Manhã

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4 ANOS ATRÁS

Não fazia muito tempo que aquele carrão preto rodava pela estrada. E do jeito que Daniel dirigia, demoraria um pouco. Simplesmente porque ele não sabia para onde ia. Sem placas que sinalizassem o caminho e sem nenhum senso de localização, ele tentava voltar para a cidade onde deixou a caminhonete. E consequentemente, os diamantes.

Achar o veículo, que era daqueles bandidos, não foi fácil. Ele e Bento tiveram que correr pela mata para achá-lo. Não hesitaram nem um pouco em roubá-lo, era o único jeito de ir embora. Por sorte conseguiram sair fora antes que os meliantes acordassem. A luta foi boa e tensa.

Era naquele carro que estava o diamante que a dupla pegou, e que foi surrupiada de imediato. Assim como seus revólveres, e toda a munição que aqueles meliantes levaram. Que, inclusive, não era pouca. Era um veículo bem confortável, diga-se de passagem. Até ar condicionado tinha. E cansados do jeito que estavam, era capaz até de se acostumar em estarem nele.

Bento era o que estava com a postura mais relaxada. No banco do passageiro, ele encostava sua cabeça perto da porta. Segurava o potinho com a pedra numa mão, e sua arma na outra. Seu olhar estava distante. Continuava sujo de terra, seu corpo fraco tentava se recuperar em repouso. Pensava em tudo, e ao mesmo tempo não conseguia pensar em nada.

Embora estivesse dirigindo, em uma temporária e curiosa inversão de papéis, Daniel não podia deixar de notar a distração do parceiro. Ainda estava em sua mente tudo o que aconteceu, tudo ainda era surpreendente. Pelo menos conseguiram sair vivos, pelo menos desta vez.

— Achava que tinha se entregado. — Disse Daniel — Quando aceitou fazer tudo aquilo.

— Não... — Respondeu permanecendo na mesma posição — Eu só tava ganhando tempo. Queria distrair aqueles abestalhados pra pensar em alguma coisa.

— Aí você pensou em jogar eles no buraco.?

— É. Vi você atrás deles, foi a chance.

— Fiquei surpreso com o jeito que você falou com aqueles idiotas. Distraindo eles.

— Isso não foi difícil. Eles mais falavam do que faziam alguma coisa.

— Mesmo assim. Essa ideia foi muito boa. Nem eu pensaria isso tão rápido.

— Quando se entra no exército, pensar rápido é uma obrigação mínima. Senão tu se fode.

— Entendi.

Os dois ficaram calados por alguns segundos. Bento continuava com o mesmo olhar. Não conseguia parar de pensar na principal descoberta pra noite. Algo que ele tinha total certeza que traria péssimas consequências.

— Tá mal assim por que? — Perguntou Bento mais uma vez.

— Nada, só tô pensando numas coisas.

— É sobre o Russo, né?

— É. Deve me achar um idiota por não saber que o trabalho que ele disse que ia fazer era justamente esse trabalho.

— Não tem problema. É como eu te falei, não é só a gente que tá atrás delas.

— Lógico que tem problema, né? Hora que ele souber que o cabra que vende as armas pra ele tá roubando as pedras... não vai ser bom pra ninguém.

O hacker estava bem sincero ao demonstrar que estava impressionado por tudo que o ex-militar fez. Como também, de uma certa forma, compadecia de sua agonia. Sabia o quanto Russo e sua quadrilha poderiam ser bem perigosos, principalmente sabendo demais.

Passado SelvagemOnde histórias criam vida. Descubra agora