Capítulo XXI

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ALGUMAS HORAS ANTES

Estacionei a uns três quarteirões do hotel de beira de estrada onde acontecerá a festa de aniversário do maldito do Dexter meia hora antes do horário estipulado. Analisei ao redor. Estranho ele ter escolhido este local para comemorar uma data tão importante para ele em que fatidicamente vai partir deste mundo. Dou com os ombros. Deve ser só impressão minha que tem algo errado. Nada pode passar despercebido por mim. Por via das dúvidas pedi minha Coruja que fosse avaliar o perímetro mas até agora ela não retornou e isso já tem uns dez minutos, o que ela normalmente levaria dois segundos para executar a missão com perfeição.

Começo a ficar tensa e saio do meu conversível. Minha Serpente está em cima do teto soltando veneno e minha Raposa ao meu lado rosnando a ponto de babar. Olho para os lados. A rodovia está deserta e o vento uiva fazendo meus pelos se eriçarem, contudo não sinto frio algum. De repente ouço um barulho de algo pesado caindo em cima do capô do meu automóvel. Me aproximo na velocidade da luz do céu que nos ilumina. É minha Coruja machucada e sem energias. Parece que foi triturada por um moedor de carne. Meu coração congela e sinto uma dor dilacerante abraçar meu âmago cruelmente. Fico fraca como se uma parte de mim tivesse sido arrancada. Minhas pernas falham mas consigo chegar perto o suficiente para me sentar e pegá-la no colo. Seu pio cheio de vida agora não passa de sussurros dolorosos e seus olhos espertos se resumem a uma chama se apagando.

— NÃO! NÃO! NÃO! — berro incrédula. — O que fizeram com você? — acaricio sua penugem branca banhada em sangue.

Ela pisca e nessas quatro piscadas tomo conhecimento de tudo que houve lá dentro. Minha Coruja revela que fui atraída para uma armadilha. Me recrimina por ter deixado minha confiança em excesso se tornar uma estupidez, que ela só não foi consumida por completo porque queriam usá-la como mensageira. Me adianta que a propriedade está tomada por uma magia negra poderosa e que foi brutalmente espancada pelos animais de poder dos meus inimigos. Olho na direção do hotel de cinco andares. Eles fizeram questão de que eu saiba que não tenho domínio no território deles.

Sinto minha Coruja mexendo as asas com dificuldade e volto toda minha atenção para ela. Sou aconselhada a recuar para que ela tenha tempo de se curar pois garante que eu irei precisar dela nesta batalha decisiva. Porém, a raiva já se alastrou por todo meu ser e eu não pretendo ir embora feito uma covarde. Vou enfrentá-los de uma vez. Ela começa a expelir uma fumaça negra de seus orifícios, não resiste mais nenhum instante e se dissolve igual pó brilhante nas minhas mãos, o que faz com que meu desejo de vingança aumente e o de justiça diminua drasticamente.

Suspiro fundo. Olho para minha Raposa e ela está disposta a entrar junto comigo. O mesmo acontece com minha Serpente que se enrola no meu pescoço. Entro no carro decidida e dou partida. Paro em frente ao prédio isolado. Fui tola em não imaginar que Dexter jamais escolheria um terreno discreto sem um bom motivo. Há apenas cinco carros estacionados. Deve haver cerca de 24 seguranças a postos. Poderia pedir minha Serpente que entrasse primeiro para estudar o que me aguarda, mas não quero mais arriscar meus protetores. O que aconteceu com minha Coruja foi um deslize imperdoável. Com certeza ele já sabe que eu sou a Vigilante Noturna e consequentemente meu irmão também está ciente da minha existência — isso explica o Senador ter reforçado o ambiente com magia. Desço, retiro minha lança do coldre preso em minha coxa esquerda, com um pequeno gesto de agitação ela fica do tamanho natural e adentro a construção sem medo. Assim que ultrapasso a entrada sinto uma energia densa minar minhas forças, mas aguento firme. Vasculho o andar inferior com cautela e não encontro nem uma alma viva, até chegar no salão de festas. Tudo indica que o hotel está fechado a um longo período. As portas flexíveis balançam atrás de mim e eu me deparo com Dexter sentado numa cadeira confortável, fumando um charuto com tranquilidade vestido num terno impecável e o cabelo liso penteado de forma perfeccionista.

Armas, Rosas e... Você! ( LESBIAN) Onde histórias criam vida. Descubra agora