Capítulo XXVIII

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Olhar para Nicol adormecida é como apreciar uma obra de arte de outro planeta. Foi só ela chegar na aldeia e me ver bem para que sua mente e seu corpo relaxassem de automático ao ponto de se entregar a um sono reparador. O banho no lago subterrâneo contribuiu para sua serenidade. Sugeri que ela se banhasse exatamente com este intuito. Eu como ninguém conheço as propriedades curativas dessas águas cristalinas milenares. E como previ, logo que ela se deitou, apagou completamente. Meus lábios se curvam num sorriso de canto abobado recordando dos momentos apaixonantes que desfrutamos durante o mergulho. Fiz questão de acompanhá-la para que não corresse o risco de se perder na imensidão líquida azul-esverdeada. Assim como eu, da primeira vez em que estive aqui, totalmente inconsciente sobre minha origem, Nicol ficou fascinada com a primorosa natureza pela qual estamos envoltas, observando tudo com incredulidade, sentindo-se como se estivesse num sonho deixando explícito que não queria acordar.

Não resisto e deslizo meu dedo indicador com delicadeza sobre seu nariz. Anseio em me deliciar com o timbre de sua voz. Ela murmura algo indecifrável, talvez sendo despertada dos tais sonhos os quais não deseja desprender-se e acorda lentamente, remexendo-se no leito de palha.

— Como é bom ver seu rosto depois de um sono revigorante... — balbucia manhosa, espreguiçando-se sensualmente, as curvas cheias fazendo com que minha camisa, cuja cobre sua nudez, mova-se instigantemente. Em seguida, sua mão direita alisa meu rosto e cada pequena partícula do meu ser, contrai-se. Que saudade eu estava desse toque. Beijo o dorso de sua mão, a palma e os dedos e a ouço suspirar estimulada.

— Fico satisfeita em te ver descansada — minha voz sai como um sussurro.

— Bom, isso eu devo primeiramente a você e a esse lugar esplendoroso — recorda-se de algo e seu semblante modifica-se como a tarde ensolarada que se cerca de nuvens densas. — Eu sinto muito por seu avô... Posso não tê-lo conhecido, mas compreendo seu luto. Deve ter sido horrível... — cala-se envergonhada.

— Ele ter sido morto pelas minhas próprias mãos? — completo sem demonstrar tristeza ou raiva.

Vejo Nicol assentir:

— Você já deve saber que o Jonas me contou tudo sobre você...

— Mas é claro. É por isso que você está aqui. E eu só tenho a agradecer ao Jonas por ter explanado a verdade. Além disso, estou muito feliz dele ter conseguido sobreviver. Se não foi possível fazer isso pela minha própria boca, que bom que tenha sido pela de uma amiga.

— Eu também, apesar de que não sei se a vida nesse mundo esteja valendo tanto a pena assim... — dá de ombros com descrença.

— Não diga isso! Viver é um bem imensurável — retruco meneando a cabeça.

— No meio de tanta desgraça? Não me conformo!

— Caos estes que nós mesmos causamos e nós mesmos temos que concertar. Tenha mais fé e não estou falando dessas fés cegas que as religiões pregam, mas de uma que tem por base unicamente a evolução. Ainda há muito para você saber. Creio que Jonas não te contou detalhadamente tudo.

— Sim, ainda há dúvidas não esclarecidas. Como por exemplo você conseguiu deixar aqueles recados no hospital para mim discretamente, como se adivinhasse meus passos?

Uma gargalhada rouca e envaidecida escapa por minha garganta:

— Fácil e simples. Mandei um dos meus escravos até lá, eles possuíram o corpo do encarregado da limpeza e depois voltaram para a prisão.

— Nossa! — Nicol leva a mão a boca aberta e sua expressão entrega que está encaixando as peças. — Você tem olhos e mãos por todos os lugares...

Armas, Rosas e... Você! ( LESBIAN) Onde histórias criam vida. Descubra agora