V | Dores do Esquecimento |

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"Seguiremos por um caminho repleto de descobertas e dores, mas saiba que sempre estarei com você, há cada passo da nossa estrada."
— Timmy Goodman.

Por Calvin Lemos:

Ficar trancado no mesmo cômodo que Christian não foi tão insuportável, como idealizei, mas graças ao álcool. Bebemos mais ainda, sozinhos dentro daquele quarto envolto de sombras. Em algum momento, Christian apagou as luzes, nos deixando no mais escuro possível. Mentalmente lembro de agradeci essa ação dele; assim não teria que olhar para a cara dele enquanto eu enchia a minha.

Após isso, não lembro de nada.

Quando acordei no dia seguinte, os dois estágios do pós-festa me atingiram. Primeiro veio a dor de cabeça, seguida da imensa vontade de vomitar. Não sei o que aconteceu daquela loucura de bebidas que eu e o Christian estávamos. Em algum momento alguém deve ter aberto a porta do quarto, porque agora estou deitado no sofá, de conchinha com uma garrafa de vodka.

Lentamente, sentindo pontadas na cabeça, me sentei no sofá, me pondo a observar o ambiente ao redor. A casa estava totalmente revirada de cabeça para baixo. Parecia que um furacão passara por ali.

Arthur estava dormindo no outro sofá, com quatro garrafas consigo. Ele era o pior de nós dois. Sempre foi. Levantei do sofá, pronto para acordá-lo, quando acordou por si mesmo.

— Bom dia, Calvin — Saudou, com uma cara péssima. — Eu nunca mais vou beber! Que dor de cabeça desgraçada!

— Você disse isso nas outras 99° vezes passadas. Admite que você é um mini-alcoolatra.

— Nunca! — Devolveu, sentando no sofá. — Estou apenas aproveitando minha adolescência de modo correto e normal. Porra! Que dor!

Tive vontade de rir, mas suprimi essa vontade por causa enxaqueca insuportável que eu sentia.

— Onde estão as aspirinas? — Marcus Stone apareceu na sala, usando apenas uma bermuda jeans. Seu peitoral a mostra fez meu amigo o encarar com o seu descarado olhar de tesão. Se controla, Arthur!

— Provavelmente perto do riquinho de merda. — Dessa vez era Christian aparecendo na sala, trajando apenas uma sunga, com os cabelos úmidos. Rolei os olhos, com raiva. Olhei para meu lado e vi as benditas aspirinas em cima de uma mesinha de vidro. Peguei uma e entreguei outra ao meu melhor amigo. Engolimos a seco.

— Vamos, Thur. Não quero ter que ouvir latidos de um certo cão sarnento. — Debochei, passando pelo babaca Andrews, que tinha uma carranca. — Porquê no momento minha cabeça dói e não quero ser preso por agredir um animal.

— Me chamou de animal, Santiago? — Ele questionou, se aproximando de mim. Dei um passo a frente, ficando perto dele.

— Christian? Desculpa, não consegui te ver aí, totó. — Mesmo de ressaca, minha ironia se mantinha agressiva e certeira.

Christian gargalhou, de forma amarga. Novamente seus olhos encontraram os meus, assim como da vez no estacionamento da escola. Aquele oceano verde que impacta tantas meninas me encaravam numa onda travessa ao invés de raiva.

— Calvin, não adianta ser cínico. Sei que me odeia — Disse — E garanto que é recíproco.

Em toda essa situação há apenas um fato estranho: a aceleração do meu coração. Não queria que ele estivesse assim, mas está. Tudo isso por causa do sorriso de moleque travesso e brincalhão que Christian demostrava. Meus olhos focavam em seu sorriso e seus olhos.

— Se sabe disso, porque ainda tenta me derrubar sabe do que não vai conseguir?

Aquele jogo poderia ser jogado por dois. Aquela competição infantil teria um vencedor e seria eu.

O Último Beijo | Livro #1 | Romance gay | Concluído✅Onde histórias criam vida. Descubra agora