Capítulo VI

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— O gato comeu sua língua Detetive? — Nicol insiste visto que eu continuo imóvel e mentalmente anestesiada. E devo admitir que ela é a primeira pessoa que me causa esta reação e todas as outras. A minha vontade de responder que eu gosto que ela seja a gata que pode devorar minha língua novamente como ela fez no bar de Conrad é grande até eu me lembrar do monstro que era meu pai e passar mal, mas me recomponho a tempo de não dizer ou fazer mais burradas.

— Desculpe — reajo antes de parecer mais imbecil do que já estou sendo. — Não queria invadir sua privacidade dessa forma.

— Rum, mas invadiu! — me fuzila mais uma vez e praticamente corre até a bolsa para onde devolve o saco e fecha o zíper não deixando mais nada visível.

— Pois é. Você deveria tomar mais cuidado — me viro e a fito nos olhos recuperando a sanidade. — Deixar sua bolsa e a porta entreaberta assim, pode atrair curiosos mal intencionados que não devem ver o que eu acabei de ver, se é que me entende...

— Oh, claro — concorda energicamente captando o sentido real da minha sugestão, me referindo a qualquer um dos agentes e funcionários que podem usar isso contra ela em algum momento. O que não é o meu caso. — Minha cabeça está tão cheia de merdas que cometi esse pequeno deslize. Obrigada por me alertar.

— Você tem sorte de me ter na sua vida — brinco com um sorriso lateral e a vejo corar não sei se de vergonha do flagra ou um assentimento pessoal. Já é a segunda vez que eu meio que salvo a vida dela. Só que a primeira ela ainda não sabe e se depender de mim nunca vai saber. — Enfim. Meu trabalho dessa manhã está cumprido em cima da sua mesa — aviso apontando a pilha de fichas. — Estou saindo pra almoçar e quando eu voltar podemos debater sobre isso se você quiser — ela arregala os olhos provavelmente imaginando ser sobre a droga em sua bolsa, mas me apresso em corrigir: — as fichas dos canalhas pedófilos, certo?

— Ah sim! — se recorda suspirando aliviada pondo a mão no colo.

— E estarei disponível para outras tarefas se necessitar — completo não querendo dar um ar cafajeste a minha gentileza e dou as costas. — Bom apetite para você também!

— Ei, Lilith? — me chama e eu paro sem me virar ou responder. — Obrigada pela discrição, por não me julgar mesmo não sabendo do que se trata e...

— Isso, definitivamente, não é da minha conta ok? — repreendo agora encarando-a e ela abre um sorriso mais tranquilo. — Até mais ver — me despeço mais uma vez e deixo o Departamento com a dúvida plantada em meu cerne.

Várias teorias passam pela minha cabeça. Tenho que admitir que estou imensamente curiosa. Pela minha experiência com viciados em drogas, Nicol não parece ser uma usuária de ilícitos. Tudo bem que ela tem uma carinha de que ingere álcool horrores e que mesmo depois que eu saí do bar ontem, ou talvez exatamente por isso, ela continuou lá bebendo até altas horas da madrugada... Sua ressaca é visível, apesar de disfarçá-la muito bem como uma pessoa madura que ela é. Bom, como eu mesma disse pra ela, isso não me diz respeito. Corrupta? Não sei se faz o estilo dela. A paixão pode estar me cegando. Segundo o Google esse sentimento pode nos confundir, idolatrar e endeusar uma pessoa cheia de defeitos e aí passamos a alimentar uma ilusão que quando finalmente desfeita nos faz sofrer a ponto de enlouquecer. A questão é que, eu não sou ninguém pra julgar minha Chefe. Ela deve ter um bom motivo pra estar mexendo com drogas assim como eu tenho os meus para matar estupradores de crianças. Digamos que estamos quites. O segredo dela está a salvo comigo, mesmo eu não sabendo a verdade por trás dele, e ela nunca vai saber que eu sou o Vigilante Noturno.

Assim que o elevador para na garagem, saco meu celular e ligo para um famoso, luxuoso e caro restaurante italiano da cidade para confirmar minha reserva. Um podrão num trailer numa dessas praças faz mais meu estilo, podem acreditar. Não engordo fisicamente de ruim mesmo e meu colesterol e a gordura no fígado devem estar a ponto de me matarem. Mas não estou nem aí. Não tem nada melhor do que comer uma “boa” comida tóxica. Só desejo que minha vida seja longa enquanto dure e que eu saiba como dar algum significado relevante a ela. Contudo, o motivo de eu almoçar exatamente nesse restaurante tem nome e é o senador Dexter Sullivan. Resolvi mudar minha abordagem e investigá-lo pessoalmente, começando por frequentar os mesmos lugares que ele pra encontrar uma maneira de exterminá-lo sem vestígios.

Armas, Rosas e... Você! ( LESBIAN) Onde histórias criam vida. Descubra agora