Candy.

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[Sexta-feira, 11 de outubro de 1997]


— Bem aí, você tá capturando esses movimentos, certo? — Sussurrava para o câmera enquanto me abaixava para ficar na mesma direção. — Não perde... Foca na face, na expressão sofrida.

Encarei o ator mirim que estava jogado no chão em cena, Myo Narai era um excelente ator, apesar do meu medo de atores mirins – os quais achava difíceis de lidar. Myo mostrava que era tão maduro quanto um adulto.

— Olha para a câmera, Myo. — Falei alto, mas não tanto. — E passa dela para pegar o urso... Pode ir.

O garoto logo me obedeceu e com a mesma expressão sofrida passou pela câmera que o filmava. Se arrastando no chão, Myo pegou o urso e então virou-se de barriga para cima encarando o teto, exatamente como tínhamos combinado. A câmera pela qual ele havia passado já havia sido retirada do meio do caminho. Fui até a pequena televisão observando a câmera do teto pegar todo o plano: Myo ao chão abraçado com o urso, sua feição de choque, suas respiração falha e todo o ambiente em que o quarto do personagem havia virado. Uma verdadeira bagunça por causa do surto de raiva do pai. Aquele plano estava ótimo, e era o último daquele dia.

— E... Corta!

Encarei o ator mirim se levantando do cenário e o aplaudi enquanto caminhava até ele. Me abaixei em sua direção o vendo sorrir com o rosto ensanguentado, graças a maquiagem, e me curvei rapidamente.

— Myo... — Comecei a agradecê-lo com meu melhor japonês. — Muito obrigado por seu 'trabalhar' duro. Gravamos muito hoje e agora é hora de descansar, sim? — Ele gentilmente balançou a cabeça positivamente. — Você foi incrível. Muito obrigado mesmo, Myo.

Ele fez uma breve reverência e logo correu para seus pais que pareciam muito emocionados vendo o filho ir em sua direção com o ursinho da cena em mãos. E eles realmente deveriam, Myo tinha tudo para ser um excelente ator de sucesso. Parei de olhar na direção de ambos quando Nakamoto Yuta se aproximou, provavelmente para conversar com os pais e com o garoto de modo que os mesmo se familiarizassem e não se sentissem tão alheios no estúdio. Eu era muito grato a ele por isso.

Estava cansado, havia sido uma semana e tanto e as gravações de sexta-feira pareciam ainda maiores e mais pesadas porque todos estavam malucos para voltarem às suas casas ou curtirem suas vidas, já que aos sábados trabalhávamos apenas após as 12h. Contudo, naquela sexta-feira todos estavam mais do que eufóricos para irem embora, porque depois de recuperado um dos dois dias de atraso, resolvi dar uma pausa nas gravações. Os atores e a equipe estavam trabalhando duro e precisavam de tempo e descanso. E mesmo com Herb discordando, dizendo que minha mente boazinha estava atrapalhando tudo, mantive minha decisão. Também precisava de um tempo para mim.

Após pegar minhas coisas não fui capaz de questionar se precisavam de algo e muito menos me meter nos trabalhos alheios. Toda a equipe estava arrumando suas coisas para ir embora, nos encontraríamos apenas às seis da noite para uma reunião onde discutiríamos as gravações e colocaríamos o roteiro em dia. Basicamente seria um ótimo sábado de folga e nenhum ator ou assistente precisava comparecer, apenas a equipe.

Eu estava me sentindo confortável já que teria uma sexta a noite só para ver televisão, talvez rabiscar algumas coisas e enfim dormir as oito benditas horas de sono, se tudo desse certo. Desde que Emmet tinha ido embora, me afundei ainda mais no trabalho e se ele achava que não era algo possível, estava muito enganado.

Provavelmente algumas pessoas da equipe estavam de saco cheio em me ter ainda mais por perto questionando se estava tudo bem, se precisavam de ajuda ou me metendo sem ser chamado. Contudo, se não me entregasse a única coisa que ainda me fazia feliz, iria desabar.

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