Capítulo IX

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Suspiro fundo deixando minhas costas baterem no encosto da cadeira giratória. Minha mão direita alcança uma xícara cheia de café recém feito e minha boca engole generoso gole. Fito uma pilha enorme de fichas em cima da minha mesa e reviro os olhos. Estou entediada. E tenho medo dessa sensação. Sempre que me sinto assim a vontade de eliminar seres humanos inúteis como pedófilos cresce dentro de mim. Nunca pensei que gostaria tanto de matar vermes fora do meu domínio de atuação. Será que estou me transformando numa assassina por puro prazer e menos senso de justiça? Eis mais uma questão a desvendar-se... Só que não me importo mais com o que me motiva desde que meus alvos sejam extintos.

Já conheço o perfil desses homens e algumas mulheres — sim também existem mulheres pedófilas, são raras, mas gênero nunca fez caráter então não vai ser agora e não estou falando de mulheres transgêneras, porque a maior parte da sociedade tem a ideia deturpada e completamente estereotipada de que apenas pessoas de pênis que cometem esses crimes atrozes — de cor e salteado. É inevitável me lembrar do meu próprio pai. Ele nunca usou o membro asqueroso em mim, mas tinha uma criatividade horrenda para me molestar. Ele me obrigava a tocá-lo e também me tocava só que sem penetrações. Resumidamente um estupro não é só a penetração do pênis. Ou seja, em alguns casos, a castração química não é uma solução definitiva. Há uma série de fatores internos e externos que devem ser seriamente analisados e por este motivo acho mais fácil exterminá-los do que tentar salvar alguém que não pode ser salvo ou poupado e punição nem sempre é eficiente. Mesmo que não possa mudar o passado nem aliviar meu sofrimento, posso evitar que novos atentados aconteçam e outras vidas como a minha e de milhares de pessoas sejam destruídas. Para a maioria dos profissionais da saúde mental pedófilos e estupradores são doentes que precisam de tratamento e resumir seus atos ao órgão sexual e ao hormônio é um engano principalmente levando em consideração que pessoas de vagina também estão incluídas. Confesso que este é um dos motivos de eu odiar ter contato físico com outras pessoas. Eu acabo me recordando das inúmeras vezes que tive que fazer isso contra minha vontade e tenho uma crise de pânico e ansiedade.

Pensar em Nicol a todo momento também não ajuda em nada a conseguir me concentrar. É uma atração irresistível e incontrolável. Quando dou conta de mim já estou pensando nela, relembrando seu temperamento difícil, por vezes grosso e indiferente, seu sorriso encantador, seu olhar duro e cheio de vivacidade, e o mistério que paira sobre sua aura. Não nego que se tornou uma necessidade saber mais sobre ela, mas assim como eu, minha Chefe pretende manter sua vida pessoal sob discrição. Destino? Bah, nunca acreditei nessa baboseira mas tenho que admitir que a vida tem me colocado em situações que não se limitam a apenas coincidências. O que tem por trás disso tudo só deus sabe, se ele existisse é claro. Sou ateia. E se deus existisse, ele seria um filha de uma puta muito cruel e covarde. Pessoas boas, inocentes e indefesas sofrem, e isso não é justo! Só comentei para não perder o hábito de culpar alguém por alguma merda.

Se ela soubesse o que faço além do Dp jamais teria dito que eu cumpro as leis com disciplina e lealdade.

O fato é que, eu tenho que engabelá-la o quanto for capaz. Por isto, organizo as fichas de maneira aleatória, completamente fora da ordem que eu estipulei como sendo “ O Vigilante Noturno”, uma vez que o senador se tornou a pedra no meu sapato. Estou literalmente investigando com os olhos dele. Porque se ela inventar de vigiar esses malditos que ainda estão soltos para me pegar no flagra eu estarei totalmente ferrada e definitivamente não quero que isso aconteça. Nicol é esperta e não sei até onde conseguirei seguir com meus planos.

Junto todos os papéis e saio da minha sala. O silêncio no setor é geral e a maioria das lâmpadas estão apagadas. Confiro o horário no meu relógio de pulso. O expediente acabou faz tempo e eu perdi a noção de horas, dou de ombros e caminho um pouco apressada até a sala de Nicol, também não é para menos porque cheguei bem tarde aqui devido os últimos acontecimentos inesperados. O rapaz da limpeza está no corredor dos elevadores e ignora minha presença. Espero que a sala da minha Chefe não esteja trancada. Quero que ela chegue amanhã e já se depare com meu trabalho mal feito pronto, só que ela não sabe disso e vai ficar orgulhosa de mim. Admito que quero impressioná-la, e se eu não fosse a Vigilante Noturna juro que já teria descoberto a identidade dele. Não brinco em serviço.

Armas, Rosas e... Você! ( LESBIAN) Onde histórias criam vida. Descubra agora