Capítulo 5

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- Amanhã não estou cá ao final do dia. – avisou-o, enquanto apanhava os lençóis já secos. – Vou jantar a casa de uma amiga.

- Ah, eu também não posso amanhã, calha bem. – comentou, agarrando nas pontas do pano e ajudando automaticamente. – E ainda não falámos sobre o preço das aulas. – tinha de definir isso para não se sentir abusador.

- Ontem não fizeste nada para além de dormir. Hoje já me ajudaste a lavar a roupa. – enumerou – Está saldado.

- Não Senhora! Isso não tem jeito nenhum. – reclamou honestamente incomodado.

- Já disse. – repreendeu-o no mesmo tom com que se dirigia a Filipe.

- Teimosa.

- Pois sou.

João não insistiu mais, não valia a pena estarem a acabar o dia zangados. Iria falar com Elisabete, a mulher de César e ficaria a saber quanto custava uma aula. Não queria cá pagamentos de hippies, e ela de certeza que precisaria mais de dinheiro que ele.

- Tudo bem. Mas vais lavar lençóis todos os dias? É que isto cansa. – brincou, levando-lhe os panos dobrados para dentro de casa, não sem que ela reclamasse desse gesto.

- Não sei com que regularidade pensas vir ter aulas. – disse de forma prática – Eu estou sempre em casa depois do almoço, só dou aulas de manhã e durante uns meses não vou fazer voluntariado. Ainda não recuperei totalmente das últimas visitas. – explicou, sentando-se no sofá com as pernas esticadas na mesinha de centro.

- E namoradas? – provocou ele, curioso com esse lado pessoal dela.

- Por agora estou livre. – respondeu meio incomodada, tentando disfarçar.

- Então, se não te importares, venho de segunda a sexta. – disse encostando a cabeça no cadeirão e sentindo-se a ceder ao cansaço.

- Ok, isso vai-te sair caro. Não tenho roupa suficiente para lavares. – gracejou, genuinamente satisfeita por saber que iria ter a companhia dele diariamente.

- Também sei passar a ferro.

- Sabes? – perguntou espantada.

- Não... - sorriu e fechou os olhos que lhe pesavam toneladas, adormecendo instantaneamente.

- Pronto. Lá vai ele outra vez... - levantou-se e tapou-o com uma manta que tinha sempre por ali para se aconchegar a ler, dirigindo-se depois à cozinha para começar a fazer o jantar. Era muito estranha aquela necessidade que ele tinha de dormir, andaria de noite acordado?



- Estava quase para ir à polícia denunciar um desaparecimento. – gracejou Salvador feliz por ver de novo o amigo e cumprimentando-o efusivamente.

- Então, estás bom? Tenho andado ocupado. – explicou, pedindo-lhe um fino e uns aperitivos.

- É muita gaja, não é? Eu compreendo. – provocou o amigo sorridente.

- Por acaso é só uma, mas é lésbica. – respondeu João satisfeito com a cara de horrorizado de Salvador.

- Quê? Mas agora viraste lésbico? – brincou curioso.

- Não, ando a ter aulas de Yoga ao final do dia, e a minha professora é lésbica. – explicou bebendo o fino quase todo.

- Mas que confusão. – exclamou abanando a cabeça – Bem, eu também já andei no Yoga, mas fartei-me. Ao menos é boa?

A Mala VermelhaOnde histórias criam vida. Descubra agora