Nuvens

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(Demorei, mas pelo menos trouxe dois capítulos, um deles sendo enorme. Boa leitura ❤️)



Eu dei a todo mundo que conheço um bom motivo para ir
Fiquei surpresa por você ainda estar por perto













Emma








Quando eu era criança, amava andar de carro, era simplesmente perfeita a sensação de olhar para minha mãe dirigindo por todos os cantos de Londres enquanto chovia, ela me passava segurança e mandava eu ficar olhando as casas. Eu adorava ficar observando cada casa que íamos passando, eu ficava me imaginando morando em alguma delas. Minha mãe queria chegar o mais rápido possível, enquanto eu, só queria que a viagem de carro demorasse mais e mais, a única coisa que seria melhor que ficar olhando lares na chuva, era quando chegávamos na casa do meu pai. Sinto falta dele, ele nunca mais ligou ou deu notícias para mamãe. Hoje em dia, eu não sou mais uma criança, não está chovendo, não quero que a viagem demore, minha mãe não me traz segurança, na verdade, eu não gosto de passar muito tempo ao seu lado, porque nunca temos o que conversar. Além disso, não estou indo ver o meu pai ou fico me imaginando morando nas casas que vejo, aliás, observar as casas é a única tradição que persistiu, mas, não me imagino mais morando nas que eu acho bonitas, eu só fico pensando sobre quem mora nelas. Será que o dono ou a dona da casa azul teve seu coração partido? A criança da amarela tem muitos ou poucos amigos? O jovem do apartamento marrom conseguiu entrar na faculdade? A moça do menor lar da rua se sente feliz, mesmo em um lugar tão pequeno? O casal que mora no local com a porta enfeitada antecipadamente para o Natal ainda se sentem mergulhados no amor? Será que alguém nesta rua perdeu a pessoa que ama hoje? Será que alguém está prestes a se perder?

São tantas perguntas, questionamentos quais eu não faria com 6 anos de idade. Eu só pensava em ter aquelas grandes casas para mim, mas, agora, me preocupo com o que há dentro desses lares. Lembro do que a Candice disse quando brigamos: "pessoas existem e estão existindo o tempo todo". Isso é verdade, elas estão existindo, desde o cara com o seu cachorro caminhando no fim da rua, até a garota recebendo uma mensagem que a deixa triste, mas ela não pode demonstrar, porque está em público, ninguém pode saber que ela tem sentimentos. Também é possível analisar que se cada pessoa tivesse uma nuvem em sua cabeça dizendo qual o seu humor, quantas pessoas felizes teriam? Provavelmente, poucas. Qual nuvem seria a da Dra. Louise antes de me examinar hoje de manhã? Médicos e enfermeiros também ficam doentes e podem se magoar, me questiono se ela fica muito abalada e depois tem que forçar um sorriso pelos pacientes. Na verdade, seria possível afirmar que a relação do profissional de saúde em conjunto com o paciente é a metáfora perfeita para a vida. Temos que dar um jeito de sempre mudar o clima, deixar que a nuvem esteja com um sol em cima, para não sermos pessoas fracas ajudando outras pessoas fracas a terem suas nuvens ensolaradas. Mas, na verdade, é exatamente isso que acontece. Ninguém está feliz o tempo todo e todos estão enfrentando algo, tenho plena certeza de que há muitas nuvens escuras.

Olho para a minha mãe, ela está dirigindo o carro até em casa, acabamos de voltar do hospital. Dra. Louise disse que eu teria que fazer reabilitação, mas eu não sou uma viciada, ou sou? Definitivamente não, sei me controlar muito bem. Mas sei que o Theo vai implorar para que eu vá, porque pode me ajudar no tratamento do meu transtorno. Ainda não acredito que isso realmente está acontecendo, pois passei anos da minha vida crendo que o que me mataria seria a depressão. Aí, chega o dia em que descubro que o vai me matar é um transtorno de bipolaridade. Chega a ser ridículo que eu tenha que descobrir isso só agora, minha mente está em guerra depois que fiquei sabendo. Theo disse para mim que tive sorte, porque as pessoas, raramente, são diagnosticadas cedo, sempre são denominadas como depressivas antes de descobrirem que são bipolares. Pelo visto, eu estou vivendo através da sorte, eu tive sorte quando sobrevivi a uma overdose, tive quando quando tentei me matar outras vezes e agora tive mais sorte, porque descobri aos vinte anos que sou bipolar. Parabéns para mim, eu realmente mereço um prêmio por ser ridiculamente infeliz.

Pinte a sua dor | kth [CONCLUÍDA] Onde histórias criam vida. Descubra agora