Gatilho

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4 ANOS ATRÁS

Era difícil de acreditar que a chuva pudesse piorar mais, mas piorou. Uma tempestade de muitos raios e trovões, que ficava mais perigoso naquela mata. Afinal, árvores e lugares descampados atraíam raios. Nem Daniel e nem Bento se importavam com isso. Eles tinham algo muito mais importante para se preocupar.

A corrida pela mata era pela sobrevivência. Para não serem capturados e muito menos serem mortos sem que tivessem a chance de se defender. Tentavam correr rumo à estrada onde estaria a van, tomando cuidado para não se perderem um do outro. Estava bem difícil, era um lugar cheio de pedras e elevações. E a chuva deixava o solo todo lamacento e mais difícil de andar.

E para deixar tudo mais tenso, os capangas de Russo estavam atrás deles. Não só corriam atrás como disparavam tiros e usavam lanternas para ver melhor a mata. Era de fato uma caçada, no sentido mais literal da palavra. O chefe da quadrilha não media esforços e lançava mão de todos os recursos para pegá-los de vez. Deixando claro que insistiria naquilo até se sair vencedor.

Desviar dos tiros se tornava cada vez mais trabalhoso porque eles não viam com exatidão de onde eles estavam vindo. E eles também não podiam atirar de volta, pois isso poderia servir como um rastro para os capangas o encontrarem. Eles tentavam se esconder por entre as árvores e pedras enquanto corriam, mas não conseguiam fazer direito nem uma coisa e nem outra.

Estavam completamente atordoados naquela fuga. O nervosismo era tanto que tinha momento que nem sabiam para onde ir direito. A estrada ficava tão perto e tão longe ao mesmo tempo. Isso porque eles andavam sem rumo para diversos lados, quase andando em círculos. Os capangas conseguiam se dispersar, e aos poucos, cercar o lugar.

Foi um longo momento onde todos os medos e vulnerabilidades da dupla ditavam seus atos. Caçados como bichos indefesos e amedrontados. O cansaço não era só físico, era psicológico. E não dava para saber qual desses dois cansaços era o mais forte. Não era a primeira vez onde eles lutavam para salvar a própria vida, mas dessa vez estavam completamente por conta própria.

A vontade de um era proteger o outro também, só que eles não estavam conseguindo nem se selvagem sozinhos. Embora ainda estivessem próximos, tentavam ao máximo se esquivarem das luzes das lanternas para não serem flagrados. Escoravam-se nas árvores, abaixavam o corpo se escondendo em pedras ou algo do tipo.

Qualquer movimento que os capangas percebiam, eles atiravam. A situação estava difícil até para esses homens naquela noite de forte tempestade. Mesmo estando em maior número. E não podiam fazer muito além de obedecer. Palavra de Russo era lei. E este, também estava empenhado em pegar Daniel e Bento. E destruí-los.

Tamanha determinação era tão assustadora que ele foi capaz de ficar próximo à floresta e observar todo o movimento. Sem se preocupar em pegar chuva. Seu paletó branco estava todo ensopado, a fina roupa ficava cada vez mais suja. Ele mirava seu fuzil e atirava. Fazendo o que seus capangas também faziam, porém muito mais friamente.

Tudo isso acontecia em poucos minutos. Onde os segundos pareciam ser muito mais longos do que realmente eram. Por isso a dupla sentia estar presa naquele matagal lamacento por horas, uma eternidade. O nervosismo extremo só fazia aumentar essa sensação ruim. A mente desorientada ajudava a pregar essas peças.

Daniel era o que mais se escondia e o que menos se movimentava. Estava tão atordoado que não tinha coragem para sair correndo. Sentia raiva por estar tão vulnerável, sem ter forças para lutar e enfrentar aquilo da melhor maneira. O que estava acontecendo com ele para se acovardar? Nem Daniel sabia dessa resposta, pois ele também estava desse jeito.

Passado SelvagemOnde histórias criam vida. Descubra agora