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O Sol surgia no horizonte indicando mais uma manhã começando. Justamente nesse comecinho de dia, Daniel já havia acordado, tomado banho, colocado uma roupa e tomado café. Ele mal dormiu naquela noite, mas saiu disposto e sem o menor sinal de cansaço. A velha e conhecida hiperatividade de seus tempos obscuros da juventude havia voltado com força.

Como sempre, não fugia de suas responsabilidades pessoais. A primeira coisa que fez ao sair de casa foi levar Benício para a creche. Felizmente o lugar era em tempo integral, então sentia mais seguro. Além de ser particular e não custar barato, mas valia a pena mesmo assim. Doía seu coração em não poder exercer totalmente o seu papel de pai por conta de sua vida atribulada, porém não tinha outra escolha.

Fez o caminho de volta e foi direto abrir a loja. Um expediente totalmente tranquilo e normal pelas horas que se seguiram. Nenhum freguês apareceu, o que deu espaço para ele dar uma verificada no caixa e nas contas, junto com seus dois funcionários. Conseguia fazer tudo sem o menor problema, menos que sua mente estava focada mesmo em outra coisa.

Depois de flagrar Ajax em uma conversa reveladora com alguém misterioso, seu único objetivo era encontrar um jeito de descobrir quem era essa pessoa que estava recebendo informações do Delegado. Afinal, pelo que escutou, ela era a responsável por incluir Daniel na operação para prender Alemão. Então, tratava-se de um conhecido.

Saber quem seria esse conhecido era o maior dos desafios. Mendonça pensou em tantos nomes, conhecidos e desafetos do passado de hacker. Mas nenhum deles poderia ter motivos para colocá-lo nisso, para o bem ou para o mal. Não fazia o menor sentido. E mesmo se tivesse, não conseguiria entender qual era.

O único fato no momento era de que ele precisava ficar em cima de Ajax de um modo mais intensivo. Segui-lo e procurar evidências que o liguem e ajudem a descobrir a identidade de quem estava no anonimato. Montar as peças deste quebra-cabeça era difícil, mas ainda era encontrar as peças dele.

Pensou muito no que iria fazer, em algum jeito de conseguir informações de Ajax sem ninguém saber. Considerou a ideia de entrar no apartamento para ver se descobria alguma coisa, mas ficou em dúvida se isso era a coisa certa a se fazer. Moralmente falando, não era. E o que o Delegado estava fazendo também não. Enganação por enganação...

Sendo certo ou não, entrar onde ele morava não era algo tão simples assim. Era preciso entrar no prédio que ficava em uma rua movimentada e se esforçar para que não fosse flagrado nem pelas pessoas e nem pelas possíveis câmeras de segurança que poderiam estar no caminho. Além disso, precisava ter a chave do apartamento, ou algo parecido.

E com isso se deu conta de que, talvez, esta última parte ele poderia resolver. Um insight imediatamente surgiu em sua mente enquanto estava cuidando da loja e pensando em como agir. Sua memória, ainda que nebulosa e incerta, o fez lembrar de que ainda tinha algo que o ajudaria a entrar no apartamento.

Aproveitou que seus funcionários estavam por perto e saiu de seu estabelecimento pelos fundos, sem dar nenhuma explicação. Subiu para o sobrado em uma escada anexa e foi para sua moradia. Passando rapidamente pela sala até chegar em seu quarto. Sem saber por onde procurar primeiro, foi até seu guarda-roupa e abriu as portas. Vasculhou por entre as roupas e objetos que estavam dentro, abriu as gavetas e não encontrou.

Em seguida, foi até o criado-mudo e abriu todas as gavetas. Continuou na mesma. Saiu do quarto, entendendo que não conseguiria nada por lá, e foi andando em direção aos fundos do sobrado. Chegou à área externa, um lugar pequeno, feio e bagunçado. Meio quintal, meio lavanderia. A primeira coisa que fez foi abrir uma caixa de plástico com quinquilharias velhas que estava perto da máquina de lavar.

Enfiou a mão direita e ficou procurando, tocando nos objetos dos mais diferentes tamanhos e formas. Todos empoeirados, fazia tempo que ele não limpava ali. Uma busca que durou poucos segundos, até que conseguiu colocar a mão mais no fundo e encontrar a minúscula coisinha que estava lá.

Passado SelvagemOnde histórias criam vida. Descubra agora