Os olhos castanhos estavam há quase um minuto presos nos ferros a sua frente, tentando assimilar o que Toni dissera para que ela fizesse. Confiava em Toni, contudo, seu verdadeiro medo estapeou-lhe bem na cara: E se não conseguisse?
- Que tal se tentarmos depois? - Cheryl perguntou e Toni riu suavemente.
- O que combinamos na virada de ano, hm? - Perguntou, erguendo uma sobrancelha, mas jamais perdendo o sorriso.
- Que este ano eu andaria antes da primavera chegar. - Cheryl disse e Toni aquiesceu.
- Exatamente. - Afirmou. - E para isso você precisa começar a treinar na barra paralela. - Cheryl umedeceu os lábios pensativa antes de olhar para Toni temerosa.
- E se eu não conseguir?
- Você vai. - Disse veemente. - Seus braços já estão fortes para sustentar o seu peso, agora precisamos trabalhar mais suas pernas.
- Por que meus braços estão bons e minhas pernas ainda não? - Perguntou.
- Nossas pernas exigem mais força de nós, você vai chegar lá. - Toni insistiu pacientemente. - Para irmos à piscina da sua casa em alguns meses quero que esteja boa, se não, eu não irei. - Impôs. Cheryl entortou a boca e olhou para a barra antes de voltar a olhar para Toni.
- Sem TT de maiô ou biquini? - Perguntou e Toni segurou o riso.
- Sem TT de maiô ou biquini. - Disse irredutivelmente, o que causou um longo suspiro em Cheryl.
- Você vai me ensinar a nadar? - Cheryl era esperta, queria negociar.
- Sim, mas precisa testar a barra.
- Se eu cair você não ri? - Pediu envergonhada.
- Você não irá cair. Eu estarei bem atrás de você, pronta para te segurar. - Toni informou e Cheryl tomou fôlego antes de assentir.
- Tudo bem, me leve até ela. - Pediu. Queria, a todo custo, voltar a andar novamente; queria os passeios que Toni lhe prometeu; queria poder ter a liberdade de tomar um banho sozinha; de poder subir a bendita escada sozinha; de poder se deitar por conta própria, pois apesar de isso ser algo que ela podia, sua mãe sempre a colocava para dormir.
Não que ela reclamasse, mas havia dias onde ela realmente queria estar sozinha. Aquele era um sentimento novo nos últimos dias, afinal sempre odiara ficar sozinha, porém ter as pessoas em cima dela o tempo inteiro estava começando a incomodar um pouco a menina, mas ela não diria nada a ninguém, não queria ser uma ingrata.
Toni ajeitou a cadeira de rodas em frente à barra e estendeu os dois braços a ela, fazendo a maior segurar suas mãos. Aquele, de longe, era seu toque preferido: O de Toni. Havia se passado três semanas após o natal, porém já sentia falta de Toni dormindo ao seu lado, porque a verdade era que Toni contava as melhores histórias, todavia, o que prendia a atenção de Cheryl era a voz eloquente de Toni, cheia de vida, fazendo cada personagem ser compreendido perfeitamente.
- Pronta? - Toni perguntou e Cheryl engoliu em seco, mas mesmo assim assentiu. - No três você vai fazer o que eu te disse, certo? - Novamente Cheryl aquiesceu.
- Certo. - Cheryl disse se preparando.
- Um... - Toni começou a contagem, tentando transpassar segurança, porém seu interior estava aflito e ansioso. - Dois... - Penélope se aproximou um pouco mais, mal podia esperar por aquilo. - Três. - Disse por fim, vendo Cheryl tomar impulso e, com a ajuda do leve puxão de Toni, a garota ficou em pé.
Cheryl olhou para as próprias pernas sentindo-se diferente, bem distinta do que algum dia já se sentiu. Seus olhos umedeceram e um enorme sorriso preencheu-lhe o rosto, fazendo Toni acompanhar a expressão.
- Eu estou em pé, TT... - Cheryl disse ainda incrédula. Sabia que não sairia andando por aí, que ainda tinha um longo caminho a percorrer. Claro que sabia! Toni já havia lhe explicado, mas o fato de conseguir se sustentar sobre seu próprio peso era magnífico e ela não podia medir a amplitude de seus sentimentos.
Toni sorria diante da emoção no rosto de Cheryl e de Penélope, mas as borboletas em seu estômago vieram lhe visitar assim que Cheryl apertou mais suas mãos e a puxou para mais perto. Seu rosto se levantou alguns centímetros e seus olhos subiram, acompanhando seus cílios, apenas para encontrar as orbes castanhas da ruiva fixadas em si, tão cintilantes quanto nunca. Toni estava em uma espécie de transe, até ouvir Cheryl dizer algo novamente:
- Eu sou mais alta do que você. - Cheryl disse sorrindo singelamente, fazendo Toni engolir em seco devido à proximidade das duas.
Claro que ela não beijaria Cheryl ou vice-versa, não ainda sequer trocado outro selinho depois do primeiro e, mesmo que tivessem, ela tinha a plena ciência de Penélope as vigiando. O que fazia Toni sentir sua pressão baixar foi a sensação de Cheryl em pé tão perto; uma real e clara melhoria; uma sinal de que as coisas não estavam estacadas.
- Sim, não é muito difícil ser mais alta do que eu, sabe? Levando em conta que não sou alta. - Toni disse rindo suavemente, sentindo Cheryl se agarrar mais em si como apoio.
- Eu sempre imaginei se eu seria mais alta. - Cheryl disse sorrindo. - Você continua linda daqui de cima.
Certo, ainda havia momentos onde Toni enrubescia fortemente ante aos elogios de Cheryl. Eram elogios inocentes, mas que faziam seu coração flutuar mesmo assim. Um pigarro de Penélope fez Toni corar ainda mais, focando no que realmente devia.
- Certo, vou para trás de você e te guiar. - Toni disse, segurando a cintura de Cheryl e indo para trás dela. A menor empurrou um pouco a cadeira para trás e se ajeitou no corpo da maior, tendo suas mãos segurando firmemente na pele de sua cintura. - Segure nas barras, Cherry. - E assim a menina fez, levando suas mãos brancas até as barras.
- Eu realmente sustento meu próprio corpo com os braços. - Cheryl disse entusiasmada, vendo que Toni não era nada mais que um apoio.
- Agora quero ande. - Toni pediu. - Aplique todo o peso que suas pernas aguentarem, mas fique atenta aos braços, eles te segurarão quando as pernas não ajudarem.
- Você vai ficar aí, não é? - Cheryl perguntou. - Mamãe, eu vou andar! - Exclamou com entusiasmo.
- Vou ficar com você todo o tempo. - Toni disse, esperando Penélope dar um beijo no rosto da filha por cima da barra antes de se afastar de novo.
Durante todo o tempo Cheryl fez todos os exercícios sem reclamar, colocando máximo empenho em tudo, mas houve uma hora em que seu corpo estava extremamente cansado, que ela já não aguentava muito. Toni soube ler seus movimentos, a colocando na cadeira novamente. Apesar da evidente exaustão, Cheryl parecia tão feliz que acabou por segurar a mão de Toni e plantar um beijo sobre a delicada pele.
- Obrigada, TT. - Pediu alegremente, fazendo Toni sorrir diante do gesto.
- Obrigada você por tentar. Agora preciso continuar o trabalho, tenho mais alguns pacientes. Nos vemos amanhã pela manhã. - Toni disse, pois já fazia parte de sua rotina visitar Cheryl e Penélope todos os dias. - Fiquem com Deus. - Toni disse, se inclinando para deixar um beijo no rosto de Cheryl, sem embargo, foi surpreendida quando a menina virou o rosto, fazendo seus lábios se encontrarem.
Toni corou assim que se afastou e seus olhos, automaticamente, foram para Penélope. Será que a mulher pensava que sempre que elas ficavam sozinhas faziam isso? Céus, o embaraço a dominou completamente.
- Huh, eu... - O riso calmo de Penélope contradizia o aparente constrangimento em seu rosto.
- Vá, querida. Está tudo bem. - Penélope disse e Toni assentiu, segurando a mão de Cheryl e depositando um beijo ali.
- Nos vemos, princesinha. - Disse sutilmente, vendo Cheryl assentir freneticamente.
- Até amanhã, TT. - Cheryl disse, fazendo Toni sorrir antes de sair. Apesar do evidente embaraço, ela ainda assim podia sentir seus lábios formigando e seu coração agitado.
Sem perceber um sorriso brincava em seus lábios.
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𝐢𝐧 𝐭𝐡𝐞 𝐛𝐥𝐢𝐧𝐤 𝐨𝐟 𝐚𝐧 𝐞𝐲𝐞 • 𝐜𝐡𝐨𝐧𝐢
FanfictionCheryl Blossom tinha apenas seis anos quando seus pais decidiram tirar as tão famosas férias em família. Iriam para a Tailândia, porém, o destino lhes foi cruel, causando o choque de um caminhão desgovernado contra o carro onde estavam durante o cam...