bem, que tudo ficará bem.

Mas algo dentro de mim sabia que nada ficaria bem.

A batida na porta aumentou, e só então eu percebi que tinha alguém batendo.

- Entra. - Falei.

A porta abriu-se, e eu já tinha quase certeza de quem era. Jonathan.

- O que você quer?

- Nada de importante. Bom, seu amigo está tomando banho, e eu não achei que fosse preciso ficar com ele. - Ele se sentou na cama, ao contrário de mim, ele estava limpo. - Ele não tem cinco anos, provavelmente não precisa que alguém fique o vigiando.

- Hum. - Virei a cabeça para olhá-lo. - Mas porque não ficou no seu quarto? Afinal, o banheiro é lá dentro, mas tem uma parede que divide. Você não iria ver Nick nú.

- Eu sei. - Ele riu. - Mas mesmo que eu esteja no quarto, e ele no banheiro, acho que pega muito bem.Além de tudo, ele fica cantarolando.

- É eu sei. - Puxei uma cadeira, sentando de frente com ele. - Ele tem essa mania.

- Se ele cantasse bem, pelo menos. - Jonathan riu, e me fez rir. - Eu tenho que dizer isso, ele canta muito mal.

- Eu sei. - Dei risada. - Dessa vez tenho que concordar.

Ele se recompôs parando de rir, e eu também. Voltou em mim, a agonia, e o medo de perder tudo o que eu tinha.

- Você está bem? - Jonathan perguntou, vendo meu olhar distante.

- Estou. - Respondi. - Só estou cansada.

- Não sei se alguém já te disse isso, mas, Samantha você não sabe mentir.

Eu dei um sorriso sem mostrar os dentes, um tipo de sorriso oculto.

- Já me disseram sim.

- Ótimo, então você pode me dizer a verdade. - Os olhos estavam agradáveis, a voz continuava meio grossa, mas tolerante.

- Eu só estou preocupada, minha mãe deve estar pirando, me procurando em hospitais, e até em cemitérios. Ela vai me dar uma surra, quando eu voltar. - Confessei.

- Ah, é isso. - Ele ficou sério. - Não se preocupe, eu tenho certeza que sua mãe ficará feliz em ver você, e nem se lembrará de te dar uma surra.

- Eu espero. Mas, - meu estômago dobrou. - e se eu não conseguir voltar?

Ele ficou em silêncio por um instante, pousou o braço no joelho, como Nick tinha feito, os olhos dele me analisavam, e eu arrepio passou por mim.

- Você vai conseguir voltar, eu vou ajudar você.

- Eu nem sei como te agradecer, tem me ajudado tanto, obrigada.

Ele sorriu meio envergonhado.

- Não precisa me agradecer.. E desculpe se eu fui muito desagradável. - Ele baixou os olhos. - Mas tem algo em você que é irritante.

Eu dei risada.

- Você também é muito irritante, sabia?

- Sabia. - Ele sorriu. - Você é diferente, você me responde e me critica, me xinga, e se defende. E eu estava acostumado a falar e os outros baixarem as cabeças.

A História De Um AnjoOnde histórias criam vida. Descubra agora