Eu caminhava animada após sair da entrevista de emprego na agência de publicidade que eu tanto almejava trabalhar.
A entrevistadora me pareceu contente com meu currículo e com o que eu apresentei e eu estava confiante que tinha uma chance real de conseguir.
Assim, eu seguia sorrindo em direção ao Big Bob, a lanchonete onde eu trabalhava meio período e me permitia pagar o aluguel do apartamento que eu dividia com minha melhor amiga, Rebecca.
Eu fazia faculdade de Publicidade e Propaganda na Universidade da Califórnia em Los Angeles e havia deixado minha cidade natal, São Francisco para trás. A princípio eu tinha optado pelo alojamento no campus, mas logo vi que ia ter dificuldades.
O primeiro problema foram os banheiros coletivos. Ninguém tinha seu próprio banheiro, tínhamos que dividir com todas as garotas do andar e vivia lotado em absolutamente todos os horários, sem falar da falta de privacidade.
O meu segundo problema foi minha antiga colega de quarto. Nós nos demos bem no começo mas ela logo se envolveu com um grupo estranho e passou a achar que nosso quarto era motel, levando uma quantidade absurda de caras para passar a noite com ela.
Aguentei muita coisa durante um ano, até encontrar o emprego de garçonete e um mini apartamento onde eu tinha água quente e não me preocupava com quem ia me ver de calcinha e sutiã.
Chego no trabalho apenas trinta minutos atrasada e corro para me trocar. Eu já havia avisado Bob, meu chefe mas não gostava de atrasar. Sabia que o período da tarde era o mais lotado e todo mundo era necessário.
- Então, como foi lá? – ele pergunta assim que me vê.
- Foi bom acho, estou esperançosa de verdade dessa vez – eu já havia mandado meu currículo mas eles negaram dizendo que eu estava apenas começando a faculdade.
- Você vai conseguir, nunca vi uma garota tão talentosa igual a você – ele sorri e eu também. Bob era um homem de meia idade mais animado que eu conhecia, e cuidava de seus funcionários como se fossem seus filhos.
- Obrigada Bob. Ainda vai demorar para sair o resultado então não vou te deixar na mão – pego meu bloco de anotar pedidos.
- Deixa disso, você tem vinte anos e eu quero que comece logo na profissão que escolheu. Eu sempre dou meu jeito – ele pisca e eu me afasto.
Recolho alguns pratos e percebo um homem com o rosto enfiado no cardápio. Vendo que ninguém o atendeu, eu me aproximo.
- Boa tarde, o que eu posso ajudar?
Os segundos seguintes parecem ter demorado muito mais tempo do que realmente levaram. O homem abaixa o cardápio, com uma expressão surpresa e eu preciso de todo autocontrole para não cair para trás, literalmente.
Zabdiel. Eu não o via desde que tinha saído de São Francisco para vir estudar em LA. Reparei nele, seu cabelo estava descolorido e ele vestia uma camisa verde e uma calça jeans clara.
Ele abre um sorriso e percebo sua covinha que eu tanto gostava. Puxa, parece que foi ontem.
- Cams! Quanto tempo – ele se levanta para me dar um abraço e eu retribuo.
- Três anos, mas parece que foi ontem – sorrio e ele se senta – Está de visita?
- Na verdade não, estou de mudança para cá.
- Você vai vir morar aqui em Los Angeles? Sério isso? – eu estava chocada.
- Sim, de volta a costa dourada – ele brinca com o saleiro – Minha mãe está em êxtase.
- Imagino – sorrio ao lembrar dela – Mas e o que aconteceu com Nova York e sua universidade de música? Não vai me falar que desistiu...
- Não, jamais – ele ri – Recebi uma proposta de uma gravadora para trabalhar aqui e não pude negar. Eu já estava desistindo da faculdade mesmo, não era nada do que eu pensava.
- Nossa, que mudança – suspiro – Então eu vou te ver cantando?
- Não ainda, vou trabalhar mais com os músicos por enquanto mas eles prometeram me dar uma chance de conhecer minha música.
- Fico feliz por você e bem-vindo a cidade – sorrio – Agora, qual é seu pedido?
- Ei, você ainda não me contou porque está trabalhando aqui? Não largou a faculdade também, não é? – dou risada.
- Não, trabalho aqui para pagar o apartamento em que vivo. Morar no campus não foi a melhor ideia que eu tive, mas já estou procurando algo na minha área.
- Espero que consiga logo – ele sorri – O milk-shake daqui é bom?
- Delicioso, você definitivamente tem que experimentar o de morango.
- Eu vou querer, e um hambúrguer com cheddar e bacon por favor – ele me entrega o cardápio, eu anoto e saio.
Paro um pouco na cozinha para que meu coração desacelere. Minhas mãos tremiam levemente e eu respirava fundo para me acalmar.
- Está tudo bem? – o cozinheiro pergunta. Eu apenas assinto e volto para o salão.
Fico distante da mesa de Zabdiel até chegar o momento de levar seu pedido e ele está prestando atenção ao seu celular e eu saio rapidamente.
Quando ele termina e pede a conta, me aproximo e ele sorri novamente.
- Estava tudo incrível, obrigado – ele pega um papel – Mudei de telefone, me liga quando tiver um tempo livre, vou precisar de ajuda para conhecer a cidade.
- Claro, a gente se vê por ai – eu guardo o papel e dou um passo para trás mas ele segura minha mão.
- Eu adorei te encontrar de novo Camila, espero que possamos nos ver muitas vezes mais – ali estava a bendita covinha de novo.
- Eu também espero – sorrio de leve e me despeço.
...
Nem percebo o caminho até em casa, meus passos são dados de maneira inconsciente e eu me pego lembrando da minha adolescência, quando eu conheci Zabdiel e vivia na minha antiga cidade. Dou um sorriso quando me lembro que não sou mais aquela garotinha, mas algo dentro de mim parece não ter mudado.
- Ei – digo para Rebecca assim que entro no apartamento – Pizza?
- Precisamos comemorar! Meu chefe do estágio elogiou meu trabalho e você logo logo estará no emprego dos sonhos – ela sorri.
- Eu ainda não sei Becca, fiquei animada mas são muitos concorrentes – guardo a bolsa e vou ajuda-la.
- Eu sei e você vai ganhar de todos eles – ela pega seu pedaço – E aliás, nós nunca mais comemos nenhuma besteira, a gente merece.
Sorrio e me junto a ela no sofá. Vemos alguns episódios de nossa série favorita e eu me preparo para dormir.
- Mas já? Está cedo – Rebecca reclama.
- Longo dia hoje – me inclino para dar um beijo em sua testa e vou para meu quarto.
Só tem uma cama e um guarda roupa, mas eu gosto da vista da cidade. Me inclino na janela para admirar as luzes e deixo o pensamento correr para alguns anos atrás.
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Crossed Ways
أدب الهواةAs frases clichês sempre fizeram parte da minha. "O que tiver de ser, será", " O destino se encarrega de tudo" eram mantras na minha vida e eu levava muito a sério. Eu estava com 20 anos, longe de casa quando reencontrei Zabdiel de uma maneira que n...