Castigo

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A maior vontade de Daniel era de não ter enviado aquelas últimas provas para Ajax, incluindo o vídeo da caneta espiã. A raiva do Delegado era culpa dele, podia ter omitido tudo. Mas fez uma promessa, e a cumpriu. Mesmo sabendo que isso não poderia acabar bem. Afinal, o plano falhou. E isso poderia trazer sérias consequências.

E Ribeiro foi enfático ao chamá-lo para a delegacia urgentemente. Ou melhor dizendo, convocá-lo. E lógico que ele foi. Já estava ficando até repetitivo e chato ele indo até aquela delegacia, passando pelos mesmos lugares movimentados até entrar na sala do Delegado. Era como se tudo seguisse um roteiro onde sempre acontecia a mesma coisa.

Tedioso.

Mesmo assim ele foi naquela manhã, tinha que ir. Entrou no prédio, avisou para a recepção, passou pelos caminhos que naquela altura já havia decorado. E não demorou nada. Chegou perto do vidro que separava a sala e viu o homem.

O semblante de Ajax era um enigma. Sentado, seu cotovelo esquerdo estava apoiado na mesa enquanto sua mão cobria seu rosto. Ele parecia estar atento e concentrado, mas ao mesmo tempo que aparentava estar bastante indisposto e até irritado. Sem nenhuma vontade de prestar atenção em absolutamente nada.

— Queria me ver? — Perguntou Daniel perto da porta.

Ajax levantou a cabeça e olhou para Mendonça. Ainda estava sentado, mas seu olhar era bem sério. De repreensão pura.

— O que você acha?

— Tá grosso hoje.

—Tenho motivo pra estar. É melhor você entrar.

O ex-hacker entrou, em um semblante sóbrio. Já esperando por algo ruim.

— Como eu não estou com muita paciência e sei que você nunca tem, eu vou ser logo direto. Daniel, eu não vejo outra opção a não ser te afastar desse caso agora mesmo.

— O que? Tá falando sério?

— Mais sério do que nunca. — Respondeu e olhou nos olhos dele — Olha, eu tentei. Eu tentei confiar em você, mas não deu.

— Eu não sou confiável agora? É isso?

— Não é isso. Não é sobre você ser confiável, são essas suas... estratégias é que não são.

— Tudo bem, eu falhei dessa vez, eu admito. Mas foi só dessa vez. Vou ser crucificado por isso.

— Não quero brigar com você, Daniel. Mas você tinha total noção do quanto essa sua ideia foi extremamente arriscada e pode ter até exposto o nosso trabalho.

— Sim, eu tinha. Obrigado por me lembrar. — Ironizou.

— Tá vendo? Esse é outro motivo pra repensar essa nossa parceria. Toda vez que eu falo algo com você, vem com deboche, com ironia. Parece que não leva nada a sério.

— Tá bom. Eu levo tudo a sério sim, se é isso o que quer saber. Se eu não levasse, eu não gastaria meu tempo virando a noite pra conseguir informações que eu nem sei mais se tem. E depois, o lance com a caneta espiã não é culpa minha. Foi a mulher que deu pra trás e ferrou com tudo. Tá aí o vídeo que não me deixa mentir.

— Eu sei disso, e é por isso que não dá pra confiar nessas suas técnicas. Você pode ser um bom hacker ainda, mas ninguém pode garantir que tudo o que você fizer vai dar certo. Isso é não é uma brincadeira. Não dá pra contar com a sorte.

— Agora tudo o que eu faço se resume a sorte? Não sei se ainda se lembra, mas esses diamantes que você quer apreender, fui eu e o Bento quem pegou primeiro.

Passado SelvagemOnde histórias criam vida. Descubra agora