Insônia

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4 ANOS ATRÁS

Com tempo de sobra, ou quase, dava para planejar melhor os caminhos. Bento tentava achar seus atalhos, dirigindo a caminhonete por estradas menores e que seriam menos movimentadas. Assim correria menos risco de ser flagrado, pois todo cuidado era pouco, e continuaria o trajeto muito mais tranquilo.

Tranquilidade, aliás, era sua palavra de ordem no momento. Estava tão relaxado. E isso se refletia até na sua postura, menos sisuda. Embora aparentando estar meio sonolento Conduzindo o velho veículo naquela tarde — mais ou menos umas quatro horas — ele nem parecia estar cansado. A parada que fez para curtir e descansar fez muito bem para o ex-militar.

Ainda havia coisas para se fazer, sabia disso. Mesmo assim dava tudo como missão cumprida. Não precisaria mais se sujeitar a humilhação de entrar nos lugares para roubar as pedras. Esta, para ele, era a pior parte. Então, não tinha muito com o que se preocupar. Era só vender o que conseguiu, e dar um jeito de fugir do país.

Por isso seu otimismo quase repentino. Que fazia ele se sentir menos pior por ter perdido tudo. Afinal, querendo ou não, ele ainda estava era um procurado da polícia pelos crimes que cometeu, teve seu dinheiro e suas coisas de valor bloqueados. Além de perder a patente e a reputação conquistadas com anos de serviço militar.

Enquanto o ex-militar vislumbrava um futuro, um pouco mais seguro, Daniel continuava com o corpo e a cabeça na realidade. Ele não era de cantar vitória antes da hora, sabia que o plano ainda não havia terminado. Os diamantes continuavam em sua posse, esperando serem trocados por uma maleta lotada de dólares. Planejava mentalmente em como fazer para fugir com o dinheiro e se manter com ele.

Pragmático, ele estranhava a positividade de Bento. E era até irritante, para o hacker não fazia nenhum sentido comemorar por antecipação. Além do dinheiro, pensava se lidaria com o que aconteceria dali em diante. Principalmente na questão dos sentimentos. Porque a dupla, depois de tanto tempo juntos, iriam se separar. Ele não estava tão contente com isso e sabia o motivo disso.

Depois de uma vida inteira sem sentir nada por ninguém foi sentir algo logo pelo ex-militar. Era mais que afeto, mais que empatia. Era tudo isso junto com outras coisas. O apego por estar junto dele, a tristeza por saber que logo não veria mais ele. A dúvida se em algum dia, ele enterraria de vez essas emoções todas.

Olhava para Bianchini, ele parecia um pouco devagar nos movimentos e no olhar, mas sorria fraco. De certa forma, Daniel secretamente até gostava de vê-lo assim. Inevitavelmente era uma imagem bonita. Mas ficava bem aborrecido também, pois esse sorriso, o rapaz não veria por muito tempo.

— Já pensou no que vai fazer com o dinheiro? — Perguntou Bento com a voz baixa.

— Que? — Daniel saiu de sua distração.

— Com o dinheiro? O que vai fazer com ele quando receber?

— Ah, sei lá. Nem pensei nisso ainda. Vou pensar na hora.

— Tô só planejando o que vou fazer. — Riu fraco.

— Não acha que tá cedo demais pra isso? Nós não chegamos nem no Rio de Janeiro ainda, ainda nem entrei em contato com o vendedor.

— Mas é bom já planejar essas coisas.

— Primeiro tem que planejar como você vai fugir. Isso por si só já vale um bom dinheiro, vai ter que molhar a mão de muita gente.

— Tem isso também. Disse que conhecia alguém que aluga aviões pra esse tipo de coisa, não é?

— Disse. Mas ele não cobra barato. E depois, eu também tenho que pensar na minha fuga?

Passado SelvagemOnde histórias criam vida. Descubra agora