O Último Beijo | Livro #1 | Romance gay | Concluído✅

XXXI | Dançando com o Medo |

"Enquanto uns acham que eu fui forte por mim mesmo, outros sabem que você é a minha força. Você que me fez ser quem sou hoje."

— André Soeiro

º Por Christian Andrews:

Calvin se encostou na árvore, observando as flores do mini-jardim. Engoli em seco, me levantando e indo até ele. Sequer imagino o que deve estar passando pela cabeça dele, mas eu sei que há algo que o impede de aceitar o meu pedido de namoro e terá que me revelar o que é.

Me aproximei mais dele, cautelosamente. Parecia estar lidando com um animal selvagem e não com o meu futuro namorado.

— Me fala o que te impede de me aceitar — Pedi, parado de frente para ele, impedindo a sua visão do jardim, contudo seus olhos mesmo assim não se desviaram. Somente ali que entendi que Calvin tinha o pensamento longe. Apoiei a mão em seu ombro, sacudindo-o levemente para tirar ele daquele limbo que se enfiou. — Calvin!

— O que?! — Ele exclamou, levantando os braços. Havia assumido uma postura defensiva, semelhante ao que os seguranças do meu pai assumiam quando me davam aula de combate.

— Ei, está tudo bem. Sou eu, Christian! — Rapidamente falei, para acalmá-lo. O medo do ataque de pânico dele voltar veio com força e me atingiu sem mais nem menos. Ergui os meus braços desta vez, mostrando que não tinha ameaças em mim. Parece que funcionou, pois logo voltou ao normal; suspirei aliviado. — Você está bem?

— Estou um pouco. O que perguntava? — Calvin finalmente elevou os olhos de encontro aos meus. Uma parte de mim se atentou na confusão estampada em suas íris azuis enquanto a outra continua rendida pela beleza deles. A verdade é que os olhos de Calvin são a minha parte favorita do corpo dele. Neles me sinto transparente, instigado a fazer coisas que jamais pensei em fazer. Me declarar da forma que estou fazendo é uma delas. Todos os meus relacionamentos anteriores começaram porquê a garota que se declarou para mim, com a Alice não foi diferente. Entretanto, com Calvin tudo muda e não estou incomodado com isso.

— Queria que me falasse o porquê de não aceitar o pedido do namoro. — Respondi, tentando não soar esperançoso. Ao que parece, consegui. Enquanto isso, vi Calvin ficar tenso e claramente pensava no que falar. Perceber tal fato me fez elevar a sobrancelha em desconfiança.

— Não é certo nós começarmos a namorar tão cedo, Christian. Somos jovens demais para pensar nisso — A voz dele soava nervosa e incerta. Ele estava mentindo para mim, isso era mais do que certo. Nos meses em que vivi com ele antigamente, aprendi da pior maneira a saber quando ele está mentindo. Calvin soa forçado, e não consegue parar um segundo com os olhos. Sempre olhando inquieto para algo. Justamente agora ele está fazendo tal coisa.

— Está mentindo. Não é isso que te prende na negação de aceitar que me quer tanto quanto eu te quero. — Falo, na lata, sem cerimônia alguma. A retruca surtiu efeito nele, pois Calvin se calou instantaneamente. Suspirei, vendo que fisgar este peixe sarcástico será mais difícil do que pensei. — Meu amor, por favor. Me diz o que tanto te preocupa, que te impede de aceitar esses sentimentos. Me fala...

— Eu tenho medo, Christian. Tenho medo das pessoas dessa cidade. Tenho medo de acabar fazendo você se machucar, ou pior, morrer por simplesmente termos nos relacionado. Estamos numa cidade, numa era onde amar quem quiser é visto como uma doença, Christian. — Calvin me interrompe, ofegante. A visão dele outra vez se foca no lago. — A história de Arthur e Tyler me assusta. Não deveria, mas me aterroriza saber que algo do tipo pode acontecer com nós dois. Toda a tragédia que os pais de Tyler fizeram para o namoro dos dois desabou a certeza que eu tinha de não ligar para a opinião dos outros, mas agora, só de pensar em eles descobrindo sobre nosso envolvimento, fico apavorado, Christian. De uma forma que não fiquei nem quando a Lydia tentou me matar afogado. É isso que me impede de aceitar esse seu pedido. É loucura!