Capítulo 3

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Após fazer algumas comprinhas básicas no petshop da cidade, estaciono em frente a casa onde fui criada e fico a admira-la. É um sobrado localizado no final de uma colina, bem no fim da rua, onde sua varanda ampla cercada por flores de variadas cores, alegram o lugar, o jardim verde em frente à propriedade demonstra que foi muito bem cuidada por todos os anos que esteve vazia.

Aperto o botão que fecha o portão de entrada e abro a porta para enfim, o cão possa brincar, sua perninha enfaixada ainda limita seus movimentos, mas ele se solta feliz pela grama, deitando sob o sol, se abrindo todo como quem brinda a liberdade.

Sorrio para ele, e começo a descarregar o carro, creio que tenha exagerado nas compras, abraço o grande urso de brinquedo e o levo para a varanda, onde uma senhora me aguarda com lágrimas nos olhos.

— Menina Vivi? — limpa as mãos no avental e vem correndo até a mim.

— Dedé? Ah Dedé!! — Reconheço, depois de tantos anos, a amiga, a mulher que sempre cuidou para que tudo corresse bem na casa, eu lembro do quanto meus pais a amavam e do quanto ela me mimava, nos encontramos num abraço emocionado, e deixo a emoção lavar a saudade.

— Vivi! Olha pra você, é uma mulher! Linda por sinal! — se afasta enxugando as lagrimas e me olhando feliz.

— Jamais imaginei que te reencontraria aqui, Dedé!

— Seu tio manteve todos os funcionários da casa, ele cuidou de todos nós, ahhh menina, deixa eu te ver mais! Está magrinha! Como está? Quando o Sr. Osmar ligou, avisando de sua chegada quase enfartei de alegria, é tão bom te ver!

Esse jeito de falar tudo de uma vez só, de nem pararem para respirar está começando a me divertir. Dedé sempre foi como uma segunda mãe, ela quem cuidava de mim, quando minha mãe viajava para dar plantões em outras cidades e nunca vou me perdoar por não ter voltado antes.

— Estou bem agora, Dedé. —meu olhar se perde por um momento, e sinto o cheiro de comida caseira no ar — Hum, pelo visto teremos banquete?

— Teremos sim! E cozinhei tudo que você adorava. — me olha insegura — Você ainda gosta de frango ao molho? Pudim de leite?

— Se gosto? Eu amoooo! Sim! Estou faminta, — rio e a sigo até a cozinha.

— E como estão as coisas com seu tio? O Rio? Quando seu tio te levou logo após o ocorrido, pensei que ia morrer na solidão aqui, mas ele sempre mandava noticias suas, fotos, me lembro quando se formou jornalista, como aquele homem estava orgulhoso de você e eu também!

Dedé fala e eu me encolho na cadeira cada vez mais culpada de ter esquecido daqui e de todos que ficaram, depois da morte de meus pais, mas o que faz meu coração afundar no peito é saber que Tio Osmar tinha orgulho de mim, e estraguei tudo.

— Estraguei tudo, Dedé, meu tio hoje tem vergonha de mim, do que me tornei, das minhas escolhas erradas. — me abro triste e ela larga a panela e me abraça, me ninando como antigamente.

— Menina, você é jovem, e todos nós erramos alguma vez na vida, bola pra frente, esquece o que passou e tenha como objetivo se tornar melhor...

— Não sei como consertar.

— Tudo tem conserto nessa vida, não há jeito pra morte, você matou alguém? — ri nervosa, e estremeço em seus braços ao lembrar de Diogo.

— Não, não matei, mas matei o sentimento que meu tio tinha por mim, decepcionei muita gente e prejudiquei também.

— Não se martirize menina, seu tio a ama como pai, e pai sempre perdoa, vem, vou te servir o caldinho do frango na polenta molinha, isso vai te animar.

A MINHA CHANCEWhere stories live. Discover now