Capítulo VII

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Desço rapidamente do carro para prestar socorro. Os curiosos aglomeram-se ao redor e o trânsito para. Nunca imaginei que pudesse pausar uma avenida dessa forma a não ser utilizando meus dotes como uma das melhores agentes do FBI. Aiai, suspiro fundo me recordando da ação sem intervalos, bons tempos àqueles...

Me agacho ao lado da pessoa, na verdade é um jovem rapaz, e arrisco deduzir que deve ter no máximo uns 17 anos. Verifico os sinais vitais do adolescente. Pelo menos ele está vivo só que desacordado pelo impacto violento. De onde ele surgiu? Não o ensinaram a não atravessar no sinal vermelho para ele? Que grande merda! Minha vontade é de pegá-lo no colo, carregá-lo até meu carro e levá-lo para um hospital o quanto antes, mas acho melhor não cometer essa imprudência. Não é recomendável mexer no corpo sem os conhecimentos necessários. Posso piorar a situação dele fazendo uma avaliação equivocada. Ligo para uma ambulância e ela não demora a chegar. Acho que alguém deve ter chamado uma antes de mim. Nem todo mundo aqui é urubu em cima da carne estragada. Ainda podemos encontrar alguns atos sinceros de gentileza e humanidade em algumas raras criaturas. Os paramédicos fazem o trabalho deles eficientemente, eu me apresento como a Detetive que causou o acidente e decido acompanhá-los logo atrás para fazermos o reconhecimento do garoto e é claro, saber do seu estado com mais detalhes e acompanhar sua recuperação até a família ser avisada e aparecer.  Infelizmente vou ter que adiar a leitura da carta mas é por uma causa maior, não posso simplesmente fugir dos meus deveres civis. Faço questão de arcar com todas as despesas, mesmo que a culpa não seja de fato minha, afinal o menino é de menor. A polícia local me interroga tão rápido e de maneira indiferente como se quisessem poupar tempo, que tenho certeza que se eu tivesse sido a responsável, teriam me liberado mesmo assim, só porque sou do FBI. Dou com os ombros. Como pude ter sido tão iludida? Quando entrei pro FBI não imaginava que pudesse existir tanta corrupção nesse meio. Entro no carro, o trânsito volta ao normal depois que a ambulância e a polícia se vão e eu dirijo até o Pronto Atendimento mais próximo. Cada segundo é crucial.

Uma das paramédicas que o atendeu, surge do interior do hospital e me informa que o garoto não estava com os documentos pessoais dele e pede que eu aguarde se assim eu desejar até que ele seja identificado com a ajuda da polícia enquanto é atendido. Faço um sinal de cabeça positivo, sou encaminhada para uma recepção privilegiada do recinto e ela se vai de volta para o seu trabalho de emergência. Não preciso dizer que só por conta do meu cargo não é mesmo? Enfim. Me sento e é inevitável me lembrar da minha adolescência conturbada. Enquanto todos os jovens queriam apenas se divertirem sem terem que se preocuparem com compromissos, namorar e curtir a vida adoidado, eu estava mais interessada em me preparar de todas as formas para ingressar na polícia e prender os bandidos como uma boa mocinha faria. Devido o que houve na minha infância eu jamais consegui fazer amizades ou ter qualquer espécie de envolvimento com alguém, afastava todos que tentavam de mim se aproximar. Chegava até ser grossa para evitar aborrecimentos. Assim que fui aceita no Departamento, conheci Duarte e ele foi a única pessoa que me transmitiu algo que nunca senti com ninguém até então.

Passo as mãos pelo rosto e cabelo me encostando na poltrona confortável. Estou ansiosa, nervosa e impaciente com essa demora para reconhecerem o garoto. Preciso ir para meu apartamento e ler a bendita carta. O que será que tem nela? Só agora me dou conta de que não avisei Nicol do meu sumiço repentino e ela também não fez questão de me ligar para me dar uma bronca. Espero que esse menino fique bem e tomara que não se trate de um órfã ou morador de rua porque ficarei bem fodida. No entanto, ele não parece ser um menino de rua, ele se veste bem, está limpo e saudável. Me levanto não aguentando mais ficar sentada me sentindo uma inútil. Confiro o relógio de pulso. Já estou a mais de meia hora aqui.

Ouço vozes e olho para trás, a tal paramédica ao lado do mesmo policial que me interrogou caminham pelo corredor até a bancada de atendimento e logo atrás surge um homem negro vestido numa roupa social impecável na faixa dos quarenta, com o cabelo raspado e uma barba bem feita. É difícil precisar a idade exata uma vez que as pessoas negras são sempre bastante joviais graças a boa genética. Só agora me dou conta de que ele se parece muito fisicamente com o rapazinho que atropelei. Me aproximo para ficar a par da situação já que também faço parte dela sem querer.

— Você deve ser a Detetive Lilith Rebel? — ele questiona curioso assim que me vê estendendo a mão com educação.

— Sim, eu mesma. Você é?... — o cumprimento apertando sua mão forte e ele abre a boca para me responder mas antes que tenha sequer tempo para isso, uma Nicol Evans surge eufórica, com os olhos arregalados e a testa franzida como de costume, gritando o nome que deve ser dele.

— Pharrell! Pharrell!

Ambos olhamos para ela. Minha Chefe o abraça visivelmente perturbada assim que o alcança.

— Meu Deus! O que aconteceu com o Jonas? — indaga com a voz embargada.

— Calma meu amor — o homem acaricia o rosto dela com delicadeza e beija sua testa com carinho.

O que está acontecendo aqui? Nicol é casada? Não pode ser, nunca vi anel nenhum no dedo dela. E esse menino? É filho deles?

Ciúmes segundo o Google =  “ a reação complexa a uma ameaça perceptível a uma relação valiosa ou à sua qualidade.”

Duvido de sua índole. Se ela é casada como pôde ter dado em cima de mim? Essa mulher é mais complicada do que imaginei. Ainda bem que não me entreguei a essa tal merda de paixão. Porém, como arrancar isso do meu coração sem me ferir ainda mais? O que a vida quer de mim me colocando no caminho deles?

Armas, Rosas e... Você! ( LESBIAN) Onde histórias criam vida. Descubra agora