Armas, Rosas e... Você! ( LESBIAN)

Capítulo XV

DOIS DIAS ANTES

- Cautelosa e Ardilosa como uma Serpente; Sagaz e Hábil como uma Coruja; Destemida e Furiosa como uma Raposa. Seja bem-vinda Sétima Cavaleira das Trevas a Dimensão que muitos almejam tomar conhecimento porém poucos possuem a percepção necessária para penetrar, e outros tantos têm medo de aprofundar. Contudo, você A conhece bem e como ninguém, porque é de Onde vieste e para Onde tu retornarás... - escuto uma espécie de voz metálica assexuada ecoando por todo o recinto onde me encontro me cumprimentando assim que volto a me conscientizar de mim mesma e de tudo ao meu redor. Abro os olhos pois até então estava mergulhada no nada. Não há de fato um chão debaixo dos meus pés. É como se eu estivesse flutuando pelo Universo. Ao invés do céu que existe na Terra, visualizo uma mistura de cores sem definições e ao mesmo tempo que tenho a impressão de que estão muito próximas à mim também parecem longínquas. Não sei se é somente efeito da droga ingerida, mas não estou variando. Sinto como se tivesse o peso de uma pluma e meu corpo gira lentamente no ar sem a barreira da gravidade. Por vezes me sinto parte de um quadro sendo pintado pelas mãos de um artista desequilibrado e noutras engolida por uma lata de tinta de variadas nuances. Continuo olhando para todos os lados com uma certa angústia e ansiedade, desejosa de ver quem me dirige a palavra como se me conhecesse a vida toda, qual me traz uma paz e uma segurança indescritíveis. - Não tente enxergar mais do que você pode suportar. Minha Grandiosidade pode te cegar de maneira irreversível e você só pode me escutar porque me desdobrei para vir ao seu paradeiro. Não pense que é você que veio até à mim. É simplesmente ao contrário - acrescenta e eu permaneço atenta. À medida que a criatura se manifesta, as paletas se movem de acordo com seu tom, ora suave; ora enfático, mas sem perder a firmeza e a doçura. Quem é você? Pergunto mentalmente e uma gargalhada retumba a ponto de fazer minhas partículas estremecerem. Sequer consigo controlar minhas ações. Uma força poderosa e aparentemente invencível me domina e eu me sinto uma formiga em frente a um elefante. - É bastante confortável para você não se lembrar quem eu sou já que não dispõe de sua memória espiritual. No entanto, é exatamente por isso que aqui estou. - tudo começa a girar, inclusive eu, e as cores são substituídas por uma espécie de tela cinematográfica numa regressão incessante, desde o século 21 em que existo, a evolução do ser humano por etapas só que de frente para trás, década por década, tecnologia, industrialização, até nossos tempos remotos. Estou num tipo de aula intensiva de história. A fita rebobina ligeiramente, reino hominal; animal; vegetal; mineral, e pausa quando o planeta não passava de um grande vazio. O filme avança até parar no reino animal novamente, na época dos dinossauros. - Seu retorno me faz lembrar que a Criação deveria ter findado exatamente neste período - explica mas sem mostrar de fato emoções de pena ou arrependimento. - Ah, quando meus Irmãos e Eu decidimos criar As Almas Humanas, no início nos encantamos pela pureza de vocês. Era fascinante como eram tão iluminadas e singelas. Entretanto, não foi o bastante, decidimos que vocês deveriam deixar a dimensão espiritual e experimentar a encarnação material. Então foi aí que toda a destruição teve começo. Vocês não eram mais os mesmos princípios inteligentes que moldamos com tanto amor e se tornaram cruéis, gananciosos e egoístas, não hesitavam matar uns aos outros pelo interesse próprio... - o Ser me esclarece e eu compreendo que não existe apenas um deus ou nenhum como a maioria das pessoas crêem. - Você e seus irmãos foram umas das primeiras almas criadas lançadas na roupagem carnal, e todos sem exceções tocaram o terror, transmutando-se em seres perversos. Fomos obrigados a aprisioná-los nos confins de um abismo repleto de escuridão para contê-los de tanta maldade - o filme volta a passar e para no estágio em que os índios eram os únicos comandantes dessa região. - Mas assim como existe o mal e a ignorância também existe o bem e a sabedoria. Os nativos cuidaram com dedicação da terra que lhe foi confiada, mas dos outros cantos dela vieram os brancos com sua sede pelo poder e os feriram brutalmente. Os vestígios perduram até os dias atuais. Um chamado foi feito e eu respondi. Meus irmãos já perderam a esperança na humanidade, mas eu ainda não. Então para punir o mal eu libertei um mal ainda pior que consequentemente vieram a se rebelarem contra mim.