Bônus: Minha árvore Genealógica

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Meus olhos  refletem no espelho. Há tempos que não via esse brilho em meu olhar, e acredito que seja a PRIMEIRA vez que me encaro de frente, e que gosto do meu semblante. Benditos olhos azuis: herança do meu pai, muito embora nunca o tenha conhecido.

Minha mãe me falou muito pouco sobre ele, para que eu não sofresse tanto. Só queria entender o que aconteceu...

Sou a única filha de  Isabela Vallenzo Campanatto e neta de dois italianos extraordinários: Antognella Vallenzo e Giuseppe Campanatto. Ambos, chegaram ao Brasil muito pequenos, trazidos por seus pais que imigraram para São Paulo, em 1956. Minha avó tinha um ano de idade, e meu avô, quatro. Vinte anos mais tarde, eles se conheceram e se apaixonaram perdidamente.

Minha avó era filha de uma família de classe média, e apesar de ser uma "dondoca", por assim dizer, aprendeu a costurar e a cozinhar com a sua mãe, minha bisa. Sabe como é né, os pais repassam aos filhos seus costumes e tradições de família.

Meu avô, filho de musicistas, nasceu de uma família humilde e aprendeu com o pai a tocar violão e piano.

O namoro dos dois não foi bem aceito por meus "bisos" e eles decidiram fugir para o Rio Grande do Sul, para viver aquele amor, onde tiveram minha mãe.

A vida de meus avós não foi nada fácil e ambos tiveram que submeter-se aos trabalhos que apareciam. Foi quando conheceram a família dos "Shizinger", composta por um casal de alemães fazendeiros que moravam no sul do Brasil. O casal, que tinha um filhinho chamado Henchy Shizinger, de cinco anos de idade, acolheu meus avós e minha mãe, que ainda era um bebê de colo, em sua casa. Em troca, minha avó trabalhava na cozinha e meu avô, cuidava das videiras da fazenda.

Minha mãe cresceu muita próxima do filho dos fazendeiros, e como já era de se esperar, ambos se apaixonaram quando jovens e tiveram de viver uma paixão proibida, visto que não pertenciam à mesma classe social e que o rapaz estava prometido para a filha dos "Zuckerman", os amigos ricos dos Shizinger.

Quando minha mãe deu a notícia da gravidez ao Henchy, ele a prometeu que se casariam em segredo, porém o casamento nunca aconteceu. Minha mãe ficou "plantada" na igreja à espera do meu "pai", que não apareceu.

Depois disso, tudo desmorou: aflita, ela teve de contar da gravidez aos meus avós, que logo em seguida foram demitidos da casa dos Shinzinger, e se mudaram para Florianópolis. Minha mãe nunca mais viu o Henchy, o desamor e a desilusão a fizeram trancar o coração a sete chaves. Acho que ela trancou e jogou a chave fora, porque nunca mais quis encontrar outra pessoa

O meu nascimento só acusou a herança genética do meu pai: os olhos azuis e a pele alva, as bochechas rosadas... embora tivesse o cabelo gritando a legítima melanina da minha mãe: castanho-escuro, quase negro; aliás, por muito pouco mesmo rsrs.

Crescer sem a presença de um pai não é nada fácil, porém crescer sabendo que O SEU PAI NUNCA TE QUIS é ainda pior. Por isso mesmo é que nunca fui de pressionar minha mãe para saber o paradeiro do Henchy.. sabe, ela sofreu muito e ele foi o único amor da vida dela... não poderia fazê-la sofrer mais com as lembranças do abandono. Apesar de não ter tido pai, fui uma criança muito feliz.. meus avós me deram muito amor e carinho e me repassaram seus ensinamentos. Foi graças a eles que aprendi a cozinhar, costurar e a tocar. Meu avô me ensinou a tocar piano e violão, quando criança.

Éramos inseparáveis. Tenho que confessar: "tive uma infância maravilhosa!!!!" Fui muito paparicada por meus avós, aprendi tanto com eles... com o tempo, eles criaram o CAPA, e a minha família que há muito era pequena, se tornou graaande.. era muito feliz ao lado deles. Sinto tanta saudades... eu poderia estar agora aproveitando minha última semana de férias ao lado de minha família...

É isso!! Vou pra "Floripa"...

Quando se perde uma PaixãoOnde histórias criam vida. Descubra agora