Hotel

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4 ANOS ATRÁS

E mais uma vez as posições se inverteram. Era Daniel quem conduzia a caminhonete pelas ruas de Mariana enquanto Bento ficava no banco do passageiro. O ex-militar continuava fraco por conta da febre. Por mais que soubesse dirigir, o hacker não sabia como manusear direito aquela lata velha. A marcha ficava emperrada, o volante difícil de virar. Tinha que ter muita força nos braços para conduzir aquilo.

Além de tudo isso, ainda estava perdido. Andava por aquela cidade sem saber para onde ir. Sentia-se andando em círculos, os lugares pareciam todos iguais. Procurava por um hotel, o mais simples, discreto e barato que poderia ter. Mas não fazia a menor ideia de onde pudesse estar. Isso se tivesse algum.

Bento estava se sentindo mal. Não mal de correr risco de morte, mas precisava de repouso urgente. Depois de fazer tanta coisa, seria estranho se ele não terminasse a jornada aos trancos e barrancos. Ainda tinham mais um pouco de caminhada pela frente, o ex-militar tinha que estar bem nesse tempo que restava. Era injusto se esforçar tanto para nada.

Por isso que Mendonça sentiu o peso na consciência por ter ficado irritado com Bianchini minutos atrás. Descontou nele uma raiva desnecessária. Seu parceiro queria apenas descansar pois estava fraco. Estava com tanta pressa, distraído pensando só em si mesmo, que não percebeu antes o problema.

Era o momento de Daniel retribuir o que seu parceiro fez noites atrás. Quando o hacker foi perfurado com um pedaço de metal e quase morreu de tanto perder sangue. Bento não pensou duas vezes em fazer o que for preciso para salvá-lo. E fazendo procedimentos arriscados, pois não tinha outro jeito, conseguiu cuidar de Daniel. Se o ex-militar mostrou que se importava com o rapaz, ele tinha que fazer o mesmo.

Encontrar um hotel, ou um albergue, ou qualquer coisa parecida, estava sendo muito difícil para Daniel. As ruas pareciam todas iguais para ele. Além de dirigir, tinha que olhar para os lados para achar algo. Mesmo correndo o risco de ser visto, parou para falar com as poucas pessoas que viu na rua para perguntar.

Elas indicaram onde ficava um pequeno hotel nas redondezas e o hacker foi direto. Andando mais acelerado que antes. Chegou ao endereço indicado e encontrou o hotel. Era um estabelecimento pequeno, mas de quatro andares. O prédio era totalmente branco e tinha o mesmo estilo que as outras casas. Sentiu um alívio ao ver a pequena placa escrita "hotel". E felizmente estava aberto.

Foi direto para a entrada. A portaria era estreita. Havia um balcão de recepção e em frente, uma poltrona e um pequeno e velho sofá colado em uma geladeira com porta de vidro transparente. Tudo parecia muito apertado e estreito. A única alma viva daquela entrada era o recepcionista que estava sentado atrás do balcão.

Era um homem velho, aparentemente cinquentão. Cabelos pretos ralos, parcialmente calvo. Com pés de galinha, furinho no queixo e lábios meio caídos. De cara enfezada, suas atenções estavam voltadas para a pequena televisão portátil que segurava e não parava de mexer na anteninha tentando pegar um sinal bom. Pouco se importava se poderia aparecer alguém, só estava preocupado com o tal aparelho.

— Com licença.

Daniel tentou chamar a atenção do homem encostando as mãos no balcão olhando bem para ele. Mas nada dele virar o rosto.

— Eu disse, com licença. — Chamou novamente.

— O que é? — Perguntou o homem com sua voz baixa e rouca, ainda sem olhar para ele.

— Preciso de um quarto, pra agora. Pra passar o dia até amanhã.

— Todo mundo que vem aqui precisa de um quarto. — Respondeu ríspido — Seja mais específico.

Passado SelvagemOnde histórias criam vida. Descubra agora