Capítulo 5 - Inconscientemente irritante

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  Era um vasto corredor, com pouca iluminação, se não fosse pelas grandes janelas de vidro, que o sol refletia, diria que possivelmente estaríamos no escuro, ou no quase escuro.

  - Pode pelo menos me dizer o seu nome? - Ele exigiu praticamente, olhando pro final do corredor. Eu odiava que as pessoas falassem comigo, como se tivesse um poder autoritário sobre mim, exatamente como ele estava fazendo agora. Eu permaneci em silêncio. - Sua mãe não lhe ensinou que é falta de educação não responder os outros? - Ele andava graciosamente, balançando os ombros, mas os passos eram firmes. - No nosso caso, é mais que isso, já que eu salvei a sua vida, então, como agradecimento poderia dizer o seu nome? - Passamos em frente a sala onde ele tinha me encontrado, um arrepio me consumiu.

- Sua mãe não lhe ensinou que é falta de educação falar com as pessoas sem olhá-las? - Encarei ele, que pareceu se divertir com a minha resposta. - E se você falasse comigo mais gentilmente, talvez eu te respondesse.

- Se eu tivesse uma mãe, talvez ela teria me ensinado isso. - Baixou os olhos até os meus, ele era um pouco mais alto que eu. Mas era pouca diferença, diríamos que a boca dele batia na minha testa. Ele carregava um sorriso amargurado nos lábios, e meu coração se reprimiu de angústia.

- Ah, eu sinto.. - Ele me cortou, antes que eu terminasse de falar.

- Bom, meu nome é Jonathan.

Eu tinha que ter falado aquilo? Mas como iria saber que ele não tinha mãe? Um sentimento de culpa crescia dentro de mim.

- Samantha. - Sussurrei. Mas ele não respondeu, uma sombra consumia o seu rosto, o transformando em um borrão entristecido. - Prazer em conhecê-lo, Jonathan.

- O prazer é todo meu, Samantha. - Baixou os olhos verdes até os meus novamente, tentando sorrir, e eu tentei retribuir o sorriso.

- Bem, eu acho que conheço você de algum lugar..

- Eu duvido muito! - Respondeu.

- Já esteve em algum show de rock? Ou em algum clube? Eu vou muito nesses lugares.. Posso ter te visto lá, ou eu tenha estudado com você?

- Creio que não, nunca fui nesses lugares.. E nem estudei com você!

- Oh. Mas você é muito familiar para mim, devo ter te visto em alguma rua.. Não sei.. - Refleti, pensando onde eu poderia ter visto esse garoto antes.

- Também tenho a sensação que conheço você, mas posso afirmar que nunca nos vimos. - Os olhos eram verdes veludo.

Isso era terrivelmente estranho, eu sabia que já tinha visto aquele rosto antes. Como quando você sabe que conheceu alguém, mas esqueceu o rosto da pessoa, mas agora, ao olhá-lo, eu tive certeza que já havia o visto antes.

  - A cozinha está muito longe? - Tentei mudar de assunto. Agora estavamos passando por várias portas.

- Não. - Apontou o dedo para uma das portas de madeiras. - É ali.

- Ótimo.

  Jonathan empurrou a porta de madeira com uma das mãos, dando passagem para que eu entrasse primeiro. Tinha algo nele que era inconscientemente irritante. Mesmo assim, era algo familiar, mesmo que tivesse acabado de conhecê-lo.

  A cozinha era enorme, tinha uma longa mesa de vidro, com frutas espalhadas por cima dela. E, como divisor havia uma pequena mureta, e do outro lado da pequena parede, tinha um fogão, não.. Três fogões de seis bocas, impecavelmente limpos. Ao lado tinha quatro geladeiras, aquelas de duas portas e eram cor cinza prata, tinha uma pia extensa, sem nem um garfo sujo.

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