Capítulo X

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— Ham, você não quer entrar pra tomar uma taça de vinho para relaxar do longo e desgastante dia?! — Nicol me convida e eu olho para ela sem saber o que responder. Ainda estou perplexa.

Recapitulando...

Cerca de meia hora antes estávamos discutindo no seu gabinete pouco tempo depois de eu encontrá-la chorando as pitangas, e uns dez minutos após nossa intensa troca de farpas e declarações inesperadas das duas partes, eu a agarrei como uma maluca que acabou de fugir do hospício e há muito tempo não tinha nenhum contato carnal. Minha Chefe me correspondeu e assim que conseguimos nos separar depois de muitas carícias famintas e beijos avassaladores, ela questionou porque eu havia mentido sobre minha sexualidade. Não soube o que explanar e simplesmente garanti que a única coisa que ela precisa saber de mim é que eu a quero tanto quanto ela me quer e isso foi o suficiente para eu não ser mais interrogada, ao menos por enquanto. Felizmente ou nem tanto assim, porque eu já estava quase tirando as roupas dela e não faço ideia no que nosso recém e súbito envolvimento sexual iria dar, o faxineiro nos interrompeu e tivemos que sair do Departamento. Como ela não está psicologicamente equilibrada devido os últimos acontecimentos conturbados me ofereci educadamente para que deixasse o carro na garagem do prédio e aceitasse minha carona. Ela não discordou e aqui estamos nós; em frente a casa dela.

— Lilith? Me ouviu? — insiste visto que eu não respondi sua pergunta.

— Ah, eu não sei... — hesito insegura. Tenho medo do quão longe podemos ir se ficarmos sozinhas de novo.

— Ei, — sua mão quente e delicada segura meu pulso uma vez que minhas duas mãos trêmulas repousam no volante. Pelo menos não vomitei, mas a ansiedade e o pânico fazem uma festa dentro do meu ser. Não sei se fico mais gelada do que já estou ou se mais excitada com seu toque. Quem estiver lendo isso não ria de mim. Vocês não têm sequer noção do que estou sentindo, embora possam fazer uma vaga ideia. Eu não sei quais são de fato as intenções da minha superior, ainda que saiba. — Eu não vou te pressionar viu? — me garante com um olhar cortante. — Se o seu medo é esse! Eu já entendi que você não deseja falar da sua vida pessoal e dos seus motivos para ter me engabelado. Vou dar o tempo que você precisa pra se abrir e mesmo que essa hora nunca chegue, vou procurar entender e eu te respeito acima de tudo, ainda que eu tenha dado outra impressão. Controlar os desejos é uma missão quase impossível às vezes... — arfa levemente envergonhada — E, todos nós temos fantasmas e demônios a encarar. — o que ela está dizendo? Será que desconfia de algo? Não. Deve ser só mais uma peça que minha mente quer me pregar. Estou tendo uma crise e fico paranóica, mas convenhamos que Nicol é bastante madura e tenho que manter a atenção redobrada para não deixar soltar algo no ar que me prejudique. E essa facilidade que ela tem para expressar os sentimentos e as convicções em palavras? Queria ser assim. — Eu só quero desfrutar um pouco mais da sua companhia até sentir sono — prossegue com um tom calmo e aparentemente indefeso de me surpreender e me hipnotizar. —Prometo deixar você chegar mais tarde amanhã... Você merece. Está dando seu melhor no caso e acho que devo te recompensar por te alugar tanto — finaliza com um sorrisinho amigável.

Sorrio de canto:

— Não é necessário. Também gosto da sua companhia. Vou entrar sim — decido. Como ela mesma disse acho que chegou a hora de eu enfrentar meus demônios interiores e ver onde toda essa merda e fodolência da minha vida vai dar.

A vejo sorrir satisfeita sem ausência de som e abrir a porta do meu conversível com ansiedade e um ar de alívio. Faço o mesmo e ambas saímos do carro. Ainda na entrada, eu fico alguns segundos parada como se meus joelhos estivessem congelados.

— Vamos? — ela indica a porta já aberta com o queixo. — Eu não mordo! A não ser que me peça — dá uma risadinha e uma piscada insinuativa e eu me pego rindo e coçando a nuca desajeitadamente.

Armas, Rosas e... Você! ( LESBIAN) Onde histórias criam vida. Descubra agora