Evasão

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4 ANOS ATRÁS

A vegetação densa daquela mata fechada impedia de se ter uma visão facilitada de qualquer coisa que vinha à frente, e também de todos os lados. Mas de qualquer forma, era preciso estar de olhos bem atentos, e ouvidos também. A caça ainda acontecia, portanto, nenhuma bobeira poderia ser dada.

Com os braços apoiados e encostado em um grosso tronco de árvore distorcido, Daniel olhava ao redor. Fazia a vigia, com o medo de ser capturado. Visivelmente raivoso, seu corpo estava completamente ensopado. Resultado da tática suicida de Bento jogando o próprio carro no riu, como se estivesse forjando a própria morte.

Eles não morreram. Conseguiram dar um jeito de mergulhar para fora do carro, à muito custo e sair das águas em um canto distante, por onde a polícia não podia encontrá-los. Tiveram um pouco de sorte, não dava para negar. E além isso, eles ainda tiveram que se embrenhar floresta adentro e correr por vários minutos para ficar o mais longe possível do lugar.

Entretanto, não era apenas pelo ato insano que ele estava irritado. Tirou o celular do bolso, e resmungou um palavrão ao ver que o aparelho não dava resposta. Molhado, foi danificado com a queda e por ter sido imerso na água. Não apenas isso, perdeu sua carteira com os cartões clonados que estava no bolso. Se já achava que tinha começado a empreitada de maneira péssima, depois disso tinha certeza.

Por trás dele, Bento surgia do matagal segurando sua mochila na mão esquerda e também com o corpo ensopado. Estava bem mais tranquilo que Daniel. Afinal, escapar pela floresta nunca foi um problema. Era militar e tinha treinamento. Jogou a mochila no chão, encostou em uma árvore frondosa à quase três metros de distância de onde estava o hacker, e tranquilamente pegou um isqueiro e acendeu um maço de cigarro. Começou a fumar mais uma vez.

Ao ver o parceiro de costas irritado, soltou um riso debochado.

— Sabe, pra um bandidinho malamanhado tu corre feito uma gazela. — Riu.

— Vai se foder. — Reclamou sem virar de costas — Você é um maluco do caralho.

— Olha pro teu rabo primeiro antes de falar dos outros.

— Ah e? — Disse irritado virando-se para Bianchini — Não fui eu que quase matou nós dois se jogando na merda daquele rio. Tava querendo o que?

— Salvar a nossa pele. Isso tá bom?

— Nossa pele... Tava querendo é salvar a tua, isso sim.

— E queria que eu fizesse o que? A polícia tava bem na nossa cola e ainda tinha a merda do rastreador que colocaram no meu carro, tinha ideia melhor? Ou queria que a gente se entregasse logo de uma vez pra acabar tudo?

— Não, não tinha uma ideia melhor. Mas era bem melhor que se jogar num rio de piranhas?

— Piranhas? — Riu — Sério que tu acreditou nisso?

— Foi o que você falou, não?

— É, eu falei. Mas não é verdade. Eu não sou muito de mentir, mas ver tua cara toda cagada quando joguei o carro valeu por tudo. — Riu.

— Cretino. — Bufou — Você é um psicopata.

Não era só Bento que deixava seu jeito de falar fluir mais levemente. Daniel nunca escondeu o sotaque carioca. Morou e viveu a vida inteira no Rio de Janeiro.

— Deixe de pantim, parece uma garotinha. — Disse soltando a fumaça do cigarro que fumava — Como se fosse o único a se ferrar nisso tudo. Eu tive que jogar meu carro novinho, lembra? Fora que a polícia tá na minha cola.

Passado SelvagemOnde histórias criam vida. Descubra agora