As fortes e geladas rajadas de vento fizeram Toni encolher todo o seu corpo; em pleno final de outono o frio castigava quase severamente. A garota estava guardando seu crachá em sua bolsa quando suas chaves caíram no chão. Imagine ter que tocar no metal, agora molhado, em pleno nove graus Celsius?
Serenava devido à hora: Pouco mais das onze da noite. Toni fez o que mais cedo ou mais tarde teria que fazer e acabou pegando a chave do chão. A garota voltou a se levantar, todavia, algo não a deixou se mover. Ela fechou os olhos ao cair em percepção de que deveria ter ido visitar a senhora Penélope e Cheryl.
Seus passos foram desajeitados e apressados para dentro do hospital e logo ela estava no elevador rumo ao quarto da garota. Por sorte não precisou ter que gravar outros números de quartos aquele dia, se não, com certeza teria problemas em se lembrar do número do quarto de Cheryl.
Assim que chegou ao piso em que deveria descer, ela rumou para o quarto. Deu três suaves batidas na porta e logo a mesma foi aberta.
- Olá. - Ela disse docemente. - Muito tarde? Se quiser eu posso voltar amanhã e...
- Não se preocupe, criança. Entre. - Penélope disse, vendo Toni (Agora não uniformizada) entrar. A garota deixou a bolsa no canto da sala e se aproximou de Cheryl.
- Olá, Cheryl. Como está? - Toni disse, vendo Penélope voltar a se sentar em sua cadeira. - Vejo que pentearam seus cabelos. Está linda!
- Ninguém a visitava e, bem, ela sempre gostou de ficar bem arrumada para as visitas. Dei uma leve ajeitada. - Penélope disse sorrindo fraco e Toni agradeceu mentalmente por ter lembrado de visitá-la. A mulher teria se chateado caso o cérebro de Toni resolvesse falhar em lembrá-la de algo novamente.
- Oh! - Toni disse. A menor analisou a expressão da mãe de Cheryl. Aquela mulher carregava consigo uma dor tão profunda que transparecia no brilho de seus olhos. - Viu só, Cheryl? Sua mãe ainda se lembra seus gostos. - Penélope riu baixinho e assentiu.
- Você é muito especial, Antoinette. - Penélope disse, causando um sorriso no rosto da menor.
- Obrigada, senhora. Mas me chame de Toni, por favor. - Ela disse sorrindo fraco. Penélope assentiu. - Cheryl, vou contar para você e sua mãe sobre o meu chefe, quer escutar? - Toni perguntou sorrindo. - Ele brigou muito comigo por ter entrado aqui mais cedo. Ele realmente não deve gostar de mim. - Falou rindo.
- Oh, querida. Enganos acontecem. Por que ele brigaria com você?
- Por importunar a paz de uma família. Eu deveria ter ido à outro quarto. Levei bastante xingo, mas sabe, Cheryl? Gostei de conhecer vocês duas. - A porta foi aberta de supetão, roubando a atenção do momento para o doutor que entrava na sala.
- Boa noite, moças. Como estamos por aqui? - O homem que aparentava seus quarenta e poucos anos, mas incrivelmente lindo e simpático. - Temos visita nova para você, Cheryl? - O homem disse em um tom alegre e empolgado.
- Toni é nossa nova amiga, Doutor Jones. - Penélope disse sorrindo, se afastando para dar lugar ao médico, que retirava sua pequena lanterna do bolso de seu jaleco.
- Vamos lá. - Ele disse, abrindo um dos olhos de Cheryl e jogando luz nele.
- Você não se incomoda com isso, Cheryl? Se alguém jogasse luz nos meus olhos eu choraria de raiva. - Toni disse rindo. - Sou meio explosiva na TPM.
- Como disse que se chamava? - O médico perguntou, se virando para Toni.
- Bem, eu não disse. Penélope que me apresentou. Sou a Toni.
- Certo. Toni...
- Já sei. Pedirá silêncio. Desculpe! - Ela disse rindo um pouco envergonhada.
- Muito pelo contrário. Continue falando. - Toni arqueou uma sobrancelha.
- Bem, eu não entendi, mas tudo bem. Sou fácil em falar coisas aleatórias do nada. Isso me faz parecer louca? - Ela perguntou, vendo Penélope rir.
- Não, querida. - A mulher respondeu gentilmente.
- Toni, ande até a porta, por favor. - O homem pediu e Toni assentiu confusa. - Vá falando. - Que espécie de louco aquele médico era? Toni resolveu acatar seu pedido mesmo assim.
- Eu não posso ficar falando sozinha, doutor. O senhor me pede para falar, mas é complicado e isso compromete a minha imagem na frente da Cheryl.
- Repita o nome dela. - O homem pediu com veemência.
- Está tudo bem, doutor? - Penélope perguntou preocupada. O homem jamais fizera algo assim em todos os anos que estivera ali. Ele era apenas um interno quando foi apresentado ao caso e permaneceu até os dias atuais ao lado daquela família.
- Sim. Só preciso que Toni repita o nome da Cheryl.
- Claro. Cheryl, eu não sei porque o doutor quer que eu repita seu nome, mas gosto de "Cheryl". É um bonito nome e por isso repeti sem problemas.
O homem soltou uma risada animada e apagou a lanterna, olhando para Penélope visivelmente comovido. Ele havia se apegado à garota e dizia que naqueles quatorze anos Cheryl lhe ensinava sobre perseverança todos os dias.
- Senhora Blossom, podemos trocar uma palavra? - Ele perguntou e Penélope olhou confusa e assustada para ele.
- Eu prefiro que Toni esteja comigo. - Ela confessou. - Você sabe que eu não tenho... mais ninguém, doutor. - Os olhos negros do homem se direcionaram para Toni antes de ele assentir.
- Tudo bem. - Ele disse. - Senhora Blossom, de alguma maneira a sua filha parece responder quando ouve. As pupilas se dilatam e se movem, porém...
- Oh meu Deus. - Penélope disse levando sua mão à própria boca. - Ela nos ouve? Oh meu Deus. Minha filha... - A mulher começou a chorar e o doutor respirou fundo.
- Preciso que se acalme, senhora. Ainda tem mais. - Ele disse, vendo-a limpar algumas lágrimas e voltar a fitá-lo. Penélope sentiu um aperto cálido em sua mão, virando-se apenas para ver que era de Toni.
- Prossiga, Doutor.
- Bem, o mais estranho de tudo é que, bem... Cheryl só responde à voz de Toni. Eu falei e nada, a senhora falou e nada, Toni falou e seus olhos a seguiram. Quando Toni proferiu o nome dela era como se seus olhos quisessem se aproximar dela.
- Está dizendo... - Penélope foi cortada pelo Doutor.
- A voz de Toni é o estímulo que procuramos todos esses anos para Cheryl, Penélope. - Toni piscou lentamente, tentando processar o que acabara de escutar.
Como raios seu dia se tornora tão louco?
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𝐢𝐧 𝐭𝐡𝐞 𝐛𝐥𝐢𝐧𝐤 𝐨𝐟 𝐚𝐧 𝐞𝐲𝐞 • 𝐜𝐡𝐨𝐧𝐢
FanfictionCheryl Blossom tinha apenas seis anos quando seus pais decidiram tirar as tão famosas férias em família. Iriam para a Tailândia, porém, o destino lhes foi cruel, causando o choque de um caminhão desgovernado contra o carro onde estavam durante o cam...