Capítulo XIII

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— Onde pensavas que estava indo? — ele questiona assim que para na minha frente.

Coço a nuca desajeitadamente e omito:

— Para lugar algum ora...

— Por que você acha que consegues me enganar? Posso pertencer a Terra mas não sou nenhum tolo. Você só não me deu as costas porque te vi a tempo de impedi-la — seus olhos duros me encaram sem piscar.

— Eu só não queria incomodar a dancinha da chuva de vocês! — explico com um ar zombeteiro avaliando-o vestido apenas numa bermuda de algodão desbotada. Em seu corpo não há pelos, é todo liso mas não parece ser adepto de depilação a laser, creio que deve ser algo na nossa genética porque aparentemente inexplicável eu também sou assim. — Aliás, melhor eu retornar uma outra hora. Nos falamos depois. Tenho que voltar pro Tennessee. Minha Chefe vai me matar por eu ter me dado uma licença por conta própria — argumento me valendo da ótima desculpa. Nicol deve estar mesmo que nem louca atrás de mim.

— Tu ainda não entendeste que isto aqui — olha ao redor por um breve instante e volta a fixar suas íris escuras com as escleras avermelhadas nos meus contendo uma bufada — não é brincadeira. Nada é por acaso e sua existência não é em vão. Pare de tentar fugir de si mesma. Quanto mais faz isso mais sofrimento desencadeia para si própria.

É minha vez de soltar o ar dos meus pulmões com vontade:

— Isso aqui é uma grande loucura para mim...

— Loucura é você ter dirigido por horas em alta velocidade por pouco não causando um grave acidente em busca de descobrir mais sobre sua origem e decidir abrir mão de um mundo novo por puro preconceito.

— Não é preconceito. É medo! — assumo descontrolada com minhas ânsias gritando mais uma vez.

O velho levanta a pouca sobrancelha direita:

— Então está mais do que na hora de se livrar do que te impede de crescer e encarar o desconhecido...

— É fácil para você dizer isso já que não foi adotado por um maldito pedófilo que destruiu sua existência! — rebato nervosa com o tom de voz alterado.

— Eu sinto muito mas tudo tem uma razão de ser... — ele retruca com a voz mais serena.

— Sente muito? Razão? Você não sente muito. Por sua culpa minha mãe deixou essas terras e não existe razão para uma pessoa ser abusada sexualmente até não suportar mais!

— Sua mãe fez a escolha dela. Eu jamais a abandonei. Ela só foi embora porque quis. Luz da Lua estava insatisfeita com a vida que levava na reserva e queria conhecer novas pessoas e lugares... E inevitavelmente — dá de ombros — teve que lidar com as consequências.

— Como sabe de todas essas coisas? Você sabia que eu sou sua neta quando me viu no restaurante ontem... — deduzo embora já saiba a resposta.

Ele faz que sim com a cabeça e caminha de volta a fogueira. O sigo.

— Ei, não foge de mim. Não queria me dizer a verdade? Pois então... Agora eu quero, quero não! Faço questão de ouvir tudo! — exijo balançando o dedo energicamente em sua direção já andando ao seu lado. O grupo de sete índios, sendo eles três homens e quatro mulheres que ainda continuam em volta da fogueira porém agora nos acompanhando, ajoelham-se entorno do círculo e abaixam a cabeça quando me aproximo. — Mas-mas o-o que é isso? — pergunto espantada com a atitude submissiva deles.

— Estão te cumprimentando... — meu avô me explica.

— Para quê? Por quê?

— Seu regresso.

Armas, Rosas e... Você! ( LESBIAN) Onde histórias criam vida. Descubra agora