L.A.

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O caminho até o hotel foi uma tortura, minha mente não para de tentar entender o que tinha acontecido e o que eu tinha feito.

Eu tinha sim raiva e ciúmes da Giulia, mas porque ela não respeitava meu relacionamento com o Zabdiel mas eu nunca faria mal a ela ou a essa criança.

Que tipo de monstro eu tinha me tornado para fazer algo assim? Será que foi alguma provocação que me fez perder a cabeça e agir por impulso?

Eu nunca fui de briga, de reagir com raiva mas sabia que as pessoas não pensavam direito quando bebiam. E eu tinha bebido bastante.

A primeira coisa que eu faço quando chego no hotel é tomar um banho, queria tirar o cheiro de hospital e tentar relaxar um pouco mas é em vão.

Me enrolo na toalha e deito na cama, fechando os olhos e tentando relembrar da noite anterior mais uma vez.

Nada. Nenhuma lembrança de briga ou discussão, só me recordo de chegar perto do banheiro e Giulia me pedir para parar, pois estava sentindo algumas pontadas.

Lágrimas escorrem e eu não consigo conter, eu não acreditava que tenha sido culpada mas não tinha nada para provar minha inocência. O que eu ia fazer?

“Por favor Zabd, eu preciso de você.”

Mando a mensagem em um momento de desespero e os minutos se passam sem uma resposta, me fazendo chorar ainda mais.

Ele estava me culpando ou tentando acertar as coisas com Giulia? Será que ele tinha pensado em mim? Quando será que ele voltaria para o hotel?

Horas depois fica claro que Zabdiel não quer me ver e por isso está evitando voltar. Eu não tinha mais nada para fazer ali, então arrumo minha mala e vou para o aeroporto, negociar a troca da minha passagem.

Mando uma mensagem para Rebecca no caminho, dizendo que precisava dela e que me buscasse quando eu chegasse. Ela diz que tudo bem e pergunta o que houve, mas eu não sei como contar.

Após longos minutos, consigo trocar minha passagem mas ainda teria que esperar uma hora para embarcar.

Compro um café e uma torrada, só então me dando conta que passei o dia inteiro sem comer. Acabo pedindo mais uma torrada e depois coloco os fones de ouvido e espero.

- Camilla? – a voz grave de Zabdiel me assusta.

- Oi – respondo e vejo sua aparência.

Ele ainda está com a roupa do dia anterior, a cara de cansaço está evidente, certeza que não dormiu nada nessa noite mas o que mais me incomoda é o olhar distante.

- Não te achei no hotel – ele diz simplesmente.

- Você passou o dia fora, eu estava me sentindo mal e não via porque continuar aqui – dou de ombros.

- Estava com a cabeça cheia.

- Eu também. Como você está agora?

- Não sei como processar isso tudo – ele confessa.

- Eu também não sei, mas nenhum de nós precisa passar por isso sozinho – me levanto – Me deixa te ajudar e me ajuda.

- Cams, eu não sei o que sentir com relação a nós agora – ele nem olha na minha direção.

- Você acha que eu fiz algo de propósito? – pego em seu braço – Olha pra mim.

- Eu não sei o que pensar – ele suspira – Eu não imagino você fazendo nada do tipo, mas com a bebida e tudo mais, uma coisa pode ter levado a outra...

- Chega – peço – Eu não preciso ouvir isso, não agora.

- Cams, eu...

- Você? – instigo mas ele não termina.

- Eu vou voltar pra casa Zabd, não estou bem e estou me sentindo sozinha – falo mas é quase uma súplica. Eu precisava dele, de um abraço, de sentir sua pele.

- Tudo bem – ele diz por fim – Se é assim que você quer.

Não respondo, não tinha mais nada pra falar. Escuto meu vôo ser anunciado bem na hora e me viro para pegar minhas coisas.

Dou alguns passos e olho para trás. Zabdiel está com cara de perdido e olha para mim como quem pede desculpas. Mas não fala nada.

Ele não me pediu para ficar, não perguntou como eu estava, só soube porque eu falei e mesmo assim pareceu não ligar. Eu entendia a dor dela, até onde eu conseguia, mas sua frieza era algo que eu não conseguia lidar.

Seguro o choro no avião, tentando me distrair com um filme animado mas que eu acabo não prestando muita atenção.

Quando chego em Los Angeles, Becca me espera e eu desabo assim que a vejo.

- Amiga, estou preocupada, o que aconteceu nessa viagem? E cadê o Zabdiel? – ela pergunta em meu ouvido.

Solto um longo suspiro tentando me acalmar e enxugo as lágrimas.

- Eu te conto no caminho – digo e ela me abraça pela cintura.

Falo tudo no caminho até em casa, choro muito e no fim, me sinto aliviada. Segura.

- Cams, para mim tem alguma coisa mal contada nessa história. Você nunca foi uma pessoa agressiva, nunca fica tão mal assim quando bebe e nunca esqueceu nada do que fez bêbada – Becca diz quando eu termino de contar.

- Eu sei amiga, mas estou sem saída, é capaz que eu piore a situação só de comentar algo assim com o Zabdiel – abro a porta de casa – Você não tem ideia do quanto ele está frio.

- Dá um tempo para ele ok? E vamos pensar em alguma coisa para te ajudar a lembrar.

- Já pensei até em sessão de hipnose, mas não tenho como comprovar nada.

- Camilla! – Becca ri.

- Não ri, eu estou desesperada ok? – ela se senta ao meu lado no sofá, ao mesmo tempo que meu celular vibra.

“ Camilla, vou passar alguns dias aqui em NY, Giulia precisa de mim. Só avisando.”

- Viu – mostro a mensagem – É impossível não me sentir um monstro quando eu leio uma coisa assim.

- Como eu disse, dá um tempo para ele, logo vocês se acertam. Enquanto isso eu estou aqui – ela sorri.

- Obrigada por ser a melhor amiga do mundo, você não duvidou de mim nenhum segundo.

- Eu conheço você Cams, seu jeito e seu coração e sei que você nunca faria isso, sóbria ou bêbada – ela me abraça – Vai ficar tudo bem, você vai ver.

- Assim espero.

Desligo meu celular e me deixo ser mimada pela minha melhor amiga até pegar no sono.





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