24 teus olhos

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Olá estava com saudades e queria postar algo antes do natal então. Espero que goste e me avisem se estiver algum erro. 

Entrar nessa casa me faz sentir uma menina novamente, tantos sonhos pude imaginar aqui, meu pai sempre foi meu herói nunca deixou de me apoiar e me incentivar. Agora de volta, não entendo como pude fugir por tanto tempo.

- Pai, você quer ficar em um dos quartos aqui em baixo? Talvez seja muito esforço subir escadas.

- Não querida, quero ficar lá em cima, meu filhão me ajuda, vamos de levinho. - Subo na frente e está tudo limpo e cheiroso.

- Nossa, Soraia tem cuidado direitinho de tudo.

- Não seja boba Meg, quem arrumou tudo foi dona Rita. - sorrimos cúmplices para nosso pai que faz cara de paisagem.

- Vou tomar um banho e voltar para ficar aqui com o senhor.

- Pode deixar Meg, eu já organizei tudo, vou dormir aqui com papai. - Antony mostra o colchão no canto do quarto.

- Tá, a gente reveza então.

- Não sou bebê, sabia? Posso dormir sozinho. - nosso pai se manifesta contrariado.

- Claro que pode paizinho, é que você tem horário de remédio. E nós queremos ficar pertinho do senhor. Vai rejeitar carinho e atenção de seus filhos? - falo pertinho, quase dengosa.

- Você não em jeito boneca, sempre me leva no papo. Vem cá, sua chave do quarto está na gaveta aqui. - ele me indica o criado ao lado da cama.

- Mas por que tá trancado? - pego a chave estranhando.

- Não conhece a sua irmã? Ela queria entrar lá e bagunçar tudo. Aquele é seu cantinho, está tudo do jeitinho que você deixou. - Ele me pisca com seu eterno olhar cheio de amor.

Entro no quarto e realmente está como deixei, as fotos do Leonardo Di Caprio nas paredes, minhas almofadas de coração e a colcha de cetim rosa. Abro o guarda-roupa e vejo meu pijama de ursinhos ao lado de minhas camisas de banda e meus jeans velhos. Tudo muito perfumado como se estivesse apenas esperando por mim. Pego minha roupa de dormir e vou para o chuveiro. Assim que saio do banho passo pela porta de Soraia que está fechada, vou até o quarto do meu pai e vejo que tanto ele como Tony dormem tranquilos, retorno para minha cama e me deito, me entregando ao sono.

Me levanto cedo, vou para a cozinha preparar um café especial, com muitas frutas, suco, torradas.

- Bom dia, magrela. Caiu da cama?

- Bom dia. Descansei bastante, estava com saudade da minha antiga cama. E o papai, dormiu bem?

- Sim, acordou, tomou o remédio e tornou a dormir.

- Que bom, me ajuda a arrumar a bandeja, vamos tomar café com ele. - Antony pega a bandeja enquanto vou para o quarto de Soraia, quero todos reunidos, o duro vai ser aturar o mal humor matinal dela.

Bato na porta vejo que não está trancada e entro. — Bom dia Só.

- Oi, precisa de algo? – Ela destampa a cabeça se virando pra mim.

- Sim, vamos levar café na cama para o pai, vem ...

- Pode ir lá bajular o paizinho, vou ficar aqui. Ele agora só tem olhos para a bonequinha.

- Para com isso, levanta. Sabe que eles nos ama igual. - tento ter toda paciência, apesar que ainda preciso ter uma conversa com ela que inclui Bruno.

- Não vou, tá. Para com esse papinho. – ela se vira na cama e tampa a cabeça como uma criança birrenta.
- Você quem sabe, mas depois não vem com conversa que é a excluída. - Saio e deixo a porta aberta, vai que ela mude de ideia.

- Bom dia pai.

- Olá meus meninos, que surpresa boa. Pera aí, cadê minha pequena? - Ele fala alto sabendo que Soraia vai escutar.

- Tô aqui, achei que tinha se esquecido de mim. - ela entra dengosa.

- Como um pai esquece-se de uma coisinha tão linda e pirracenta, senta aqui perto de mim. - Ela se senta e pega uma torrada com queijo. Todos nos acomodamos ao redor da cama para nosso café cheio de nostalgia. Lembramo-nos de quando éramos jovem, as mesmas chantagens de Soraia, que nosso pai sempre soube contornar com muito amor, as conversas sobre carros de Antony e papai, e eu sempre ali tentando cuidar de tudo. Após o café, apesar de muita teimosia, conseguimos convencer nosso pai a tomar um banho e voltar para cama. Antony desce e fica na oficina até a hora do almoço, Soraia me ajuda a preparar o almoço e ajeitar a casa.

- Soraia, você tem falado com Bruno? -tento sondá-la.

- Ah, o carinha da banda de pagode? Não, por que? Você conhece? - ela me responde enquanto estende uma toalha na mesa.

- Sim, ele era noivo, você sabia?

- Não, pobre da chifruda. - ela sorrir sarcástica.

- Ele não presta, enganou uma pessoa muito especial.

- Foi só uma ficada, Meg. Não me prendo a ninguém, sou livre feito o vento. Era só isso, fique tranquila, não tenho tipo de menina iludida. - Ela me dá as costas e sobe para o quarto. - A propósito, vou aproveitar que você está aqui e ir até a casa da mamãe. - ela não espera minha resposta.

Almoçamos na mesa, pois não conseguimos manter o senhor teimoso na cama.  Antony se senta ao lado de nosso pai.
- Bom, amanhã tenho que voltar para sampa, preciso retomar meu cursinho e voltar a trabalhar.

- Me diz uma coisa filho, já se decidiu sobre o que quer cursar?

- Sabe, pai, estou fazendo um curso de designer mecânico e outro de computação. Estava pensando em unir os dois aqui na oficina.

- Como assim filho?

- É, pai, a gente podia modernizar a mecânica, computadorizar tudo desde o contato com os clientes, fornecedores. Percebi que seus funcionários têm dificuldade com carros mais modernos.

- Sim, tenho perdido clientela por isso. Sabe, filho, tudo que sei aprendi sozinho, sem estudo, conheço o defeito de um carro apenas pelo barulho do motor.

- Sei disso, pai, e tenho muito orgulho do senhor, mas podemos disponibilizar cursos de especialização para os funcionários, seria ótimo.

- É uma boa ideia. Como se diz, conhecimento não ocupa espaço. Vamos ver isso com calma, você estuda de lá e eu disponibilizo os recursos daqui.

- Bom, vou aproveitar o entrosamento de vocês e vou dar uma caminhada pela cidade.

- Vai sim filha, abriu uma livraria lá na pracinha, aposto que você vai gostar.

Subo, pego a carteira e apenas escovo os cabelos. Aqui me sinto livre para andar pelas ruas de bermuda jeans e uma camisa velha de banda. Saio, respiro o ar puro, as ruas andam mais movimentadas, mas ainda têm a paz que tanto me fez falta. Meus pés me levam direto para a pracinha Paro em frente à livraria com um letreiro com a seguinte frase escrito em itálico: Esperando você voltar... Acho muito diferente para o nome de uma loja, admiro a vitrine, alguns livros me chamam a atenção, são todos muito coloridos, com capas encantadoras. Mas um me instiga, entro e peço para a vendedora, que com muita má vontade me entrega um exemplar. Folheio o livro, releio o título “Olhos de amor”.

- Aqui moça, vou levar este. - ela recebe o dinheiro e me entrega a sacola, sem nem mesmo me dirigir o olhar. Saio da loja, atravesso a rua e me sento num banco no jardim, abro o livro buscando iniciar a leitura, porém leio poucas frases e resmungo sem perceber que falei alto.

- Ai amor, por que você tem que ser tão complicado? - solto um longo suspiro.

- Só quando se esconde dele, minha cara Meg - Nem consigo explicar a emoção de escutar essa voz tão perto de mim. Ergo o rosto e vejo meus olhos, os mesmo que sonhei durante todos esses anos, meu coração bate num compasso tão acelerado que mal consigo respirar.

Ele me encara como se esperasse que eu falasse algo, mas as palavras simplesmente sumiram. O encaro buscando alguma mudança, mas não há, são os mesmos traços que me lembrava, o sorriso doce e esse jeito de me olhar que parece enxergar cada traço de minha alma.

—Márcio ...

— Como vai Meg? Quanto tempo... Posso? - ele aponta para o lugar a meu lado.

— Claro – não consigo formular uma frase decente.

— Vejo que não perdeu o gosto pela leitura. - ele pega o livro de minhas mãos e seu simples toque me causa quase taquicardia.

— Sim, ainda gosto muito de ler, não sabia que tinha uma livraria aqui. - desvio de seus olhos.

— E já faz muito tempo, logo teremos também uma editora – ele me indica a construção na parte de cima.

— Nossa, que interessante.

— E você, como está? Soube que seu pai passou mal.

— Sim, foi um baita susto, mas agora está se recuperando – continuo me distraindo com um canteiro de flores.

— Gostou do livro? — Ele folheia as páginas.

— Sim, achei muito linda a capa. — não posso deixar de buscar em suas mãos uma aliança ou algo que me mostre que a vida dele seguiu. Vejo que ele percebe, pelo sorriso no canto do rosto.

— Não estou preso a ninguém Meg, não poderia entregar a alguém um coração que já tem dona. Espere um instante – ele atravessa a rua, entra na livraria, pega outro livro, parece escrever algo na contra capa, e volta para junto de mim.

— Toma, tenho certeza que vai gostar desse também — Me entrega o livro, não posso acreditar quando leio a título: O amor sempre esteve aqui. O encaro tremendo, pois sei que meus olhos estão repletos de lágrimas. Ele apenas se levanta sem deixar de me olhar.

— Agora basta saber se você também está livre, mas temos tempo e sempre soube esperar o momento certo – Ele me beija o rosto com carinho e vai. Fico ali feito estátua, apenas olhando ele caminhar, ele ainda usa suas camisas jeans de mangas dobradas até o antebraço, uma calça colada nas colchas torneadas. Fico admirando sem nenhum pudor, até ele sumir de minha visão.

Desperto quando um livro escapa de minhas mãos e cai, pego rápido com receio de ter estragado. Me levanto ainda meio zonza com este encontro. Quando me preparo para atravessar a rua, vejo que a vendedora está parada na porta e me encara. Será que Márcio não pagou o livro que me deu? Chego perto dela e vejo seu semblante de desprezo.

— Olá, um rapaz me deu esse livro, ele te pagou?

— Márcio não precisa pagar, ele é o dono de tudo isso aqui — ela passa a mão pelo corpo como se também pertencesse a ele.

— Ah tá, então sou grata pelo lindo presente – Viro e faço meu caminho de volta.

Chego em casa e vejo meu pai no sofá com dona Rita, conversando muito animados.

— Boa tarde dona Rita.

— Como vai querida? Vim fazer uma visitinha para seu pai, vejo que ele está muito melhor.

— Sim, o problema é mantê-lo quieto.

— Veja filha, Rita trouxe uns biscoitos de goiabada e passou um café fresquinho. — caminho até a cozinha e me sirvo, realmente está tudo delicioso.

— Nosso, está uma delícia dona Rita – ela agradece sem jeito.

— Então encontrou a livraria? – ele observa os livros.
— Sim. E antes que você pergunte, o dono dela também. Foi golpe baixo, pai, me fazer encontrar Márcio assim.

— Ele é um bom rapaz, filha. Sempre perguntando por você, sei que você gostou muito dele, não custa dar um empurrãozinho.

— Isso foi há quase dez anos pai, ele deve ter alguém. — penso com meu coração torcendo para ser mentira.

— Pretendentes não faltam, mas ele está sozinho, sempre vem aqui na oficina e conversamos. O único compromisso dele é seu trabalho.

— Pode até ser, pai, mas eu tenho que voltar para minha casa, tudo que tenho está lá.

— Tem certeza, filha? — ele põe a mão em meu coração – Acho que o mais importante está aqui. Meg, se você tem uma nova chance te viver um amor, minha filha, não desperdice. Ele segura a mão se dona Rita com carinho.

— Fico muito feliz do senhor estar se dando uma segunda chance, o senhor merece ser feliz.

— É essa felicidade que desejo pra você minha boneca. Se permita pensar com coração, minha filha.

Subo para o quarto, sento em minha cama e abro o livro que recebi de Márcio, lá está em uma letra pequena.

Enfim escutou o chamado do meu coração, que, por todo este tempo esteve esperando você voltar para mim.
Seu. Marcio
Fecho os olhos abraçando o livro e me lembro do tempo que passei com Márcio, como fui feliz todos os dias de minha vida, me arrependi de ter partido deixando com ele minhas melhores lembranças.

O meu amor

O meu amor sonhe comigo

Pois o que mais desejo

E tê-lo comigo.

Sonhe comigo pois
Meu coração é teu abrigo
O meu amor você
E minha verdade.

Estar em seus braços e crer

Que não existe

Mais saudade.

O meu amor

Que me envolve
Em teus braços e me

Faz crescer

O meu amor que me

Remete ao destino

Quando me nega

Teus braços para abrigo.

O meu amor

Que me esquece o temor

Que me faz peregrino

Em busca de teu abraço

Quente de menino.

Que me faz tão criança

E tão ousada.

Sou louca sou amada.

O meu amor sonhe comigo.

Sonhe em para sempre

Ter a mim pois meu

Coração pertence a ti

R.M


bom espero que tenham gostado . oque acharam do Márcio, palpites por favor.

Os Sonhos Que Ficaram Para Traz.Onde histórias criam vida. Descubra agora