Capítulo 4 - Enfermaria

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O rapaz me transmitia uma certa confiança. Ele não parecia ser como os outros, mesmo que uma parte de mim, não quisesse acreditar nisso.

  Eu me perguntava, o porque dele estar ajudando uma estranha, se o próprio tio, disse que era para torturar os convidados indesejáveis.

Era tudo muito confuso para mim, eu nem sabia onde estava, ou como tinha vindo parar aqui.

Antes que continuasse com rebatimento de pensamentos, chegamos em uma sala, toda branca, e algumas camas, aquelas parecidas com de hospitais. Um armário grande do lado oposto, e o ambiente era bem harmonioso. A enfermaria.

  O rapaz me ajudou a sentar na cama, e se dirigiu ao armário, pegando algumas coisas que eu não identifiquei, pegou algodão e, alguma coisa líquida transparente.

Cambaleou até mim novamente, molhou com cuidado o algodão no líquido incolor, e ergueu a mão para passar pelo meu rosto.

Eu recuei rapidamente do seu toque.

- Eu posso fazer isso. - Disse secamente.

- Já disse que não vou te machucar. Eles já fizeram o suficiente, - O rosto estava sério e realmente incomodado. - agora, por favor. Fique quieta.

  Ergueu novamente o algodão deslizando pelo meu rosto, por mais que ele tivesse um jeito frio, e ao mesmo tempo provocante, cuidava com delicadeza dos meus ferimentos.

- Porque? - Perguntei, observando o rosto magro e super definido, enquanto o maxilar se contraía rígido.

- O quê? - A voz saiu grossa e rouca.

- Porque está me ajudando?

- Porque eu não concordo com o que fazem aqui, estou te ajudando, porque é isso que eu faço.. Eu ajudo pessoas, - Pausou, me encarando com os olhos vazios. -  especificamente as lá de cima!

- Lá de cima?

- Pelo visto você não sabe de nada. - Ele riu. - Acho que você pode me chamar de anjo da guarda.

  - Ah sério? - Respondi, sem achar graça. - Que bonitinho..

- Bom, vamos ver esse seu braço, a vermelhidão é evidente. - Tocou meu braço, e eu gemi de dor. - Desculpe!

- Tudo bem..- Ele molhou o algodão novamente no líquido, e passou pelo meu braço.-  Eu acho que vou precisar de outra blusa. - Lembrei.

- Ah claro, voce não pode sair por aí, quase semi nua. Eu vou providenciar isso! - Ele era muito idiota.

- Eu.. eu não estou.. ah, semi nua.. - Meu sangue ferveu, mas ferveu de vergonha.

Ele sorriu, e eu entendi que estava de brincadeira comigo, o que me deixou muito irritada.

  Quando terminou de passar o algodão, e limpou o sangue que escorria da minha testa, e fez um curativo, ele se sentou na cama ao meu lado.

Ele usava uma camiseta de botões larga, cor cinza, e calça jeans escura, acompanhada por botas de combate, de couro preto.

  Tinha uma tatuagem no pescoço, eu não soube dizer o que era aquilo, e nem tive vontade de perguntar. Simplesmente ficamos em silêncio, e com o canto do olho, eu via ele me olhando.

  - Imagino que esteja com fome? - Ele disse finalmente.

Comida.

Está aí uma coisa que eu não havia pensado, até agora. Mas, com certeza comer seria um ato sábio de se fazer nesse momento, contando que eu não como nada desde.. ah, desde que cheguei aqui, nesse buraco.

- Estou. Com muita fome na verdade.

- Podemos usar a cozinha, e eu aproveito e explico toda história.- Sugeriu ele.

- Que história? - Franzi o cenho.

- Desse lugar, onde estamos, e o que são os "Lá de cima". - Abriu aspas no ar. - Mas temos que ir logo, não deve ter ninguém na cozinha agora.

  Ele saltou da cama, e tentou me ajudar.

- Eu posso andar sozinha agora. - Falei. - Eu acho.

- Tudo bem, eu só ia dar apoio á você, não estou te pedindo em casamento. - Ele andou até a porta, falando e me dando as costas.

- Eu não quis... Bem, só quis te poupar o trabalho. - Andei atrás dele.

- Quem disse que isso seria um trabalho? - Abriu a porta, com um ruído, e um sorriso brincava nos lábios dele.

Eu não me atrevi a encará-lo, me coloquei para fora da enfermaria. Enquanto ele fechava a porta atrás de si.

Ele era muito estranho, porém, ele era familiar. O conhecia de algum jeito, de algum lugar.

A História De Um AnjoOnde histórias criam vida. Descubra agora