Capítulo XII

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Estou dirigindo a toda velocidade passando por uma reserva indígena. Já amanheceu e por incrível que possa parecer não sinto vestígio algum de sono e/ou cansaço físico apesar de não ter parado em nenhum momento para descansar e dormir, nem mesmo para urinar ou comer. Estou eufórica e ansiosa, então a adrenalina trabalha a mil por hora. Felizmente já estou dentro do Estado com direção ao bendito endereço do meu misterioso avô. As pessoas e os animais param para ver meu carro passando praticamente voando, porém não me importo.

Me perco por alguns segundos na imensidão de natureza a minha volta e me questiono como seria se minha mãe nunca tivesse deixado seu berço de origem e consequentemente eu teria nascido por aqui. Eu teria uma outra vida, porém, é ingenuidade da minha parte imaginar que eu existiria. Se ela não tivesse saído de Oklahoma jamais teria conhecido Duarte, e ambos não teriam tido um breve relacionamento emocional/sexual. Assim sendo, começo a entender que realmente nada acontece por acaso. É uma pena que eu tenha descoberto isso da pior maneira possível. Sinto como se tivesse vivido um castigo ou um pesadelo interminável nas mãos de Aaba e Christopher, meu tio, meio-irmão de Duarte por parte de pai. Contudo, não consigo sentir mágoa ou raiva de Oswaldo Duarte. Sim, eu entendo perfeitamente os motivos dele, e digo até que em seu lugar eu faria a mesma coisa sem por nem tirar. Só é uma pena que ele só foi saber algo do meu avô depois que já havia me entregado para adoção. Talvez eu tivesse tido uma vida menos amarga e mais tolerável ao lado do pai da minha mãe. Entretanto, se eu não tivesse sido adotada por um pedófilo e uma mulher leviana, também nunca teria me formado Detetive e não teria ajudado Geórgia a destruir um império criminoso voltado exclusivamente para estes atos hediondos. Resumindo... Não há para onde fugir, ignorar ou contestar. Eu aceito meu destino mesmo que ele tenha sido cruel, doloroso e traumatizante. Graças a ele eu pude ajudar outras pessoas na mesma situação. Ou seja, nada até aqui foi em vão e me sinto um tanto quanto grata ao universo ainda que seus meios tenham sido os piores. A questão é que, eu amadureci de uma maneira diferente da maioria dos adolescentes e não guardo revolta nem nada parecido. Enfim consigo me sentir verdadeiramente útil e essencial na minha própria história de vida.

Finalmente chego até a propriedade indicada. Ainda da estrada avisto uma cabana não muito longe de onde estacionei. Acelero e volto a parar uns quatro metros de distância. Desço muito exaltada. Preparo minha mão em forma de soco para bater na porta de madeira envolta por plantas de variadas espécies e antes que eu tenha sequer tempo para isto, a porta se abre e revela o mesmo homem que eu encontrei na calçada do restaurante ontem durante meu horário de almoço, o mesmo índio que me disse coisas absurdas sobre uma maldição e uma profecia, o mesmo nativo que adivinhou toda minha vida através de um toque, de um simples olhar.

Não, não pode ser...

É ele meu avô?

— Bom dia. Estava esperando por você — ele diz me avaliando com interesse.

Estou de queixo caído mas não demoro a reagir. Consigo articular:

— Como? Você? Eu... Quem é você? Por que está aqui? — droga. Não deveria gaguejar agora.

Ele ergue o pouco das sobrancelhas que possui e me fita com um ar de deboche:

— Você deve saber quem eu sou já que veio até mim, não é mesmo?

— É... Acho que sim... — estou desnorteada. É muita coincidência!

— Bom, muitas perguntas complexas para serem respondidas por uma pessoa fatigada. Entre, tome um banho e descanse. Depois conversaremos... Ah, e por favor — ele olha do meu carro para meus pés — antes estacione sua máquina de destruição no asfalto e tire seus sapatos quando pisar na terra. Você assassinou minha grama e pagará caro por isso — finaliza dando as costas com uma fúria contida e enquanto a porta se fecha na minha cara estou boquiaberta tentando entender o que acabou de acontecer aqui.

Armas, Rosas e... Você! ( LESBIAN) Onde histórias criam vida. Descubra agora