A MINHA CHANCE

Capítulo 19

Viviane

Os dias passaram lentamente, sem noticias de Theo diretamente, me restabeleci em casa. Os dias no hospital ficaram para trás e arrepio apenas de lembrar as dores, a solidão, embora não tenha ficado um minuto sequer sozinha. Elis, Dedé e meu tio se revezavam para cuidar de mim, ainda tenho depoimentos para dar, mas hoje, deitada na rede bebericando o chá que Dedé fez pra mim, percebo o quanto de sorte eu tive.

— Vivi, viu esse vídeo? — Elis se aproxima com o celular e meneio a cabeça, — Que vídeo, Elis? Da ultima vez foi a maldita reportagem, o que é agora?

— Algo bom, prometo, só assista.

Apanho o aparelho de sua mão e reconheço o blog de uma jornalista que já trabalhou comigo, respiro tensa, pois seja lá o que ela disser no canal dela, será levado a serio, ela tem credibilidade no meio.

— Estou com medo de assistir, Elis. — a encaro receosa e ela adianta o vídeo.

— Aqui, assista essa parte.

Olho novamente o vídeo pausado e com as mãos tremulas aperto o play.

— Então Theo, depois de tantas aventuras e quase perder todo o trabalho que tiveram devido a fama da jornalista que fez a matéria, como se sente por ter salvado um recife inteiro? — A jornalista o questiona e ele a encara com os olhos semicerrados, sinto que não gostou nem um pouco da pergunta, percebo seu amigo Carlos e Elias sentados ao lado dele.

— Em primeiro lugar gostaria de deixar claro que não salvei nada sozinho, todo o trabalho desenvolvido envolveu uma equipe empenhada em fazer um excelente trabalho, e a jornalista que você diz ter má fama, o nome dela é Viviane Andrade e foi peça fundamental para que tudo se concretizasse. Ela arriscou a vida, quase morreu tentando ajudar, então se existe "fama" atrás dela, suas atitudes atuais a isenta de qualquer culpa, ela trabalhou, se empenhou e realizou algo extraordinário, e gostaria que as pessoas pensassem nisso, não em algo do passado que diga-se por passagem, ela já pagou: na justiça. E quero fazer um convite: Se não assistiu a matéria que Viviane gravou, onde alerta ao mundo que estamos em perigo, que trinta por cento do que existe ainda na natureza, pode acabar, setenta por cento, ouviu bem? Setenta, já foi destruído pelo homem, nosso recife é um grão de areia no deserto que o mundo irá se tornar se pessoas como a jornalista, que estão julgando, não tivesse a coragem de dar voz e face para o problema ambiental grave que enfrentamos, caso tenha duvida, temos aqui um biólogo de renome responsável por uma ONG que cuida da vida marinha no nosso Nordeste e um antropólogo que poderá responder as suas demais questões sobre o que realmente importa: A natureza.

Ele deixa a jornalista por um momento sem fala, e rapidamente muda de assunto focando nos processos ambientalistas e em Carlos e Elias. Enfim volto a respirar, Só de vê-lo pelo vídeo meu coração aperta em saudades, e feliz por que ele me defendeu, assisti-lo falando de mim aqueceu meu coração e não consigo deixar de sorrir, mas lembranças dele no hospital logo esfriam meus sentimentos.

— Vivi, não desista, você parece tão passiva perante as coisas, quando vai reagir?

— Não entendi, Elis? — me faço de boba, pois sei que ela está tentando me animar.

— Entendeu sim. Está deitada nessa rede ou na cama desde que voltou pra casa, a cirurgia já esta bem, o médico te liberou pra fazer caminhadas e você se prostrou aí, mulher! Para de se martirizar, o passado veio à tona, e daí? Isso não te define, já se culpou e se envergonhou demais, agora chegou o momento de tomar posse de sua vida, buscar sua auto estima e então ir atrás de um veterinário gostoso e traze-lo de volta para seus braços. — A encaro perplexa com suas palavras, realmente estou desanimada com as coisas, desiludida por estar longe de Theo sem ao menos ter tido uma conversa decente, não sei o que esperar e isso meio que me paralisa, e Elis tem razão, está na hora de deixar de ser vitima de minhas escolhas erradas, se Theo não me quiser, terei que seguir em frente, mas antes preciso tentar.