1º ano do ensino médio
Nossa escola do ensino médio era um pouco maior que a anterior, mas em um bairro tão pequeno todo mundo ali se conhecia desde pequeno e havia pouca ou nenhuma novidade em mudar de prédio.
Isso até Zabdiel ser anunciado como aluno novo e justamente na minha turma. Foi um alvoroço no primeiro dia e todo mundo queria sentar com ele no intervalo e enchia o pobre garoto de pergunta.
Eu respeitei seu espaço e só falei com ele no dia seguinte, dando as boas vindas e dizendo que éramos mais legais do que aquela primeira impressão. Ele sorriu e me agradeceu e foi só isso.
Até que Mark e sua turma fizeram uma festa para comemorar o início de ano letivo. Na verdade, qualquer coisa era motivo para eles darem uma festa e era basicamente a única diversão que tínhamos ali por perto.
Então, quando chegou o sábado estávamos todos animados e eu me arrumava em excesso, ainda sem saber muito bem como me maquiar. Quando chegamos lá, era apenas a garagem enfeitada e uma caixa de som tocando música bem alto.
Dançávamos e ríamos, aproveitando o tempo juntos. Zabdiel havia sido convidado e estava conversando com os meninos e aí, Mark tem a brilhante ideia de brincarmos de verdade ou desafio.
Eu sabia que era uma má ideia desde o começo, mas todo mundo topou então eu me sento ao lado de Sophia, minha melhor amiga da época.
- Desafio – Zabdiel diz quando Mark gira a garrafa e cai nele.
- Eu desafio você a beijar a Camila – eu sabia que ele ia falar algo assim e protesto.
- Pensei que essas coisas não iam valer – respondo e Mark ri.
- Não tem regras, agora para de graça – vale dizer que ele era bem infantil.
- Eu aceito, mas não quero plateia – Zabdiel diz e eu fico em choque. Os meninos concordam, então ele se levanta e eu sou obrigada a ir junto enquanto os demais continuam jogando.
Sigo caminhando de braços cruzados atrás dele. Eu já tinha beijado, mas pelo amor de Deus, eu tinha trocado duas palavras com esse garoto, não tinha a menor intimidade e sabia que Mark só havia feito isso pois eu tinha recusado a ficar com ele tempos atrás.
- Eu não vou beijar você – Zabdiel diz se recostando na parede.
- O quê? Está falando sério? – eu estava surpresa.
- Sim, sabia que aquele garoto não ia te deixar em paz então te livrei dessa. Acho essas coisas uma idiotice – ele sorri de leve.
- Nossa, obrigada eu acho – dou risada – Pensei que você era um babaca igual o Mark.
- Eu sou meio à moda antiga, mas não conta pra ninguém – eu faço que tranco minha boca – E me diz, vocês são amigos a muito tempo?
- Desde a infância, o bairro é pequeno então foi todo mundo da mesma escola desde sempre – rio – Por isso que agora que você chegou está todo mundo te rondando, você é a grande novidade.
- Logo vão descobrir que eu não sou tudo isso.
- Duvido – falo um pouco alto demais – De onde você veio mesmo?
Ele ri da minha tentativa de desconversar – Porto Rico. Sai de lá pois meu pai recebeu uma proposta de emprego melhor, e minha mãe é cabeleireira então vai tentar abrir um salão por aqui.
- Sério? Então ela já tem a primeira cliente, estou precisando mesmo cortar o cabelo – balanço o cabelo para mostrar.
- Ela vai adorar – ele sorri e eu noto que ele tem covinha, que o deixa ainda mais bonito – Vamos voltar? Ou sei lá, o que vão pensar.
Faço uma cara assustada e concordo, seguindo ao seu lado enquanto caminhamos.
- E aí, foi bom? – Mark pergunta sendo inconveniente como sempre.
- Ótimo – Zabd responde e pisca para mim.
...
Como prometido, depois de poucos dias eu estava na casa da dona Noemi, mãe do Zabd, que cortava meu cabelo e me tratava como se me conhecesse a anos. Eu ria de suas histórias sobre o filho e em como ela estava animada com a mudança.
A partir disso, eu e Zabdiel nos tornamos inseparáveis. Fazíamos trabalho juntos, saímos com o restante da turma e vivíamos na casa um do outro.
- Corre Cams – ele diz quando estamos na aula de educação física – Você está muito para trás.
- Eu não aguento mais Zabd – paro para respirar – Sério, acho que estou com câimbra.
- Você se alongou? – ele me olha e sabe a resposta pela minha expressão – Dá aqui sua perna.
Ele então me ajudava, não sem dar um monte de sermão e eu ficar fingindo que prestava atenção e não ia mais fazer isso.
Nossa relação era leve e despreocupada e ele era meu companheiro para todas as horas.
- Vocês parecem irmãos – Mark comentava rindo – Irmãos que já se pegaram não é.
Revirei os olhos e sai de perto dele. Nunca tinha pensado nisso, mas será que ele me via assim? E eu, o via dessa maneira?
Afastei esse pensamento para não estragar minha amizade com Zabd, mas pouco tempo depois tive a confirmação que não via ele como um irmão.
- Eu estou namorando com a Ashley – ele me diz um dia em sua casa.
- Você o quê? – eu pergunto chocada.
E então ele começa a contar de como eles já tinham saído algumas vezes, como ela era especial e eu só ouvia.
- Você está feliz por mim? – ele pergunta sorrindo. Suspiro, como eu poderia falar alguma coisa ruim para ele?
- Claro que estou Zabd, você feliz eu também fico – e então ganho um abraço apertado.
...
Eu acabei me afastando um pouco dele pois Ashley tinha ciúmes de mim, mesmo que não admitisse, pois arrumava qualquer desculpa quando Zabdiel inventava de passar algum tempo comigo.
Nossos trabalhos foram ficando cada vez mais difíceis de fazer, até eu trocar de dupla e ele já não me ajudava na educação física.
Depois de alguns meses distantes, nossa reaproximação se deu por conta de dona Noemi. Ela não gostava da nora e implicava com qualquer coisa que Ashley fazia, ao mesmo tempo em que me incluía em tudo o que fizesse, inclusive na inauguração de seu salão.
- Uma pena sua namorada não ter vindo filho – ela fala em tom de falsa tristeza – Mas pelo menos sua melhor amiga está aqui e você não ficará sozinho.
Ela pisca para mim e sai, me deixando a sós com Zabd. Depois desse episódio as coisas melhoraram e ele entendeu que não tinhacomo me deixar de lado.
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Crossed Ways
FanfictionAs frases clichês sempre fizeram parte da minha. "O que tiver de ser, será", " O destino se encarrega de tudo" eram mantras na minha vida e eu levava muito a sério. Eu estava com 20 anos, longe de casa quando reencontrei Zabdiel de uma maneira que n...