Capítulo 3 - Confusão

638 45 0
                                    

Minha cabeça doía frequentemente, e meu corpo também. Eu me forçava a abrir os olhos, que pareciam ter sido costurados.

  Eu estava jogada no chão, uma sala meio escura, e meus olhos tinham dificuldades em focalizar em algo. Até encontrar um homem barbudo, feio, e medonho me encarando. Girei a cabeça na esperança de encontrar o rosto familiar de Nick, mas não estava lá.

  Havia vários homens horríveis, com a aparência desgastada, como um daqueles fugitivos que aparecia na TV.

  Olhei para o fim da sala, e lá havia uma grande porta de madeira, e olhando pro lado oposto, havia vários homens de preto, sentados respectivamente em suas cadeiras, com um olhar frio.

- Ela acordou. - Disse um dos homens barbudos.

- Traga-a até aqui. - Falou o homem de preto.

  Eu tentei me levantar antes, mas não foi possível, eu sentia como se meus ossos tivessem sido quebrados e reduzidos á pó.

  Dois daqueles homens, me pegaram pelo braço, me arrastando até onde estavam os homens de preto.

  Eu tentava reagir, mas era particularmente impossível, eu estava fraca, muito fraca.

- Onde estou? - Consegui perguntar com uma voz assustada. - Onde está Nick ? - Era quase um sussurro.

  - Nós fazemos as perguntas, mocinha. - Um dos homens disse. - Como você veio até aqui?

  Era uma boa pergunta, mas eu não sabia o que responder, porque eu não me lembrava. Meu silêncio foi o suficiente, um dos homens barbudos acertou o meu rosto, e eu teria caído, se o outro não estivesse me segurando.

- Novamente.. como chegou aqui? - O homem sentado voltou a perguntar.

- Eu não sei.. - Meu rosto ardia, e foi marcado por outro tapa.

- Garota, temos mais o que fazer.. Pode nós dizer logo, ou prefere ficar apanhando? - Outro homem de preto disse, com a voz firme.

  Eu processava as palavras, enquanto apanhava.. Afinal porque estavam me batendo? O que estava acontecendo? Que confusão era aquela?

- Fale logo! - O homem gritou.

- Eu...eu.. - Não me permitiram continuar falando, minhas lágrimas deram as caras, refrescando os tapas que eu tinha tomado.

- Chega! - Ele continuou gritando. - A marquem.. Ela vai ter que nos dizer

- Talvez ela não saiba mesmo.. - Outro homem de preto se manifestou. - Tem certeza que marcá-la a fará dizer?

- Tenho. Ela sabe muito bem como veio, só quer manter segredo. Você sabe, para os lá de cima tomarem esse lugar.

Dois homens, entraram com um tipo de espeto de ferro, como aqueles que marcam animais, ele tinha acabado de sair da brasa quente. Eu via o fogo no ferro, e iriam colocar aquilo na minha pele.

Eu gritei, e me rebati. Mas, de nada adiantou. Me deitaram no chão, com as costas para cima, e rasgaram minha blusa, fariam a marca a cima da cintura, eu tentei levantar, mas meu corpo estava pesado.

- Teria sido melhor você ter dito a verdade.

Aproximaram aquilo de mim, e eu continuava gritando, com os dois homens me segurando.

  Nesse instante, a porta da frente, aquela de madeira, foi aberta, eu ouvi os passos rápidos ecoando no piso de madeira.

- Parem agora! - Alguém gritava. - Não ouse encostar isso nela.

  Eu não ergui a cabeça para ver quem era, eu me engoli no canto, e choramingava nervosa. A voz era de um garoto, arrogante e firme.

- O que pensam que estão fazendo?

- Fazendo ela dizer como chegou aqui. - Aquele homem disse.

- Ela não é daqui?

- Não, encontramos ela e um rapaz.

- De qualquer forma, torturando-a não fará ela dizer, isso é tolice!

- Seu tio permitiu que usassemos força extrema para descobrir, você sabe, não queremos que esse lugar.. Nosso lar, seja dominado por eles.. - O homem de preto se levantou.

- Cale a boca, Adrien. Você é apenas um puxa saco do meu tio.

Senti uma mão gelada nas minhas costas nua, o rapaz ajoelhou-se ao meu lado, tentando me erguer, mas eu hesitei.

- Você não pode salvar o mundo. - Adrien disse, irritado.

- Eu posso salvá-lo de pessoas como você.

  Ele continuou com a mão nas minhas costas, e a outra tirava os cabelos do meu rosto.

- Ei, venha. Eu vou ajudá-la. - Ele dizia.

- Você não vai levá-la a nenhum lugar! - Adrien gritou.

- Eu vou levá-la sim, e você não irá impedir.- O garoto também gritou.

Ele me ajudou a me sentar, segurando meus cotovelos, eu ainda choramingava com nervosismo. Então ergui os olhos até ele.

  Tinha os olhos verdes, mas não como os meus, era um verde estranho, encantador, quase únicos. O rosto era fino, e o maxilar definido, os lábios levemente rosados, e um pouco carnudos. Os cabelos eram cor de caramelo, quase dourados, e meio longos. Liso, porém tinha alguns cachinhos se desfazendo.

  Ele sorriu pra mim, e com um movimento rápido, passou o braço por volta da minha cintura, me ajudando a levantar.

- Calma.. Está tudo bem.. Você pode andar? - Ele sussurrou pra mim.

- Posso. - Eu mal conseguia dizer.

- Você não pode levá-la, ela ainda não nos disse como veio. - Adrien gritou, enquanto cruzavamos o salão.

- Eu vou descobrir. Vou te fazer esse favor, Adrien.. Nem precisa me agradecer! - Ele riu satisfeito.

- Seu tio ficará sabendo disso garoto, e não vai gostar nada.

O rapaz pareceu nem se importar, andou comigo até a grande porta de madeira. E abriu-a, ela dava acesso a um enorme corredor, e bem em frente a aquela porta, havia uma janela enorme de vidro. O sol refletiu, atingindo meus olhos. O que me fez esconder o rosto no ombro do rapaz.

Parecia que meus olhos tinham desacostumado com a luz do dia. Depois de alguns minutos, desenterrei o rosto do ombro do garoto, totalmente constrangida.

- Você está bem?

- Es.. estou.. - Eu processava as palavras. - Foi a luz do sol.

- Sei.. ele sempre tenta brilhar mais que eu. - Ele disse com toda negligência possível. Eu quase ri.  - Você está machucada, vem, vamos até a enfermaria!

Eu dei um passo para trás, com receio.

- Eu não vou te fazer mal. Pode confiar em mim. - O olhar dele era quase frio, e sua voz era terrivelmente arrogante.

- Você não é como eles?

- Não! - Ele respondeu, soando um pouco ofendido.

A História De Um AnjoOnde histórias criam vida. Descubra agora