Someone like you

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Em um caminho cheio de flores

Eu estou te observando de novo hoje

Será que vou conseguir guardar isso dentro de mim?

      Taehyung

Eu queria entender o porquê de algumas fases da vida serem tão difíceis de lidar, como também queria poder descobrir como fazer a dor de uma despedida diminuir. Quando eu era criança tive que dar adeus aos meus momentos de extrema pureza e diversão, na adolescência eu decidi que estava na hora de me despedir da fase mais insana da minha vida e agora eu luto para tentar tirar a saudade que tenho da minha família e amigos da cabeça. Eu espero poder aprender a conviver com a saudade, assim como convivi com a raiva dos meus familiares ao saberem que eu desejei ser um pintor e não fazer direito em alguma universidade qualquer da Coreia do Sul. Diante disso eu posso afirmar que da raiva eu não sinto falta, sei o quanto me esforcei para conseguir a minha bolsa na Paris College of Art e compreendo que não posso pensar na possibilidade de perder essa, que talvez seja, a grande chance da minha vida.

Quando finalmente me deparo com a entrada da faculdade posso ter certeza de que minha mãe, ao meu lado, está quase para implorar que eu não entre e volte para casa com ela, faça direito e case com uma médica, mas posso garantir que ela se segura para não errar comigo outra vez. Sou o primeiro a tomar atitude em olhar para ela por uns segundos até ir em direção aos seus braços, ela demora para retribuir meu abraço, mas cede e em seguida a escuto chorar. Como eu disse, despedidas doem e eu queria fazer essa dor diminuir.

— Tem certeza de que vai ficar bem? — minha mãe pergunta enquanto continua me abraçando forte.

— Eu te garanto que sim, nunca fui de arranjar confusão, a senhora sabe. — solto uma risada, levo minhas mãos até sua cabeça e me afasto um pouco da mesma. — Ou não?

— Taehyung, você sabe que eu jamais vou confiar em você sozinho aqui. — ela olha para mim com um olhar engraçado de reprovação. Já o vi centenas de vezes. — Espero que não use drogas ou engravide uma moça.

— Não pretendo usar drogas nem muito menos engravidar alguém, só quero sentir que estou fazendo algo certo, mãe, e sinto que eu vou fazer o certo aqui. – beijo o topo da sua cabeça e me afasto completamente.

— Vou sentir sua falta. — ela volta a segurar minha mão. — Todos nós vamos. — completa me fazendo recordar de que o restante da minha família não pôde vir, porque não iriam ter dinheiro para as passagens de avião para todos.

— Eu também vou sentir falta de vocês, ainda é difícil colocar na minha cabeça que terei que passar alguns feriados e finais de semana longe da Coreia. — confesso enquanto tento não demonstrar tristeza, mantenho o rosto sereno. Minha mãe, por outro lado, seca as lágrimas com a mão livre e solta uma risada fraca.

— Eu te amo.

— Eu também te amo, mãe, amo muito — puxo ela de volta e me permito dar o último abraço do dia e que, no momento, dói demais.




                                *


Ok. Eu estou bem. Eu juro que estou bem. Eu só preciso acertar o quarto. Tudo bem. Está tudo perfeitamente bem.

São exatamente 17h30m quando eu percebo que já faz um bom tempo que permaneço procurando, mas não encontro o meu quarto. Manter a calma não é necessariamente obrigatório agora, mas não quero parecer o calouro perdido, apesar de eu já ter visto vários por aqui. Saio do jardim e vou em direção à residência estudantil, o lugar só fica mais bonito a cada passo que eu dou. É bom saber que vou passar alguns anos em um lugar que exala arte e de todos os tipos. São diversos tipos de pessoas e dou um sorriso ao ver alguns veteranos de música tocando para os seus calouros. Eu conheci alguns de pintura, mas não cheguei a pedir ajuda dos mesmos.

Pinte a sua dor | kth [CONCLUÍDA] Onde histórias criam vida. Descubra agora