Viviane
Cada dia que passa é um dia a mais que me esforço para mudar.
Sim, eu não sou ou pelo menos não fui uma pessoa legal até aqui.
Percorri um longo caminho para finalmente aprender a ser gente, a me importar com algo além de mim mesma, eu não sou exemplo pra ninguém, mas estou orgulhosa de ter tomado a decisão de voltar pra casa.
Desde nove anos de idade, moro com meu tio, Osmar, um grande diretor de TV, dono de uma produtora, solteiro e rico. Quando perdi meus pais num acidente, ele me acolheu e desde então me mimou, cuidou para que não me faltasse nada, aliás, que sobrasse coisas e hoje depois de meses em análise com minha psicóloga, penso que nosso erro foi esse: o excesso.
Melhores escolas, melhores roupas, melhores restaurantes e baladas exclusivas.
Essa foi minha vida.
Não tive estrutura para ouvir não, quando ele chegou.
Foi quando o lado mimado e imaturo em mim fluiu de um jeito que tenho vergonha de reviver até em pensamento.
Por isso estou indo embora, carregando nas costas um processo, muita dor e medo do que fui possa um dia retornar, tirando de mim a chance de ser uma pessoa melhor.
Olho a estrada à minha frente que parece interminável, seguro a direção com firmeza, pensando em meu tio, o quanto o decepcionei, porque embora ele tenha me dado tudo, ele sempre foi um homem correto, sempre tentou ser a figura de um pai, e eu o envergonhei, o humilhei perante todas as pessoas do trabalho, na mídia, e eu simplesmente não pude pedir perdão, desde então nossa relação mudou, não existia mais diálogos entre nós, somente o silêncio velado de que devemos enfrentar e conversar, mas simplesmente não consegui. Juntei minhas coisas e pedi a chave da casa onde vivi com meus pais, na região dos lagos, uma vila cercada de mar, de verde onde meus pais viviam felizes.
Meu coração se aperta ao me lembrar deles, como pude me perder assim? Há tempos não lembrava da doçura da minha mãe e da ternura de meu pai, ambos largaram a vida glamorosa que viviam no Rio, dentro do seio de uma das famílias mais renomadas no meio televisivo de entretenimento, para viverem sua paixão: a vida simples do interior.
Meu pai veterinário, tratava de uma ONG de preservação de espécies marinhas e de animais da região. Minha mãe pediatra, tinha uma clinica no centro do vilarejo, onde lembro brincava depois de ir à escola esperando a hora de irmos pra casa. Ainda lembro da ampla varanda cheio de brinquedos e do quanto ela sentava comigo para brincarmos de boneca Barbie, a minha preferida. Minha mãe era linda, doce e sorridente. O amor de meus pais era sólido, nossa família era tudo pra mim, até o dia que eles se foram e me vi sozinha, ferida, chorando pedindo por minha mãe num hospital no interior do Rio de janeiro, quando meu tio chegou, me abraçou forte me contando que eles tinham partido.
Foi devastador, foi o pior pesadelo que uma criança poderia viver, e mesmo cercada de carinho, ele não era eles, e eu não era mais eu.
O cenário à minha frente muda drasticamente como minha vida mudou, o asfalto dá lugar a uma estrada de chão estreita, cercada de montanhas que leva até o vilarejo, num lugar escondido do mundo, ainda escuto meu pai cantarolando toda vez que pegávamos esse caminho pra casa, voltando das viagens que fazíamos.
—Voltar pra casa, esta funcionando Drª Cristina... — Sussurro baixinho me referindo à minha terapeuta com os pensamentos no passado, como discutimos em consulta, esse resgate de identidade, mostrará pra mim a minha verdadeira essência, e quem sabe um dia, reconquistar o amor do meu tio e conseguir o perdão das pessoas que prejudiquei.
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A MINHA CHANCE
ChickLitUma chance era tudo o que ela queria. Viviane, é uma mulher inteligente e dona de uma personalidade forte, fez algumas escolhas erradas no passado que lhe trouxeram consequências que ela deseja esquecer. Disposta a recomeçar, decide voltar ao luga...