Sinto muito

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Camilla

O final de semana passou depressa, talvez pela companhia de Richard que me proporcionou muitas risadas e momentos divertidos.

Ele não tinha tentado nada demais, talvez tenha percebido que tinha acontecido alguma coisa mas foi carinhoso e eu me senti bem de verdade com ele.

Agora eu estava tomando banho para despertar nessa segunda de manhã chuvosa. Estava me sentindo animada e preparo um café da manhã especial para mim e Rebecca.

- O que te deu hoje? – minha doce amiga pergunta.

- Bom dia pra você também princesa – sorrio – E nada, só quis agradar.

- Você está estranha – ela pega uma xícara de café – Quer falar sobre algo? Ou sobre alguém?

- Não, por que? – eu a observo e ela desvia o olhar – Você quer me contar alguma coisa?

- Eu? Não, claro que não – ela desconversa – Só achei estranho mesmo mas não vou reclamar.

Ela começa a comer e eu fico intrigada, mas dou de ombros e termino meu café. Becca diz que ela lava a louça e eu me despeço, indo para a faculdade.

Vejo Richard próximo a sala em que eu tenho a primeira aula e sorrio, me aproximando e dando um beijo em seu rosto.

- Bom dia lindo – o cumprimento.

- Bom dia ruivinha preferida – ele segura minha mão – Eu adorei nosso final de semana.

- Eu também e queria te agradecer por tudo, foi maravilhoso.

- Que nada – ele acaricia minha mão – Queria aproveitar e saber se você não quer ir lá em casa hoje, a gente pode assistir um filme ou algo assim.

- Assistir um filme é? – abro um sorriso malicioso – Com ou sem segundas intenções?

- O que você quiser – ele morde o lábio inferior.

- Eu aceito – falo de repente e até ele se surpreende.

- Sério?

- Sim. Que horas eu posso ir? – pergunto e vejo seu sorriso aumentar.

- Eu te pego às sete – ele pisca – Preciso ir agora, te vejo a noite.

- Até lá – sorrio e entro na aula.

Sinto um frio na barriga a manhã inteira, fazia tempo que eu não ficava assim, parece que tanta coisa ruim tinha acontecido que eu não me emocionava com quase nada.

Sigo para o trabalho animada e sou muito produtiva, sentindo o tempo passar voando novamente.

Chego do trabalho e corro para trocar de roupa, me demorando um pouco para decidir o que usar mas optando por algo confortável.

Me maquio um pouco e decido prender o cabelo, pegando uma bolsa e enviando uma mensagem para Richard dizendo que estava pronta.

Decido esperar ele na portaria, já que seu prédio não ficava tão distante mas quando saio do elevador, um frio toma conta do meu estômago quando eu vejo Zabdiel.

- Zabdiel? O que você faz aqui? – pergunto e vejo sua expressão surpresa.

- Cami? Não sabia que iria estar por aqui.

- Eu moro aqui – reviro os olhos.

- Eu sei, mas achei que você ia chegar mais tarde – ele parece estar nervoso.

- Você chegou hoje? – pergunto esperando um sim.

- Não, já faz alguns dias – ele responde e parece que eu tomei um balde de água fria.

- E não falou nada? Nem um oi, nada? – ele não responde – Você está me evitando?

Zabdiel não responde e aí eu fico brava: - Eu te fiz uma pergunta.

- Eu queria achar o melhor momento para conversar com você.

- Bom, o melhor momento era há algumas semanas atrás em Nova York – cruzo os braços – Mas ainda sim eu respeitei o seu tempo, todo seu afastamento e frieza e agora você volta e nem me diz nada?

- Desculpas Cami, eu sei que agi errado e tenho muito para falar, mas talvez esse não seja o melhor momento.

- E por que não? Você está aqui, na minha frente, pode começar a falar de uma vez, antes que suma de novo e eu nem saiba onde você está – falo furiosa.

- Cami, eu... não queria que as coisas tivessem acontecido desse jeito – ele me encara pela primeira vez – Sinto muito.

Aguardo alguns instantes: - É isso? Você sente muito? Você some por semanas e sente muito?

- Você está nervosa Cams, melhor a gente conversar em outro momento – ele se vira – Eu te ligo.

- Covarde! – grito, fazendo ele parar – Você não é homem o suficiente para ter uma conversa sincera comigo, para dizer que não consegue me perdoar e terminar tudo. Você não merece nada do que eu fiz por você, por nós.

- Não é isso, mas a maneira como as coisas aconteceram, me deixaram sem rumo.

- Só você? Só você não sabia o que fazer, como se sentir? – algumas lágrimas escapam – Eu passei por tudo sozinha, pensando em você de novo, mas eu estava me sentindo um lixo e eu fiquei calada, eu te esperei e você só diz que sente muito?

- Eu não sei o que te dizer.

- Demorou todo esse tempo para perceber isso? – rio sem humor – Palmas para você!

- Camilla, eu...

- Não, eu não quero escutar mais nada, aliás, você não tem mais nada para falar. Mas eu que sinto muito, por perder tanto tempo com você.

Saio antes que ele fale algo e encontro Richard na porta me esperando.

- Rich, me desculpa, eu...- tento falar mas já estou chorando.

- Ei, vem cá – ele me abraça e não fala nada por alguns segundos – Quer ficar em casa?

Balanço a cabeça em negativa e ele me coloca no carro, eu só agradeço e fico em silêncio até chegarmos em seu apartamento.

- Sei que não é a noite que você esperava, mas eu não imaginava que iria ficar tão mal – digo enquanto me sento em seu sofá.

- Está tudo bem, você está aqui comigo e é só o que importa – ele tira meu cabelo do rosto – Quer conversar sobre isso?

- Acho que você não vai querer saber...

- É sobre aquele altão lá? – ele debocha – Pode falar, prometo não julgar tanto ele.

Então eu faço um resumo de toda a história e mesmo com a promessa, Richard fica revoltado.

- Nunca que você foi a culpada de algo assim e esse cara é um idiota por não saber disso – ele diz – Foi armação dessa louca, eu tenho certeza.

- Ela não faria algo assim Rich.

- Você é muito boazinha Cams, tem gente disposta a tudo para conseguir o que quer – ele finaliza – Tudo.

Fico pensando nisso, mas me obrigo a deixar para lá quando ele propõe ver um filme de comédia que me faz um pouco melhor.

Depois, Richard me deixa em casa, subindo até meu apartamento e se certificando que eu não iria ver Zabdiel de novo.

- Qualquer coisa é só gritar que eu venho correndo – ele beija minha bochecha.

- Obrigada pela noite e por ficar do meu lado.

- Sempre que precisar ruivinha, não estou brincando – ele pisca e sai, me deixando sozinha com meus pensamentos que me fazem ficar acordada quase a noite toda.


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