Camilla
Respiro fundo e tento parar de chorar. Foi assim a viagem toda, alguns momentos que eu não conseguia me controlar e acabava desabando no colo de Zabdiel.
Ele tinha insistindo em ir comigo, deixando todas as coisas para trás, campanha, entrevistas, tudo que estava planejado para essa semana.
Agora ele estava sentado me observando andar de um lado para o outro, enquanto espero autorização para ver minha mãe.
Ela tinha tido um AVC e eu ainda não tinha informações do real estado dela e das sequelas que ficariam. No momento eu só queria vê-la, qualquer outra coisa viria depois.
- Senhorita Esguerra? – uma enfermeira chama – A senhora já pode entrar para vê-la.
Assinto e lanço um último olhar para Zabdiel, que me manda forças, então sigo a enfermeira até o quarto da UTI onde minha mãe estava internada.
Nunca iria estar preparada para ver minha mãe daquele jeito. Mas ela estava viva e eu foco nos detalhes que me fazem ver que era ela mesma, que ela estava ali na minha frente.
Penso que vou desabar, mas consigo sorrir e agradecer pela sua vida. Me aproximo dela e seguro sua mão, enquanto falo o quanto ela era forte e o quanto estava ansiosa para vê-la acordada e contar as novidades.
Permaneço positiva mesmo sem ter uma resposta, nem um sinal. Algo me dizia que ela estava bem.
Saio do quarto e volto para a sala de espera, onde Zabdiel me espera de braços abertos. Não falamos nada e nem precisava, ele estava ali por mim e era tudo o que eu precisava.
...
A semana passa que eu nem percebo, a rotina no hospital era puxada e eu quase não saia de lá. Já confundia noite com dia e não tinha hora para comer e nem dormir.
Tive que expulsar Zabdiel de São Francisco, por mais que eu amasse ter ele comigo, ele tinha shows marcados e eu não queria atrapalha-lo ainda mais. Ele protestou, fez ameaças mas sabia que eu estava certa.
- Na primeira oportunidade que eu tiver, eu volto – ele havia me dito – E qualquer coisa que acontecer você me avisa que eu volto na mesma hora.
Depois disso eu fiquei incontáveis minutos abraçando ele, até não aguentar mais e pedir para ele ir.
Zabd me fazia muita falta, eu não tinha que parecer forte na sua frente, ele sabia exatamente como eu estava me sentindo.
Suspiro e afasto algumas lágrimas, decidindo ligar para Johann para me sentir melhor.
*- A namorada mais linda do mundo lembrou de mim – ele fala assim que atende.
- Oi amor, como você está? – tento em vão disfarçar a voz de choro.
- Com saudades e você?
- Levando. A minha mãe está melhor, mas ainda está em observação. Ir para o quarto foi um grande avanço – suspiro aliviada.
- Então quer dizer que não precisam mais de você aí?
- Claro que precisam! Ela ainda não está recuperada e eu não vou deixar ela até ter certeza que está tudo bem – respondo um pouco irritada.
- Mas você não pode fazer nada, isso aí é com os médicos.
- Johann, dá para você ter um pouco de sensibilidade e parar de pensar em você pelo menos dessa vez? É da minha mãe que estamos falando.
- Desculpa amor, eu sei o quanto ela é importante para você. Só não quero ver você se afundando em preocupação – ele tenta amenizar – Os médicos que podem fazer alguma coisa efetiva.
- Eu preciso desligar ok? Estão chamando aqui – inventou uma desculpa.
- Não esquece do que eu falei e me avisa se tiver alguma novidade.*
Bufo e jogo meu celular longe. Durante toda a semana Johann tem tido uma postura que me fazia questionar se eu o conhecia bem.
Ele sempre demonstrou pensar mais nele do que qualquer outra pessoa, mas eu me surpreendi ao contar para ele o ocorrido e sua primeira pergunta foi quanto tempo ia levar para mim voltar para Espanha.
Johann não estava me apoiando como eu precisava, ele não se interessava por nada do que eu falava e perguntava só o básico. Eu realmente estava chateada com essa situação, mas não conseguia pensar em resolver nada nesse momento.
O médico interrompe meus pensamentos e me chama junto ao meu pai.
- Vamos fazer uma bateria de exames nas próximas horas, só quero que fiquem tranquilos pois vai demorar para ela voltar ao quarto – então ele abre um pequeno sorriso – Mas ela acordou, vou deixar vocês conversarem um pouquinho.
Eu o agradeço tanto quanto possível e sigo abraçada com meu pai até o quarto.
Ela sorri fraco assim que nos vê e eu tenho que me conter para não correr e dar um abraço apertado nela.
- Oi mãe, eu estava com saudades – digo com lágrimas nos olhos.
- Filha... você está linda – ela diz com a voz rouca. Eu me inclino e deposito um beijo em sua testa, dando espaço para ela ficar com meu pai.
Pego meu celular e digito uma rápida mensagem.
“ Ela acordou, ela está bem. Está tudo bem”
Envio para minhas amigas, para Johann e clico no nome do Zabdiel também.
Depois de ficar mais alguns minutos no quarto, ela segue para fazer os exames e eu fico com meu pai na sala de espera.
Minhas amigas me respondem eufóricas, mas nada de Johann ou de Zabdiel.
Decido tomar um café e comer alguma coisa e chego na cafeteria ao mesmo tempo que meu celular toca.
*- Eu tinha que te ligar para ouvir sua voz animada com essa notícia – a voz de Zabdiel revela o sorriso que ele está dando – Fico muito feliz em saber que dona Esguerra acordou.
- Acordou e até sorriu para mim. Eu não sabia que poderia ficar tão feliz com um simples sorriso – respondo segurando o choro.
- Eu sei, pois eu estou feliz só de imaginar o seu – não posso evitar sorrir ainda mais – Agora mesmo eu sei que você está sorrindo e chorando e pensando em como é muito louco sentir tanta coisa no mesmo segundo.
- Eu tinha esquecido que você me conhecia tão bem.
- Algumas coisas não mudam – ele solta um suspiro – Preciso ir, mas dá um beijo na sua mãe por mim e diga que daqui uns dias estarei aí pessoalmente para cuidar dela. E de você.
- Obrigada Zabd...por tudo – minha voz falha e não consigo continuar.
- Faria quantas vezes fosse preciso sem pensar duas vezes. Você foi e sempre será parte importante da minha vida, não importa o que aconteceu no nosso relacionamento – ele diz – Eu sempre vou cuidar de você, sempre estarei aqui para o que precisar. Eu estou aqui.*
Abro o segundo sorriso mais sincero desde que tudo aconteceu com a minha mãe e consigo sentir meu coração em paz, como há tempos não sentia.
Mantenho essa declaração em minha mente o resto do dia e ela só fica mais forte a cada hora que passa, pois me transmite o sentimento que é isso que alguém que se importa falaria para outra. Não como Johann fez de não me responder nada. Nem no restante do dia e nem no seguinte.
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Crossed Ways
FanfictionAs frases clichês sempre fizeram parte da minha. "O que tiver de ser, será", " O destino se encarrega de tudo" eram mantras na minha vida e eu levava muito a sério. Eu estava com 20 anos, longe de casa quando reencontrei Zabdiel de uma maneira que n...