Destino?

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Os exames mostram que minha mãe tinha perdido parte dos movimentos do lado esquerdo do corpo. Mas o médico logo a encaminhou para a fisioterapia para ajudar a diminuir as sequelas.

Ela tem sua primeira sessão logo antes de ir para casa e já deixo marcado a próxima para a semana que vem.

- Filha...-minha mãe me chama assim que eu assumo o volante. Meu pai tinha ficado em casa para ajustar os últimos detalhes da mini reforma que fizemos em casa para auxiliar a vida da minha mãe.

- Oi mãe, está confortável? – me viro para ajeita-la.

- Está tudo ótimo – ela suspira – Quando você disse para as enfermeiras “nos vemos semana que vem”, não quer dizer mesmo que você virá não é mesmo? Porque você já passou tempo demais aqui e precisa retomar sua vida, por mais que eu ame te ter aqui.

Abro um pequeno sorriso: - Mãe, eu já voltei a trabalhar...a distância mais voltei. Conversei com meus chefes da Espanha e por enquanto vou continuar auxiliando a equipe de Los Angeles.

- Isso é muito bom, mas eles não precisam de você pessoalmente? Eu não entendo dessas coisas filha.

- Precisam mãe, mas só daqui alguns dias. Vou voltar para fazer a campanha com o Zabdiel em Miami – vejo ela erguer a sobrancelha em aprovação – Mas ainda tenho alguns dias em casa.

- E você tem falado com ele? – ela tenta disfarçar olhando pela janela.

- Todos os dias. Ele tem sido um grande amigo e me apoiado bastante.

- Amigo é?

- Mãe...- a repreendo.

- Só estou verificando, não tenho escutado falar do seu namorado ultimamente – ela me encara pelo retrovisor – O que aconteceu entre vocês?

- Na verdade, nem eu sei mãe – solto um suspiro – Eu pensei que o conhecia, que ele me apoiava mas não é isso que eu vi nas últimas semanas. Eu me senti abandonada. Já falei com ele sobre isso, mas ele desconversou e não quis me ouvir mais então estou o evitando.

- Isso não é a atitude correta Camilla, você não pode fugir ou se esconder dos seus problemas. Tem que resolve-los.

- Eu não queria terminar assim, a distância mas também não tenho como voltar a Espanha agora. Estou me sentindo uma covarde – desabafo.

- Eu entendo que não é o ideal, mas você também não pode levar adiante uma relação que não te faz feliz – ela aperta meu ombro.

- Eu sei, eu sei – sorrio de leve – Obrigada mãe.

- Estou aqui filha – ela se acomoda – Agora faça o favor de acelerar ou não vamos chegar hoje.

Dou risada e acelero o carro. Mas só um pouquinho.

Passo o resto do dia ajudando minha mãe e só paro a noite para ler meus e-mails e ver se estava tudo certo com a nova campanha. A nova velha campanha com Zabdiel.

Solto um suspiro e tiro ele da minha mente por enquanto, me concentrando na próxima tarefa que era conversar com Johann. Tínhamos marcado uma vídeo chamada e eu queria tentar ter uma conversa sincera com ele, para ver se ele dessa vez entendia como eu estava me sentindo.

Esperei, uma, duas, três horas e nada. Já era de madrugada na Espanha e tarde o suficiente nos EUA e nenhuma resposta. Eu estava cansada então desço para dar boa noite para minha mãe e tento dormir.

Mas algo me faz mandar mensagem para Samantha, uma amiga que eu tinha na Espanha e conhecia bastante Johann. Perguntei se ela o tinha visto hoje e a resposta veio em cinco minutos.

“ Claro que vi, na verdade estou vendo agora mesmo. Estamos na mesma boate desde o começo da noite e posso dizer que ele está bem animado”

Era o que eu precisava ler. Me viro de lado e durmo um sono sem sonhos.

...

Assim que passo pelas portas do aeroporto de Miami sinto a onda de calor vindo com tudo. Eu não reclamava, mas queria ter vindo antes para aproveitar a praia.

No dia seguinte a mensagem de Samantha, ligo para Johann e falo tudo o que eu queria e não tinha coragem. Ele estava meio de ressaca e acho que foi por isso que escutou tudo.

Só despertou quando eu disse a fatídica frase “ é isso, nós terminamos”. Foi um escândalo todo voltado a como ele se sentia, como ele ia explicar para as pessoas, como ele ia fazer com as coisas.

Eu tinha tomado a decisão certa.

Por outro lado eu estava tranquila. Tinha deixado minha mãe bem, dentro do possível, ao lado do meu pai e eles me prometeram ligar todos os dias.

Iria voltar para Espanha depois de Miami mas ainda não tinha certeza se ficaria por lá. O país tinha oportunidades incríveis, mas ficar longe da minha família não era algo que eu queria para vida toda.

Afasto essas dúvidas e me concentro na paisagem que seria perfeito para o que eu tinha proposto para essa campanha com Zabdiel.

Ele é a primeira pessoa que eu vejo assim que chego no set mas não temos tempo de conversar sobre nada pois logo começam as gravações e fotos.

É fim de tarde quando damos por encerrado o dia e podemos ir para o hotel, eu ainda estava com a mala e pedia um táxi quando Zabdiel surge ao meu lado.

- Precisa de ajuda? – ele pergunta e eu aponto o carro.

- Só se você for dividir o carro comigo – ele sorri e abre o porta malas assim que o táxi estaciona.

Conversamos algumas amenidades até chegar no hotel.

- E como está o coração de deixar seus pais por uns dias? – ele pergunta enquanto aperta o botão do elevador.

- Semanas – o corrijo – Eu vou voltar para a Espanha por algum tempo.

- Eu não sabia que você iria retomar tudo assim tão rápido.

- Tenho assuntos pendentes lá, mas não planejo ficar.

- Não?

- Não – sorrio – Lá não é meu lugar, eu acho que é hora de voltar a morar nesse país.

- Se é isso que te faz feliz, eu sou o primeiro a apoiar – ele para na frente do seu quarto.

- Obrigada – sorrio e me viro até o quarto ao lado, que por coincidência era o meu. Ou pelo menos eu achava que era coincidência.

Entro e deixo minhas coisas, vou direto até o banheiro e tomo um demorado banho. Estou enrolada na toalha quando escuto uma batida na porta.

- Eu estava pensando em como a vida é uma loucura...- Zabdiel começa, encostado na porta mas se interrompe ao me ver – Desculpa, eu não sabia...

- Você pode esperar um minuto? – dou risada um pouco envergonhada e ele assente. O olhar que ele me lança faz meu corpo todo ficar quente e eu me atrapalho enquanto pego uma roupa.

- Sim, a vida é uma loucura – digo abrindo a porta e encarando Zabdiel – Mas o porquê dessa reflexão agora?

- Eu estive pensando em como nossos caminhos se cruzaram várias vezes nos últimos anos e isso não pode ser uma simples coincidência – ele sorri – Eu acho que tem alguma mensagem do destino para nós dois.

Ele dá um passo em minha direção e é suficiente para meu coração acelerar.

- E qual você acha que é essa mensagem?

- Vamos descobrir juntos.

Ele então dá outro passo e seu corpo fica colado ao meu. Zabd se inclina e sela nossos lábios.

Estávamos começando a descobrir a mensagem do destino.


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