Gala

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4 ANOS ATRÁS

Várias luzes estavam acesas sobre o enorme terraço do casarão. O movimento na rua em frente era intenso, um entra e sai de carros importados. Destes veículos blindados, saíam as madames de penteados estravagantes, vestidos chiques e bolsas francesas que custavam os olhos da cara. E claro, acompanhadas de seus maridos de meia idade vestindo smokings tradicionais e fingindo estarem empolgados quando na verdade, só estavam lá cumprindo tabela para mostrarem como eram ricos.

Era mais uma noite de festa promovida pela família rica dona daquela luxuosa mansão. Uma formalidade que acontecia quase semanalmente, na maioria das vezes sem um grande motivo aparente. Tudo não passava de pretexto, tanto para os anfitriões quanto para os convidados. Nada mais que uma maneira supérflua para gastar dinheiro aos tubos, e assim aparecerem na mídia local. Todos se promovendo uns para os outros e jogando na cara dos reles mortais o poder da elite nas páginas de colunismo social.

Os ricaços que atravessavam o terraço para o hall de entrada seguiam com suas cabeças erguidas. Desprezando desde os dois seguranças que faziam a guarda sem chamar muita atenção até o manobrista que guardavam os carros deles. O que importava mesmo era o tão famigerado status quo. E era nesse cenário requintado e medíocre que a dupla de criminosos, que se tornou um trio naquela noite em especial, tinha que passar despercebido para conseguirem sucesso naquele último plano.

Lis Kelly estava acompanhada dos dois homens, andava no meio deles. O longo vestido vermelho tinha alguns bordados perto do profundo decote além de fendas que deixavam a mostra as duas pernas. Seus cabelos estavam ajeitados para o lado direito, caídos sobre o ombro levemente ondulados. Não foi difícil para ela se arrumar para o evento, era dela aquele vestido. Estava em sua bolsa. Difícil mesmo foi conseguir o figurino para os dois homens.

Os smokings que os dois vestiam eram praticamente iguais. Lapelas pretas acinturados com colete cinza por baixo, que por sua vez estavam com uma camisa branca por baixo. Além, óbvio, das gravatas borboletas. Os sapatos de verniz brilhavam contra a luz de tão novos, assim como os botões do colete. Eles, assim como ela, estavam elegantes até demais.

De fato, Lis Kelly abusou de seus truques e conseguiu aqueles trajes inteiros para que eles se espalhassem pela multidão de ricos. Deu um jeito de pegar as peças, ou melhor, roubar. A moça escondia o jogo, mas era nítido que ela usou de seus métodos — quaisquer que fossem — para entrar em uma loja qualquer que alugava esse tipo de roupa e as surrupiou na mão leve. Sem ninguém perceber.

Isso já não importava mais. Com aquela roupa, ninguém desconfiaria que aqueles dois criminosos não tinham nem onde caírem mortos. E muito menos que poucas horas atrás, eles estavam completamente maltrapilhos depois da jornada maluca que tiveram. Era um disfarce previsível, mas muito bom.

Mesmo que o figurino fosse o mesmo para ambos, o caimento era diferente para cada um. A lapela acinturada fazia com que os ombros largos de Bento se destacassem. Respirava aliviado ao sentir que aquela roupa cabia em seu corpo, mas não estava gostando nada do desconforto daqueles sapatos nada práticos. Enquanto Daniel, mesmo aparentando estar bem esbelto, sentia que aquela composição toda o deixava rígido demais. Achava que estava parecendo um pinguim.

Até a postura mudava automaticamente naquele smoking. Poderia parecer exagero, mas aquele figurino era o tipo de roupa mais refinado que os dois já vestiram em toda a vida. O ex-militar nunca soube o que era usar ternos sociais, pois em eventos formais ele era obrigado a vestir a tradicional farda verde oliva. Enquanto que o hacker nunca soube o que era um evento formal.

Eles andavam vagarosamente pela passarela de cimento, que ficava no centro do gramado do terraço. Uma grama de verde forte cheia de luminárias, vasos com plantas grandes e estátuas velhas. Caminhavam com um segurando levemente o braço do outro. Fingiam frieza, mas estavam bem nervosos.

Passado SelvagemOnde histórias criam vida. Descubra agora