Verdade

59 9 6
                                    

4 ANOS ATRÁS

Não estava sendo fácil esperar o tempo passar. Sobretudo por não estar fazendo absolutamente nada. Depois que Daniel arrumou aquele quarto de hotel para Bento descansar, a única coisa que podia fazer era esperar que seu parceiro melhorasse. E isso virou algo bem tedioso. foram mais de vinte e quatro horas assim.

Nesse meio tempo, tentou procurar algo para se distrair. A noite chegou e ele não conseguia pegar no sono. E mesmo se conseguisse, não iria dormir na mesma cama que seu parceiro. A única que tinha. Não seria prudente. Até tentou relaxar sentando-se no chão e pegando um travesseiro livre, mas apenas conseguiu uma soneca fraca de mínimos minutos.

Inusitadamente, esse pouco tempo de repouso bastou para Daniel se sentir um pouco melhor. Não era do tipo que era derrotado pela insônia, convivia com ela pacificamente. Foram tantas noites em claro em sua vida, que isso era algo no qual ele havia se acostumado. Era um hábito do qual não se importava.

De manhã e durante a tarde, revezou-se entre ficar no quarto e sair. Não gostava de ficar enfurnado naquele lugar pequeno, mas também tinha receio de sair e ser visto. Não dava para se arriscar por bobeira. Por precaução, ainda estava com seus documentos falsos. E todo o processo de reserva no hotel foi feito com eles.

Chegou a descer para procurar algo para comer, e percebeu que não conseguiria isso no hotel. Era inacreditável como as bebidas e guloseimas que ficavam guardadas na geladeira da recepção eram tão caras. Como se custasse o dobro, ou até o triplo. Parecia que os dois parceiros não eram os únicos ladrões daquele lugar.

Por conta disso, Daniel teve que sair e buscar algum lugar que ao menos fosse barato. Conseguiu encontrar uma vendinha em outro quarteirão. Não comprou muita coisa, para não gastar. Duas garrafas de suco e um pacotinho de bolacha salgada. Era engraçado o fato dele orquestrar um roubo e ainda ter que gastar dinheiro, quando na verdade ele tinha que ganhar. Mas já foi.

À tarde, voltou para o hotel, subiu às cansativas escadas e voltou para o quarto. Colocou o que tinha comprado em cima do criado mudo. Estava um pouquinho escuro, a janela estava fechada pela metade. Nada havia mudado do dia anterior até ali, inclusive Bento continuava dormindo. Chegava a impressionar o tanto de sono que tinha, e mostrava que ele precisava desse descanso para melhorar.

O lençol o cobria da cintura para baixo. Deitado de lado, a regata branca estava levemente levantada, mostrando parte do seu abdômen. Era possível ver a calça jeans jogada no chão ao lado, assim como as meias. Da cintura para baixo estava apenas de cueca, para poder se sentir mais confortável. Porém o tecido branco escondia seu corpo.

Lentamente, e tomando todo o cuidado possível, Daniel sentou-se na beirada da cama e curvou sutilmente seu corpo até onde estava seu parceiro. Mais lentamente ainda, ergueu a mão direita e foi indo até tocar a testa do ex-militar. A temperatura não estava tão quente como no dia anterior. A febre finalmente havia abaixado. Ainda bem.

Juntou as mãos perto das coxas e continuou observando ele dormir. Não era a visão mais bonita do mundo, mas para Daniel era. O hacker pôde observar melhor alguns detalhes que não havia notado antes, como as discretas sardas ao redor do nariz dele. Além de olhar para as costas do homem que eram largas, mesmo com o corpo encolhido. Os grandes e fortes braços estavam com a musculatura bem rígida.

Daniel fitava-o com menos pudor desta vez. Aproveitava esses minutos para alimentar por um tempo os sentimentos que reprimia. Pelo menos isso, em silêncio, podia fazer. Parado, vendo o ex-militar repousar, permitia-se admirar. Segurava as lágrimas, pois se entristecia por achar que aquela paixão era um desejo inalcançável.

Passado SelvagemOnde histórias criam vida. Descubra agora