Capitulo 2

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Viviane

A noite passou num pulo, não dormi quase nada, desde que entrei em casa, sentei encolhida no sofá pensando no que o Dr. Theo me falou sobre a ONG que meu pai tanto lutou pra trazer para esse lugar, eu era apenas uma criança, mas não posso deixar de lembrar da empolgação de meus pais com a oportunidade de ajudar essa vila a crescer, a ser vista pelo mundo e trazer profissionais que tanta gente carente que morava aqui precisava. Eu ainda não entendia muito bem o que uma ONG poderia fazer, mas hoje sei que as coisas seriam melhores se tivessem levado à frente o projeto.

Sentimento de que falhei com eles me toma, e me sinto culpada por não ter procurado saber da nossa casa, da clínica e principalmente do legado que lutaram pra fazer por aqui.

Olho em torno com a luz matinal entrando pela janela da casa bem cuidada, e me aquece o coração por saber que ao menos o lugar continua lindo e fresco, tudo graças ao meu tio que jamais desfez da casa, pensando nas lembranças que poderiam me trazer de volta.

Caminho pela casa, lembrando de cada cantinho em que me escondia, brincando de esconde com papai, olho a cozinha impecavelmente limpa e abro a geladeira, meu estômago dando sinal de vida, e a geladeira lotada de itens que daria pra sustentar um batalhão, tio Osmar é mesmo exagerado, desde quando avisei que estaria me mudando por um tempo pra cá, sinto que o surpreendi de maneira boa, anuviando um pouco as coisas entre a gente, mas ver a geladeira tão abastecida é quase como receber um abraço quente dele outra vez.

Escolho um iogurte e frutas e me sento na varanda para apreciar o nascer do dia, não sei se a Vivi que eu era voltaria um dia pra cá, certamente não, não era glamoroso o bastante pra mim naquela época, e hoje só posso pensar no quanto perdi, por não ter valorizado minhas origens. Mas isso é passado, quero pensar no futuro, e no cachorrinho que deixei na clinica.

Pensando nisso levanto num salto e busco minha mala no carro, após um longo banho e de jeans limpos e uma camiseta, dirijo de volta a clinica, dessa vez composta para enfrentar aquele médico lindo que me impediu de ficar com meu amiguinho, pensando em Dr. Theo, me pergunto o que será que trouxe para esse lugar tão pequeno, um homem como ele? Másculo e jovem, seria casado? Estaria em busca de um lugar tranquilo para formar sua família? Meu coração acelera com a possibilidade de vê-lo novamente, e balanço a cabeça.

— Viviane, você não veio para esse lugar em busca de aventuras amorosas, não aprendeu ainda? — ralho comigo mesma, afastando o pensamento do homem e focando no que realmente interessa: A posse do meu cachorro.

Sim, é meu cachorro e vou lutar por ele! Só espero que consiga.

Estaciono o carro e salto em busca de informações, diferente de ontem, quando havia apenas Theo na clinica, hoje vejo uma senhora sentada na recepção, preenchendo alguns papeis, me aproximo.

— Bom dia, meu nome é Viviane, trouxe ontem um cachorrinho que foi atropelado...

— A senhora que o atropelou? O Dr. Theo deixou avisado que viria. Mas menina, como foi isso? Que susto hein? Ainda bem que o animalzinho não se machucou muito, esses filhotinhos são terríveis, geralmente são filhotes de cadelas de fazenda e se perdem na estrada velha. — Tagarela me divertindo ao perceber em como as coisas em cidades pequenas são espontâneas, se fosse no Rio, estaria sendo tratada educadamente pela atendente, mais nada.

— Ele passou a noite bem?

— Quem? O doutor ou o infeliz do animal? — me pergunta curiosa — o doutor passou a noite toda com ele, coitado, aquele ali trabalha demais, se dedica a essa clinica com tanto afinco e ainda luta pra trazer apoio das empresas pra esse lugar. É incansável, mas ele esta bem, deve estar na padaria tomando café da manhã, já avisei que ele precisa sossegar um pouco, parar de viajar tanto trabalhando, mas não me escuta.

A MINHA CHANCEWhere stories live. Discover now