Quem sou eu?

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Observava atentamente minha mulher sentada na poltrona, usava um óculos que escorregavam pelo seu nariz fino, enquanto seus dedos escorregavam a pagina de uma revista. Se ela fosse um pintura seria a mais bela, volta e meia olhava para o relógio, estava um pouco agitada. Ansiosa. Hoje fora o primeiro dia de Laura na creche depois de quase um ano de relutância. O sol se guardava, e pela janela uma luz natural iluminava seus cabelos escuros e ondulados.
Em minha cabeça eu queria conforta-la, dizer que Laura estava bem, mas não tenho certeza do que eu diria preferia o silencio.
E naquele silencio a campainha tocou, ela se levantou correndo e saiu as pressas. Eu não me agitei mas aqui dentro houve uma instabilidade será que era a noticia de algo ruim?
Hoje era meu dia de folga. Não demorou muito para eu escutar um papear de vozes em seguida Sabrina entrou acompanhada de Andrey.
Ai esta algo que eu evitava há um mês, desde o aniversário de Laura. Eu não o olhava, ele não me olhava, não nos cumprimentávamos, não nos falávamos. Parecíamos dois cães raivosos.
Mas na frente da Sabrina disfarçávamos os olhares etérico, e sorriámos fingindo estarmos nos cumprimentando como se tivéssemos alguma familiaridade.
Eu sentia um aperto duído no peito durante suas visitas. Um certo nervosismo. E em minha cabeça passava-se a seguintes perguntas: é possível amar duas vezes na mesma capacidade?  É possível se apaixonar já estando apaixonado por outro?
Não que eu estivesse, eu acho, na verdade aqui dentro estava tudo bagunçado desde que houve um floreio de sentimentos por Andrey.
Minha mulher entrou conversando e se sentou ao meu lado, tirou os óculos, a mão dela repousou sobre minha coxa e Andrey olhou aquele ato com anseio. Eu senti seu olhar, era vez dele de estar sobre a poltrona sentado. Mas dessa vez eu não o observava, observava a televisão no mudo, sim eu não estava assistindo antes e a televisão no mudo permitia que a leitura de Sabrina fluísse.
Eles conversaram sobre a Laura, depois Andrey falou de problemas no bar, e depois das contas caras. Eu não me meti no assunto, e quando me olhavam eu só resmungava um: Hmm, uhum, éér, tá...
E nesse meio tempo retornei o volume da televisao no baixo para ficar concentrado somente nela. Mas agora algo acabara de tirar minha concentração.
"Andrey fica ai só um minuto vou buscar a Laurinha, eu volto em 20 minutos talvez, coisa rápida"
Laura sairia as seis da tarde, e a ansiedade de Sabrina fez c que ela me abandonasse com Andrey meia hora antes das seis.

Após ela sair me senti como um animal indefeso e coagido. Em silencio querendo entrar no sofá e sumir, me camuflar, eu olhava a televisão e Andrey me encarava eu o via de soslaio ele estava totalmente sem jeito.

— Hã... Acho melhor eu ir... Depois volto — disse ele

Dei os ombros. Ele sabia a onde ficava a porta. Ele se levantou... Caminhou. Então pronunciamos em uníssono.

— Escuta...

Paramos a fala e nos encaramos por meio segundo e me levantei.

— Quando vai contar a ela?

— O que, e estragar meu casamento?

— Não estou falando da gente, estou falando de você.

— Já disse que não sou isso...

Ele tossiu um riso.

— Quer saber eu não tenho nada a ver com isso, eu só acho que você deveria se libertar entende?

— Eu to bem assim!

— Como um cão amestrado? Entendo.

— Isso não te diz respeito Andrey.

— Eu acho que não ha traição pior que a consigo mesmo.

— Já disse que isso não te diz respeito — endureci a voz

Ele ficou quieto por alguns segundos.

— Eu pensei que ia esquecer você mas você não sai da minha cabeça as vezes Joca. Eu juro que tento, mas essa distancia toda só tem me feito gostar mais de você, por que a gente sempre gosta daquilo que maltrata e tortura a gente?

Dei os ombros ele não me olhava, ele olhava para baixo.

— Eu acho tudo injusto, essa prisão que você criou em si, essa nossa traição com Sabrina, faz de nós dois errantes. É tao errado. Estamos todos vulneráveis nesse historia.

— Eu não vou largar minha familia para ficar com você.

— Não to dizendo para fazer isso. Na verdade eu nem sei por que estamos tendo essa conversa, eu queria poder ignora-lo ainda mais.

Ele parecia o bicho assustado agora. E eu o olhava com um olhar culposo.
Havia algo que estava acontecendo com ambos de nós. Na verdade em todos nós, meu casamento estava em uma tremenda crise, Sabrina e eu só brigavámos, e eu não sabia mais quem eu era ou quem deveria ser. Me sentia o pior ser humano, um traidor, o lobo e não o cordeiro. Enquanto eu olhava o roda pé frustradamente a porta bateu e Andrey havia saido. Rapidamente corri até a porta abrindo a mesma.

— Como você sabia?

Falei e ele estava de costas. Parou girou em minha direção me encarando.

— De novo essa pergunta?

— Por que eu tenho que descobrir quem sou tão velho, pois não sou mais um adolescente. Por quê? Como você soube?

Ele deu um pequeno riso acanhado.

— É por que vivemos no mundo em que ser quem você é, é sempre um erro. E as vezes não reconhecemos que o mundo está errado a respeito de ser quem somos.

Fiquei em silêncio. E como se ele desse um novo triunfo ele saiu e notei ele limpar os olhos na camisa enquanto caminhava até o portão. Ele foi embora. E eu fiquei lá parado mais uma vez perdido e novamente sem saber quem eu era.

Antes que AmanheçaOnde histórias criam vida. Descubra agora