Encaro a carta na minha mão direita sem desviar, com zero de coragem para abri-la, apesar da minha imensa curiosidade, enquanto a esquerda desliza por meu rosto com expressões ansiosas e preocupadas.
Respiro fundo.
Me levanto e jogo a carta em cima da cama desarrumada assim como minha mente e meu coração se encontram.
Por que não consigo simplesmente ler isso?
Diabos, o que tem aí que Duarte não podia me contar pessoalmente e por que ele se deixou morrer? Para mim ele era onipotente e imortal. Essa é sem dúvidas a pior parte de se apegar emocionalmente a alguém; perdê-la como água escorrendo pelos dedos. Impotentes não podemos fazer coisa alguma para evitar o inevitável, como diz minha terapeuta de plantão: Monique Damasceno.
Vestígios da noite em que eu a protegi dos russos passam por minha memória. Completamente ciente e preparada para o pior, cuidei de não perder nenhum detalhe da visita dos estrangeiros criminosos na nossa cidade, segui o tal Bóris e adivinhem? Se não tivesse percebido que ele estava dirigindo até o apartamento de Duarte e em seguida descido do carro depressa e abordado Monique para me seguir em silêncio e sem questionar, com certeza a teriam sequestrado, e só o diabo sabe o que fariam com ela. No início ela ficou bastante assustada, o que é completamente compreensível levando em consideração o perigo que estávamos vivenciando. Confesso que senti vontade de enfrentá-los mas ela me fez desistir. Sozinha não daria conta e quando vi na minha suspensão a oportunidade perfeita de me juntar a Geórgia e aos outros para defrontá-los na pátria deles, não hesitei. E juntos conseguimos destruir o império de merda do mafioso. A união fez a força. É uma pena que perdemos Ravier e Duarte nessa guerra, mas o sacrifício deles não foi em vão. Centenas de crianças, mulheres e homens agora são livres para recomeçarem suas vidas apesar do trauma horrendo que vai acompanhá-los por toda esta, mas assim como eu, creio que vão conseguir superar, dar a volta por cima e seguir em frente. Muita coisa boa aconteceu, além disso, fiz amigos maravilhosos e leais. Posso ter perdido Duarte, o único em quem eu confiava, mas ganhei pessoas tão confiáveis quanto ele. A vida tem sido generosa comigo e não estou em posição de reclamar.
Falando em seguir em frente... Hoje minha suspensão termina e para meu azar recorrente terei que ser julgada pela política interna sobre minha ação fora do meu domínio de atuação. Porém, estou calma e pronta para lidar até mesmo com uma possível expulsão. Ah, nada terá o poder de me abater depois de ter arruinado àqueles canalhas e concedido as vítimas uma vida de liberdade a qual todo ser humano tem o direito de desfrutar. Eu posso lidar com as consequências, estou extremamente aliviada e em paz com minha consciência. No entanto, ainda tenho questões pendentes para resolver por aqui e continuarei seguindo meu legado com determinação, coragem e perseverança, porque nem preciso dizer que meu nome é Lilith Rebel não é mesmo?
Abro um sorrisinho e ajeito minha camisa social dentro da calça jeans. Visto meu terno e deixo meu apartamento depois de pegar minha carteira e minhas chaves.
Assim que saio do elevador e adentro o andar do escritório da minha Chefe, visto que devo me apresentar a ela primeiro, me deparo com uma recepção completamente diferente da que esperava. Há uma pequena confraternização com direito até a um lanche. Todos vem até mim e me cumprimentam com alegria, respeito, orgulho e admiração. Uma faixa com meu nome me dá as boas-vindas.
— Ah eeeee! A mulher que fez o que ninguém nunca teve coragem! — grita um dos agentes e ganho até uns tapinhas amistosos nas costas.
— A heroína do ano! Do ano não! Da década! — berra outro.
— Calma pessoal — peço com um tom de voz alto para que todos possam me escutar bastante incomodada por ter que apertar a mão deles e abraçá-los. Detesto burburinhos e calor humano. Não é nojo porque me sinto superior, ou TOC, nem nada do tipo, só não me sinto bem e confortável com essa espécie de demonstração de afeto. — Não fiz nada sozinha, — trato de explicar — só fui ajudar uns amigos...
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Armas, Rosas e... Você! ( LESBIAN)
General Fiction+🔞 Em inúmeras crenças lemos várias definições para Lilith, resumidamente; em algumas ela é considerada como uma Demônia que outrora a primeira mulher de Adão se rebelou contra a submissão e foi expulsa do paraíso por burlar as regras do que se esp...