Babá Perfeita

• dez

Eu acho que a pior dor que se pode ter é ver quem a gente ama sofrer, eu sempre tive minha mãe e meu pai comigo, mesmo que eles trabalhassem muito e me deixassem diversas vezes com babás pra poderem sair e trabalhar, mas eu sabia que eles me amavam e que me apoiariam em tudo que eu sonhasse.

Era uma vez
O dia em que todo dia era bom
Delicioso gosto e o bom gosto
Das nuvens serem feitas de algodão
Dava pra ser herói
No mesmo dia em que escolhia ser vilão
E acabava tudo em lanche, um banho quente
E talvez um arranhão

Como da vez em que eu disse pra minha mãe com sete anos que eu queria ser bailarina, nossa isso durou por dois meses, até que eles me colocaram no ballet e eu saí de lá chorando porque as crianças ficavam me chamando de gorda.

Dava pra ver
A ingenuidade, a inocência cantando no tom
Milhões de mundos e universos tão reais
Quanto a nossa imaginação
Bastava um colo, um carinho
E o remédio era beijo e proteção
Tudo voltava a ser novo no outro dia
Sem muita preocupação

E teve a vez que eu queria ser cantora, eu era a desafinação em pessoa mais meus pais foram lá e me apoiaram até eu desistir de mais um sonho maluco.

É que a gente quer crescer
E, quando cresce, quer voltar do início
Porque um joelho ralado
Dói bem menos que um coração partido

Esse é o problema, eu estava frente a frente com Amélia nesse exato momento ouvindo uma música brasileira que Sofie me mostrou a um tempo atrás dizendo querer voltar a ser criança, eu não conhecia a música e fui pesquisar.

É que a gente quer crescer
E, quando cresce, quer voltar do início
Porque um joelho ralado
Dói bem menos que um coração partido

── Eu nunca em meus sonhos me via assim sabia, segurando uma bebê linda e chamando de filha, mas com você é diferente, eu não me dou o luxo de ser sua mãe apesar de querer muito ── olho Lia por uns segundo enquanto a pequena que segurava meu colar como sempre me olhava atentamente.

Dá pra viver
Mesmo depois de descobrir que o mundo ficou mau
É só não permitir que a maldade do mundo
Te pareça normal
Pra não perder a magia de acreditar
Na felicidade real
E entender que ela mora no caminho
E não no final

Lia era aquela criança incrivelmente maravilhosa que por onde passa todos a elogiam tanto pela beleza quanto pelo pouco carisma que está criando, e saber que está crescendo sem a parte materna ao lado pra ensinar e encorajar como eu tive me parte o coração, me dói porque por pior que possa ser esse meu maluco desejo, eu queria ser a mãe dela.

É que a gente quer crescer
E, quando cresce, quer voltar do início
Porque um joelho ralado
Dói bem menos que um coração partido

Olhar pra ela todos os dias, cuidar, dar banho, alimentar, passear, brincar, fazê-la dormir e vê-la crescer está sendo incrível pra mim, uma experiência maravilhosa, mas agora depois dela me chamar de mãe parece que me falta algo sabe?

É que a gente quer crescer
E, quando cresce, quer voltar do início
Porque um joelho ralado
Dói bem menos que um coração partido

── Como eu gostaria de dizer que você é minha filha, porque amar você eu já amo, minha bolinha ── beijo seu rostinho a fazendo gargalhar o que me faz sorrir.

Era uma vez!

── Então diga se essa é sua vontade. ── olho pra porta assustada e vejo Mike nos encarando e sorrindo de lado, o vejo se aproximar da cama em que estava junto de Amélia e se sentar ── Sei que é uma responsabilidade grande Nicolle, mas se quiser a chame, vais ter mais responsabilidade ainda que uma babá, porque aí você deixará de ser uma, para ser mãe ── sorrio de lado e olho Lia que nos encarava sem entender nada.

── Mama ── encaro Amélia e sorrio sentindo meus olhos marejarem.

── Minha filha ── digo baixinho para que só nós duas ouvíssemos e vejo Amélia dar risada e me puxar e morder minha bochecha.

É no fim das contas eu era a mãe dela, e apesar disso nunca ter passado pela minha cabeça, ser mãe era uma coisa ótima, o sentimento era incrível, e ter alguém pela qual você dá o mundo é ainda mais gratificante.